18/11/2014

International Higher Education | 76

Educação superior na Malásia e na Tailândia

Chiao-Ling e Chien David W. Chapman
Chiao-Ling Chien é pesquisador do Instituto para Estatísticas da Unesco em Montreal, Canadá. E-mail: cl.chien@unesco.org. Chapman é professor da cátedra Birkmaier de Liderança Educacional da Universidade de Minnesota. E-mail: chapm026@umn.edu. O relatório completo está disponível na Biblioteca do instituto: www.uis.unesco.org
Em toda a Ásia, as matrículas do ensino superior tiveram um crescimento explosivo ao longo das duas últimas décadas, passando de 20 milhões em 1980 para 84 milhões de estudantes em 2011. Para atender a esse crescimento de matrículas, os programas de pós-graduação tiveram de se expandir tanto para abastecer mais instrutores, como para atualizar a qualificação dos existentes, nos casos em que instrutores não qualificados foram contratados para ensinar em resposta ao crescente número de alunos. A expansão da pós-graduação se traduziu em resultados positivos. Nas Filipinas, em 2002, por exemplo, apenas cerca de 8% dos membros do corpo docente em instituições de ensino superior tinham doutorado, com outros 26% detendo o grau de mestrado. Em 2012, as participações aumentaram para 13% e 41%, respectivamente.
 
A partir das perspectivas de muitos governos, ampliar a pós-graduação tem atraente benefício secundário. Muitos governos veem as universidades como centros de pesquisa que trarão retornos econômicos positivos para o país. A pesquisa universitária normalmente é feita no nível de pós-graduação. Portanto, a expansão da pós-graduação é vista como um meio de aumentar a competitividade da economia do país.
 
O Ensino Superior na Ásia: Surgimento e aumento de sua expansão, recentemente publicado pelo Instituto de Estatística da UNESCO, analisa as dinâmicas associadas à expansão do ensino de pós-graduação, com foco particular em países de renda média do Sudeste Asiático. Incluído no relatório está um estudo de caso da Malásia e Tailândia, dirigido para detalhar as razões pelas quais os governos e as universidades vêm expandindo seus programas de pós-graduação e os impactos dessa expansão. O estudo de caso é baseado em entrevistas com administradores mais antigos e membros do corpo docente em universidades selecionadas de pesquisa pública, funcionários públicos do ministério da educação e organizações internacionais da região.
 
Resultados esperados
Na Malásia e na Tailândia os governos acreditam que investir em educação no nível de pós-graduação contribui para o desenvolvimento econômico nacional. A dinâmica dos entrevistados da Malásia é de que um investimento substancial na educação construirá uma força de trabalho educada. A evidência de uma força de trabalho educada atrairá investimentos internacionais, que irá impulsionar o desenvolvimento econômico nacional. Para este investimento em pós-graduação para produzir os resultados esperados, as melhores universidades não só precisam ser boas, como devem ser reconhecidas eficazes internacionalmente. A classificação internacional da universidade foi vista por muitos como uma forma de obter essa atenção e respeito internacional.
 
Universidades de pesquisa designadas
As recentes políticas que designam universidades de primeira linha como universidades de pesquisa e aumento dos recursos financeiros para as atividades de pesquisa universitária exemplificam o valor que os governos estão colocando na expansão da pós-graduação. Na Malásia, as matrículas nos cursos de pós-graduação aumentaram em 400% na última década, e este aumento reflete a alta prioridade do governo na oferta desses cursos. O governo pretende aumentar a capacidade de pesquisa nativa e reduzir a dependência de pesquisa industrial, realizada por empresas estrangeiras. Para dar suporte a essa prioridade, o governo tem sido generoso no fornecimento de insumos para o ensino de pós-graduação. Em 2008 e 2009, o governo designou cinco universidades de pesquisa, e essas universidades receberam um aumento de 70% em financiamento público, em comparação com o valor do ano anterior.
 
Da mesma forma, as matrículas em pós-graduação na Tailândia cresceram 300% em uma década. Uma das razões é a crença do governo de que a competitividade da Tailândia em pesquisa é um indicador significativo da produção e da qualidade dos recursos humanos do país. Para este fim, em 2009 o Ministério da Educação iniciou o Projeto Universidades Nacionais de Pesquisa com um adicional de 12 bilhões de baht (Us$37 milhões). Atualmente, nove universidades estão selecionadas neste projeto. Espera-se que essas universidades atinjam classificações das universidades mundiais mais altas.
 
Classificações universitárias
Tanto os oficiais do governo como o pessoal das universidades estão preocupados com a colocação de sua universidade na classificação internacional. Este pensamento pode ser resumido por uma analogia expressa por um entrevistado malásio: O desempenho do time de futebol de um país em uma competição internacional tende a ser a base sobre a qual os observadores julgam o valor do futebol do país todo. Se a seleção for bem, a presunção é de que há uma força de futebol mais ampla no país. Justo ou não, a imagem do país todo é geralmente baseada na percepção de alguns. É o mesmo no ensino superior. Os observadores internacionais julgam um sistema de ensino superior com base em importantes instituições de um país.
 
Na Tailândia, o pessoal da universidade teve uma visão um pouco mais benigna. Eles também procuraram altas classificações internacionais para suas universidades. No entanto, o custo da elevação de sua classificação poderia ficar no caminho de outros fins que eles valorizaram. As classificações são importantes, mas a relevância das universidades para a sociedade tailandesa também é importante.
 
Publicações como rota para altas classificações
Como a taxa de publicação é um ingrediente chave na maioria dos sistemas internacionais de classificação de universidades, forçar os membros da faculdade a publicar em revistas internacionais de alto nível foi visto como uma estratégia importante para elevadas classificações. Em universidades de pesquisa da Malásia, a pressão para publicar em revistas internacionais de alto nível é intensa. As universidades têm procurado aumentar a velocidade de publicação, modificando sistemas de responsabilidade e de incentivo. O governo, trabalhando através das universidades, introduziu um sistema de indicadores de desempenho que visa especificar o nível de produtividade – número de publicações, quantidade de ensino, subvenções e serviços públicos – esperado de cada membro do corpo docente.
 
As universidades de pesquisa na Tailândia também enfatizam publicações em revistas internacionais de alto nível, mas com mais nuances. Alguns membros do corpo docente estão preocupados que, se publicarem em revistas de alto nível no idioma Inglês, os resultados serão, em grande parte, inacessíveis à sociedade tailandesa como um todo, a maioria da qual não entende Inglês. Havia uma forte visão de que era importante para as universidades retribuir à sociedade tailandesa. Além disso, uma observação frequente foi a de que alguns membros do corpo docente podem sentir-se menos confortáveis escrevendo no idioma inglês no nível exigido para revistas internacionais de primeira linha.
 
Os alunos de pós-graduação são vistos como importantes contribuintes para publicações, seja ajudando na realização de pesquisas dos docentes, seja quando publicam parte dos requisitos de seu programa de graduação.
 
Na Malásia e na Tailândia os doutorandos de universidades seletivas são obrigados a publicar suas pesquisas em revistas como condição para a graduação. Percebendo que os alunos de pós-graduação são valiosos para ajudar suas instituições subirem na classificação, as universidades de pesquisa envolvidas neste estudo estão em processo de redução da sua matrícula de graduação, enquanto aumenta a suas matrículas de pós-graduação, com alvo na proporção de 1:1 de alunos de graduação para os pós-graduados.
 
Em resumo, tanto na Malásia como na Tailândia, o primeiro raciocínio para a expansão da pós-graduação foi o de fornecer pessoal instrutivo qualificado para atender à expansão da matrícula no nível de graduação. Em ambos os países, esse raciocínio foi eclipsado, em grande medida, pela visão de que a pós-graduação fomentaria o desenvolvimento econômico nacional. O foco no desenvolvimento econômico desencadeou grande ênfase em colocar as universidades em alta classificação internacional, o que levou a uma pressão por mais pesquisas. Essa pressão levou alguns membros do corpo docente a concentrar mais do seu tempo e energia em pesquisa, por vezes à custa do seu ensino. Em suma, “expandir” mudou a dinâmica da organização e da natureza do trabalho docente em aspectos importantes.