16/05/2013

International Higher Education

Finalmente uma política de internacionalização para o Canadá

Roopa Desai Trilokekar e Glen A. Jones

Roopa Desai Trilokekar é professora assistente da Faculdade de Pedagogia da Universidade de York, Toronto, Canadá. E-mail: roopat@edu.yorku.ca.

Glen A. Jones é Diretor de Pesquisa de Ontário em Políticas e Avaliação do Ensino Pós-Secundário e professor de Ensino Superior no Instituto Ontário para Estudo em Pedagogia da Universidade de Toronto. E-mail: gjones@oise.utoronto.ca.
O Canadá não tem um ministério nacional da educação, em uma política nacional para o ensino superior e nem uma estratégia nacional para o ensino internacional. Tentativas anteriores de desenvolver uma estratégia nacional de ensino para o Canadá fracassaram, sob uma provisão federal de acordo com a qual os governos das províncias defendem com tenacidade sua responsabilidade constitucional pelo ensino - enquanto o governo federal mantém a responsabilidade pelas relações internacionais. Dado tal contexto, o anúncio feito em 2011 pelo governo federal canadense - destinando CA$ 10 milhões para o desenvolvimento e lançamento da primeira estratégia canadense para o ensino internacional - foi um passo ousado na tentativa de reunir os diferentes envolvidos no estabelecimento de um rumo comum.
 
A necessidade de uma estratégia nacional
Uma abordagem estratégica para o ensino internacional é crucial para se chegar à prosperidade nacional em meio à acirrada concorrência de uma economia global do conhecimento. O ensino internacional é agora intrinsecamente ligado não apenas à política externa de um país como também a outras políticas nacionais - como o comércio, desenvolvimento econômico, trabalho, imigração, inovação e pesquisa. Assim sendo, a ausência de uma política nacional no Canadá levou a uma abordagem fragmentada e descoordenada, e o Canadá tem apenas uma pequena parcela do mercado global do ensino superior. O país atrai 5% de todos os estudantes terciários que procuram o exterior, fatia muito menor do que a de outros dos principais destinos de estudantes, como Estados Unidos, Grã-Bretanha, Austrália, Alemanha e França.
 
Nova abordagem
Os ministérios do comércio exterior e das finanças anunciaram conjuntamente a formação de uma comissão formada por seis especialistas, cuja função seria fazer recomendações para o desenvolvimento e implementação de uma estratégia voltada para o ensino internacional. A comissão submeteu seu relatório ao governo no dia 14 de agosto de 2012, após um extensivo processo de consulta em três frentes com vários grupos envolvidos. O relatório International Education: A Key Driver of Canada’s Future Prosperity é extenso e abrangente, oferecendo um total de 14 recomendações organizadas em torno de cinco temas principais: metas para o sucesso; coordenação de políticas para garantir uma qualidade sustentável; promoção do ensino no Canadá; investimentos, infraestrutura e apoio.
 
Um dos traços mais notáveis deste relatório está no fato de ele definir o ensino internacional principalmente como mobilidade dos estudantes, transmitindo uma enfática mensagem segundo a qual esta mobilidade não deve ser de mão única. Um foco central da estratégia é ao mesmo tempo atrair os mais talentosos por meio do recrutamento dos melhores e mais brilhantes estudantes de graduação e pós-graduação, e incentivar os estudantes canadenses a procurarem o exterior para desenvolver uma perspectiva global. A comissão conselheira ouviu obviamente uma ampla gama de organizações envolvidas que defenderam uma abordagem equilibrada, recomendando que o Canadá envie para o exterior 50.000 estudantes por ano - por meio de um programa de mobilidade internacional cofinanciado pelos governos provinciais e federal, bem como pelas instituições acadêmicas.
 
Mas a maior parte do relatório se concentra no recrutamento e retenção dos estudantes internacionais, ênfase pouco surpreendente se levarmos em consideração a renda potencial associada à expansão do mercado canadense. O relatório recomenda que o Canadá dobre a entrada de estudantes em tempo integral, levando os 239.131 recebidos em 2011 para mais de 450.000 até 2022, com um aumento anual de 10%. De acordo com este plano, os estudantes internacionais representariam 17,3% do total de matrículas pós-secundárias no Canadá até 2020. Esta meta parece modesta e possível de ser atingida, levando-se em consideração o crescimento nas matrículas internacionais no decorrer da última década, para o qual foi mínimo o apoio e a coordenação oferecidos pelo governo. O impacto econômico do recrutamento de estudantes internacionais é enfatizado ao longo de todo o relatório.O ensino internacional é valorizado enquanto atividade econômica, mas também é visto como uma importante “fonte” para as necessidades do mercado de trabalho canadense. Levando-se em consideração a baixa taxa de natalidade do Canadá, o desenvolvimento econômico futuro depende da imigração, e os estudantes internacionais de hoje podem muito bem se tornar os cidadãos de alta escolaridade de amanhã.
 
Mudanças no contexto das políticas
Por mais que o relatório esteja em sintonia com as tendências globais, chama a atenção a mudança na posição do Canadá em termos das relações de poder brando. O Canadá certa vez distinguiu-se como potência intermediária não-colonial - estabelecendo a assistência internacional ao desenvolvimento como um componente central de sua política externa. Por meio do estabelecimento da Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional, o Canadá esteve entre os mais generosos doadores entre os países industrializados. Hoje, a estratégia nacional proposta identifica o Departamento de Assuntos Estrangeiros e Comércio Exterior como líder nacional da nova estratégia, ao mesmo tempo fazendo uma breve referência a esta agência. Trata-se de algo realmente indicativo das mudanças no contexto das políticas do país. O Canadá agora enxerga o ensino internacional como um benefício para seu comércio e economia. Além disso, busca posicionar-se de maneira competitiva em relação aos demais países e almeja assumir uma posição de liderança para atrair ao Canadá os mais talentosos. O relatório recomenda um expressivo investimento em bolsas de estudos competitivas para estudantes internacionais de graduação e pós-graduação, um passo positivo no sentido de atrair os melhores e os mais brilhantes. Entretanto, trata-se de uma abordagem que pouco tem a ver com programas canadenses anteriores de bolsas de estudos destinados a estudantes de países em desenvolvimento.
 
Qual será o futuro desta estratégia?
Levando-se em consideração as provisões do governo federal canadense, a questão da coordenação é chave para qualquer tentativa de implementação de uma política nacional, e este é o principal ponto fraco do relatório. Embora o texto dedique atenção considerável à coordenação, a força tarefa parece lidar com a questão por meio da criação de um Conselho de Ensino Internacional e Pesquisa para orientar as políticas dos diferentes ministérios federais. O novo conselho incluiria um presidente, 3 vice-ministros representantes dos departamentos do governo federal, e 2 vice-ministros como representantes dos governos provinciais. A estrutura afirma a importância da liderança do governo federal nesta área das políticas públicas, mas é difícil imaginar as províncias concordando em participar de uma organização que não inclua representantes de todos os 10 ministérios provinciais da educação, vários dos quais já contam com estratégias para suas províncias. O Canadá está de fato diante de uma “janela de oportunidade” para aumentar sua participação no ensino internacional. Entretanto, seu futuro depende da abordagem do governo federal para o fomento de parcerias significativas com as províncias, garantindo seu compromisso com uma estratégia nacional coordenada. Será que o governo federal e as províncias estabelecerão um compromisso suficientemente sólido para trabalhar contra as tensões entre diferentes jurisdições inerentes ao sistema canadense, extremamente descentralizado? Até o momento, não houve resposta oficial do governo às orientações contidas no relatório.