10/04/2015

International Higher Education | 78

Envolvimento institucional na internacionalização do ensino superior: perspectivas do Cazaquistão

Aisli Li e Adil Ashirbekov
Aisi Li is pesquisadora de pós-doutorado na Escola Superior de Educação, Nazarbayev University, Astana, Cazaquistão. E-mail: li.aisi@nu.edu.kz. Adil Ashirbekov é pesquisador júnior na mesma instituição. E-mail: aashirbekov@nu.edu.kz
A internacionalização tem se tornado cada vez mais importante nas estratégias nacionais e de desenvolvimento do ensino superior institucional. O Cazaquistão não é uma exceção: desde a década de 1990, o país entrou em um período de reforma, com a internacionalização representando um componente vital deste processo. Em 2010, o Cazaquistão se tornou membro titular do pocesso de Bolonha, sinalizando assim uma nova fase de seu sistema de ensino superior. Estes novos processos de desenvolvimento iniciaram do topo e não foram necessariamente recebidos em nível institucional de braços abertos. Vários desafios tem surgido nos últimos anos, desde falta de capacidade em instituições individuais até a disjunção de estratégias em niveis nacional e institucional. 
 
A fim de produzir compressão no nível de envolvimento das instituições individuais com a internacionalização do ensino superior no Cazaquistão, a Escola de Educação Superior da Universidade de Nazarbayev está conduzindo um projeto de pesquisa de três anos, financiado pelo Ministério de Educação e Ciências da República do Cazaquistão (MoES). Embora o projeto esteja apenas em seu primeiro ano, as conclusões iniciais são indicadoras de várias questões fundamentais para a internacionalização do setor de ensino superior do Cazaquistão.
 
Quantidade sobre a qualidade
As reformas demandam resultados, porém a forma como mensurá-los muitas vezes não está clara. Semelhantemente, o modo de avaliação do grau de internacionalização e seu sucesso (ou falha) apresenta uma questão complexa. Não é surpreendente que decisores políticos do Cazaquistão e lideranças institucionais têm optado por quantificar estatisticamente os resultados da internacionalização, pois se presume que estatísticas forneçam respostas sólidas no que diz respeito à auditoria.
 
A mobilidade estudantil e docente está no centro da estratégia de internacionalização do Cazaquistão, com uma media nacional de 20 por cento dos estudantes em mobilidade até 2020, conforme articulado na estratégia para mobilidade acadêmica na República do Cazaquistão para o período de 2012-2020 e apoiado financeiramente pelo sistema de bolsas para mobilidade acadêmica do país. Contudo, na realidade, as diferentes partes podem interpretar a mobilidade de maneira diferente. Conforme assinalado por um líder universitário sênior, viajar para o exterior está sempre vinculado a turismo não com adquirir conhecimento e habilidades. Além disso, foi previamente descoberto que algumas universidades usavam fundos do governo para enviar estudantes ao exterior meramente para cursos de idiomas ou visitas ao campus e apenas para preencher a cota ministerial da mobilidade estudantil. O governo do Cazaquistão aprendeu sua lição disso e subsequentemente criou o Centro de Programas Internacionais para o monitoramento e controle de qualidade dessas bolsas de estudo.
 
Além disso, a maioria dos entrevistados dos departamentos internacionais citaram o número de parcerias internacionais e membros docentes estrangeiros como exemplos de internacionalização em suas instituições. Contudo, nossas entrevistas com os reitores das universidades mostraram que nem todos os acordos foram executados, e muitos deles permanecem pendentes, sem um roteiro claro. Por mais impressionantes que pareçam os números, o impacto real de tais fatores permanecem desconhecidos.
 
Centralizar ou não centralizar
No Cazaquistão, a pressão para internacionalizar vem do topo. Durante nossas entrevistas, os líderes universitários reclamam sobre as restrições impostas pelo governo às práticas de internacionalização, centralização de orçamentos, prazos e objetivos. Culpam a pouca cooperação do ministério por obstruir projetos internacionais, assim como a falta de autonomia. Paradoxalmente, estes mesmos líderes que clamam por mais autonomia também criticam o governo por não fornecer orientações passo a passo para a implementação das estratégias de internacionalização. Assim, ao mesmo tempo em que exigem autonomia do governo, as instituições do ensino superior habitualmente buscam no topo a regulamentação abrangente e direcionamento.
 
Falta de profissionais qualificados
Intimamente relacionada à dependencia na orientação governamental encontra-se a falta de profissionais qualificados de internacionalização nas instituições de ensino superior. Nossa pesquisa demonstra que embora a maioria das universidades tenha departamentos dedicados a internacionalização, falta a algumas profissionais especializados em atividades internacionais, e alguns departamentos internacionais de algumas universidades não possui as habilidades necessárias para iniciar ou manter a cooperação internacional. Até mesmo atividades comuns, vitais para o desempenho de suas principais tarefas, como redigir um e-mail formal em inglês, apresenta obstáculos para muitos departamentos internacionais. É evidente que mais oportunidades de treinamento internamente se faz necessário para os funcionários nos departamentos de internacionalização.
 
Existem profissionais altamente qualificados no mercado de trabalho cazaque. Contudo, conforme respondido pelos entrevistados em nosso estudo, as instituições do ensino superior geralmente perdem na concorrência feroz com outros setores. As instituições regionais enfrentam uma situação até mais dramática no que tange aos recursos humanos. Um entrevistado mencionou que as instituições regionais não fornecem programas acadêmicos relacionados à internacionalização (ex: relações internacionais), assim limitando ainda mais o fornecimento de pessoas qualificadas no mercado de trabalho local. Juntamente com o fato de que os jovens tendem a buscar trabalho em áreas metropolitanas, como Astana e Almaty, as instituições regionais estão em desvantagens consideráveis no recrutamento de candidatos qualificados, capazes de promover a internacionalização.
 
A distância conta
A distância conta no que diz respeito às parcerias internacionais, pelo menos no caso do Cazaquistão. Nosso estudo demonstra que há uma separação das estratégias de internacionalização entre os níveis institucionais e governamentais. O governo se inclina expressamente para a Europa mais amplamente, conforme refletido na participação do Cazaquistão no processo de Bolonha. Embora os líderes de universidades tenham nos indicado que prefeririam idealmente estabelecer parcerias com instituições europeias ou americanas, também assinalam que a realidade atual é que a mobilidade estudantil e docente, assim como parcerias transfronteiras, concentram-se fortemente na Rússia, países pós-soviéticos e países vizinhos.
 
Ao mesmo tempo, as universidades do Cazaquistão estão cientes de sua vantagem comparativa na oferta de ensino superior entre os países da Ásia Central. Os entrevistados em nosso estudo mencionaram que o recrutamento de estudantes estrangeiros não deveria se focar exclusivamente nos países europeus. Ao invés disso, atenção deveria ser dada para atrair mais estudantes de países vizinhos. Se esta demanda institucional se enquadra na estratégia nacional, e conquista assim o apoio do governo, está por ver-se ainda.
 
A barreira da língua
A língua também pode criar a sensação de distância: pouca proficiência em línguas estrangeiras, particularmente em inglês é relatada como a principal barreira para a internacionalização. Os participantes em nosso estudo assinalam este fato com frequência como um obstáculo em vários níveis: por exemplo, a mobilidade estudantil e de docentes, colaboração de pesquisa e operações do departamento internacional. Esta constatação é extensiva à falta de disponibilidade de programas em língua inglesa nas instituições cazaques, assim como corpo docente qualificado. Em comparação, os entrevistados que relatam serem fluentes em línguas estrangeiras percebem isso como um ponto positivo para desenvolver parcerias internacionais. Os reitores dessas instituições atrasadas em línguas estrangeiras dizem que estão investindo em proficiência linguística como um passo importante para a internacionalização.
 
Diálogo aberto e cooperação
Os fatores acima certamente não cobrem cada aspecto do processo da internacionalização do ensino superior no Cazaquistão, e pesquisa futura em nosso projeto examinará esses elementos. Mesmo assim, alguém pode ver áreas fundamentais de desafios potenciais com os quais se deparam o governo cazaque e as instituições do ensino superior. Em primeiro lugar, há uma grande lacuna entre o Cazaquistão e os países mais desenvolvidos em se tratando de internacionalização. Segundo, há também uma lacuna em desenvolvimento dentro do país entre as instituições, particularmente entre as instituições metropolitanas e regionais. O governo Cazaque tem demonstrado sua ambição de internacionalizar as instituições do ensino superior, conforme evidenciado por suas politicas e apoio financeiro. As instituições do ensino superior estão também participando do processo. Contudo, existe a necessidade de um dialogo mais aberto e uma cooperação mais aprofundada entre o governo e as instituições no sentido de alinhar suas visões e construir mecanismos de apoio eficazes, a fim de avançar na internacionalização.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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