Existe na Ásia uma comunidade de pesquisa em ensino superior?

A pesquisa envolvendo universidades e o ensino superior tem se expandido mundialmente nas últimas décadas, mas informações a respeito da pesquisa em ensino superior na Ásia enquanto área do conhecimento são escassas. Ainda que pequena, essa área pode ilustrar algumas das tendências chave no desenvolvimento de pesquisa na Ásia. Nesse contexto, analisamos a comunidade de pesquisa em ensino superior na Ásia, incluindo sua evolução, polos de conhecimento, e colaborações com a análise de todos os artigos publicados por autores de filiação asiática em 38 revistas acadêmicas do ensino superior entre 1980 e 2012 (num total de 514 artigos).

 

De acordo com nossas descobertas, a pesquisa em ensino superior na Ásia tem crescido em volume: o número de publicações em revistas do ensino superior no mercado asiático aumentou em mais de três vezes entre os períodos de 1997-2001 e 2007-2011. Entretanto, em termos relativos, a intensidade de pesquisa das pesquisas com sede na Ásia continua a evoluir lentamente, não sendo muito diferente em 2007-2011 do que era em 1997-2001 (5-7% das pesquisas mundiais em ensino superior). Isto indica que a pesquisa em ensino superior na Ásia se encontra num estado relativamente latente, acompanhando a tendência geral de crescimento no número de publicações mundiais a respeito da pesquisa em ensino superior.

 

Concentração e limitação

Ao analisar o setor das pesquisas em ensino superior na Ásia, várias diferenças podem ser observadas entre os países. Os 11 países asiáticos que tiveram pelo menos 10 publicações no período de 1980-2012 - Hong Kong, Japão, Malásia, Taiwan, China, Cingapura, Índia, Coreia do Sul, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita - respondem por 90% de todos os artigos publicados na Ásia em revistas acadêmicas internacionais voltadas para o ensino superior. Mas há diferenças substanciais entre esses países. Os pesquisadores do ensino superior residentes em Hong Kong publicam quase duas vezes mais artigos do que aqueles residentes no Japão, segundo colocado em termos de países com a maior produção, e mais de cinco vezes mais artigos do que a Coreia do Sul, que ocupa a oitava posição. Por outro lado, alguns países da Ásia não tinham nem sequer uma única publicação, em sua maioria países da Ásia Central. A mais alta concentração deste dinamismo está na Ásia Oriental, que responde por 50% de todas as publicações asiáticas. Isto destaca disparidades significativas, em termos do desenvolvimento do ensino superior na Ásia, nos níveis regional e nacional.

 

Os baixos níveis de colaboração entre os países asiáticos também foram identificados na nossa pesquisa, indicando um baixo nível de integração regional nas pesquisas em ensino superior. A internacionalização dos estudiosos asiáticos do ensino superior pende muito para os países de língua inglesa, especialmente Estados Unidos e Austrália. O papel desempenhado por esses países ao reunir pesquisadores asiáticos do ensino superior para que estes colaborem uns com os outros é desproporcionalmente alto - funcionando como nódulos de pesquisa para os pesquisadores asiáticos do ensino superior. Os estudiosos asiáticos se comunicam entre si por meio das universidades americanas muito mais do que o fazem diretamente ou por meio de outras universidades asiáticas. A colaboração com outras regiões do mundo, como América do Sul e África, é praticamente inexistente. Um resultado surpreendente, dado que se esperava encontrar colaborações ao menos com os países sul-americanos beneficiados pelas diásporas asiáticas.

 

Poucos estudiosos de poucas instituições

Conforme a análise era desenvolvida, chamou nossa atenção o fato de poucas universidades na Ásia terem um fluxo frequente de publicações em pesquisa do ensino superior, com um grande número de universidades respondendo por apenas uma ou duas publicações. Nas últimas três décadas, das universidades asiáticas que tiveram publicações, 66% tinham apenas um artigo publicado, e 15% tinham apenas dois artigos. Isso destacou de maneira inequívoca a infrequente participação da maioria das universidades asiáticas nas pesquisas envolvendo o ensino superior. na verdade, apenas nove (3%) universidades asiáticas tiveram 10 ou mais artigos publicados em revistas acadêmicas do ensino superior, desde 1980 até os dias de hoje.

 

Ainda mais surpreendente, o peso de alguns estudiosos individuais nas publicações dessas universidades asiáticas se tornou evidente. Em quatro dessas nove universidades, 30% a 60% de todas as publicações de pesquisa em ensino superior eram fruto do trabalho de um único acadêmico. A importância individual destes acadêmicos é tamanha que, num caso, a transferência de um único acadêmico de uma universidade para a outra fez com que o número de publicações em pesquisa do ensino superior caísse na primeira e aumentasse substancialmente na segunda.

 

Conclusão

A comunidade de pesquisa em ensino superior na Ásia se encontra em estágio embrionário de desenvolvimento, concentrada principalmente no Leste Asiático. Ela é um pouco dispersa, pouco articulada regionalmente, e depende de elos com regiões mais distantes do mundo, especialmente os países de língua inglesa. A descoberta sublinhou a massa crítica ainda relativamente baixa de estudiosos do ensino superior na Ásia e a necessidade de incentivos para estabelecer a pesquisa em ensino superior nas universidades. Esses incentivos não devem ser impulsionados apenas por políticas públicas, mas também por universidades asiáticas que tenham muito a ganhar com o aprendizado de práticas melhores de gestão e de maneiras de contribuir com o desenvolvimento das sociedades asiáticas.

 

Este artigo tem como base “Higher Education Research in Asia: A Publication and Co Publication Analysis”, aceito recentemente pela Higher Education Quarterly. Ver: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/hequ.12015/abstract.