13/07/2015

International Higher Education | 80 | Especial 20 anos

É possível sustentar qualidade e massificação no ensino superior?

Marcelo Knobel
Professor no Instituto de Física Gleb Wataghin, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, SP, Brazil. knobel@ifi.unicamp.br
O ensino superior tem visto uma rápida expansão no número de matriculas ao longo dos últimos 40 anos. Este crescimento provavelmente continuará pelos próximos 20 anos, com previsões de 400 mil estudantes em 2030 (comparado com 100 milhões em 2000). É possível tornar essa massificação mais equitativa, e ao mesmo tempo assegurar os mínimos padrões de qualidade?
 
Diferentes países e regiões do mundo estão em diferentes estágios do desenvolvimento do ensino superior. As taxas brutas de matriculas dependem do grau de desenvolvimento econômico de uma nação, ambiente social, história e prioridades políticas. Enquanto muitos países ainda lutam para garantir acesso ao ensino superior a uma população predominantemente jovem, outros se deparam com os desafios de uma população em envelhecimento / ou a redução do apoio governamental.
 
No caso da América Latina, por exemplo, todos os países ainda lutam com a forte desigualdade social. O aumento da participação e obtenção de uma formação no nível superior não é apenas fundamental para uma evolução futura, mas também essencial para mobilidade social, particularmente para os grupos sub-representados — setores socioeconomicamente desfavorecidos, afrodescendentes, e povos indígenas. Registaram-se progressos na região em termos de matriculas, com um crescimento de 1.6 milhões de estudantes em 1970 para 20 milhões em 2009. A taxa de matricula bruta é de 30% na região, indicando que ainda há espaço para crescimento futuro. Além disso, o crescimento permanece desigual, principalmente favorecendo certos segmentos da população.  
 
A fonte de financiamento do ensino superior — das iniciativas governamentais, estudantes, e famílias, ou por parte dos segmentos para fins lucrativos tem forte influência na qualidade fornecida. Por exemplo, Há também preocupações quanto à qualidade do ensino superior, quando se concentra no retorno financeiro. Infelizmente, o apetite pelo retorno financeiro de curto prazo muitas vezes desvia a atenção do planejamento de longo prazo, levando a uma falta de investimento em infraestrutura, qualificação de docentes e estabilidade de programa, desta feita comprometendo a qualidade. Ademais, embora o setor para fins lucrativos tenha tido um importante papel na “absorção de demanda,” são muitas vezes concedidas a estas instituições uma margem muito alargada por parte das autoridades nacionais pela qualidade dos serviços que fornecem. 
 
Finalmente, a massificação inevitavelmente apresenta o desafio de ensinar um grupo mais diverso, aumentando assim a quota de estudantes com lacunas substanciais em suas formações educacionais anteriores. As instituições do ensino superior devem desenvolver programas específicos para garantir não apenas o acesso, mas o sucesso de cada estudante, reduzindo o insucesso e os índices de abandono. Isso deve ser feito sem comprometer a qualidade de um diploma ou título final concedido.
 
Os países devem desenvolver políticas que forneçam acesso à educação para os setores economicamente desfavorecidos; que estabeleçam e assegurem uma sólida garantia da qualidade e processos de monitoramento; e que criem uma estrutura que incentive a diversidade institucional e mecanismos de financiamentos equitativos e inovadores. É difícil imaginar uma solução abrangente, mas cada país em particular deverá tentar encontrar um equilíbrio entre financiamento, acesso e qualidade nesta complicada disputa. Uma solução sustentável e de longo prazo para o crescimento do setor do ensino superior é obrigatória para estabilidade econômica e social de qualquer nação.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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