28/08/2012

International Higher Education

Desafios do ensino superior na Romênia

Paul Serban Agachi
Agachi é presidente do Conselho Acadêmico da Universitatea Babes-Bolyai, Cluj, Romênia. E-mail: serban.agachi@ubbcluj.ro
Os romenos podem ser considerados parte da cultura do Mediterrâneo – com "valores distendidos" ["relaxed values", no original] em relação a tempo, precisão e trabalho duro, mas boas características de inventividade, flexibilidade de abordagem e adaptabilidade a ambientes adversos. Todas essas características nascem de uma forte herança do regime comunista de mais de 50 anos, um período no qual falsos valores foram promovidos em todos os campos; a falta de iniciativa e a desobediência oculta foram encorajadas. Eis os principais motivos pelos quais a Romênia encontra-se na situação presente.
 
Grandes mudanças ocorreram na Romênia a partir de 1990. A economia de mercado substituiu o modelo anterior, centralizado pelo Estado; o número de pequenos e médios empreendimentos aumentou de zero para quase 400 mil em 2010; a receita do setor exportador passou de US$ 10 bilhões por ano na década de 1980 para US$ 50 bilhões anuais em 2011; ocorreu também um tremendo avanço nas capacidades de comunicação; em se tratando da velocidade média das conexões com a internet, a Romênia é a primeira colocada na Europa e a quarta no mundo.
 
O setor do ensino superior
Depois da revolução de 1989, o panorama do ensino superior na Romênia mudou radicalmente: 70 novas universidades foram criadas e a população de estudantes aumentou quase 500% até 2009. A Romênia na verdade precisava e ainda precisa de uma força de trabalho muito mais qualificada do que antes para atender às expectativas de uma economia mais moderna – a parcela da força de trabalho com ensino superior passou de 5% em 1990 para 14% em 2010, sendo que na União Europeia essa fatia foi de 26% em 2010 e, nos Estados Unidos, 40%.
 
Os números que caracterizam o setor de ensino superior em 2009 são: 112 instituições (públicas e privadas, em proporção igual), 1.107.362 estudantes, sendo 3% de doutorado, e 31.964 professores universitários. O número de estudantes para cada 100 mil habitantes foi 5.151 em 2009, sendo 6.296 nos EUA, 6.599 na Rússia, 5.684 na Polônia e 3.525 na França. A proporção de alunos vindos de zonas rurais ou categorias desfavorecidas é de apenas 15%.
 
Com relação à qualidade do ensino superior romeno, todas as universidades afirmam em seus sites ter como missão o ensino de boa qualidade, a pesquisa em nível internacional e a prestação de serviços à sociedade. A abordagem estratégica é bastante nova, introduzida em 1998; e todas as novas instituições públicas e privadas desejavam imitar o mesmo comportamento – copiar os programas estratégicos das universidades de ponta.
 
A concorrência entre as universidades romenas é um conceito novo, desenvolvido sob as recentes circunstâncias do baixo financiamento, concorrência global e declínio demográfico. Recentemente, como consequência de uma nova lei nacional do ensino (2011), foi feita uma classificação separando as instituições romenas de ensino superior em três programas, de acordo com a intensidade de suas pesquisas: 12 universidades intensivas de pesquisa, 29 universidades de ensino e pesquisa e 61 universidades de ensino. A classificação expressa a intenção de redistribuir as dotações orçamentárias às universidades e possibilitar que ao menos duas delas possam atingir o nível mundial de excelência, sendo incluídas no ranking das 500 melhores. Há na Romênia quatro universidades que almejam a categoria de nível mundial (Universidade Alex­andru Ioan Cuza Iassy, Universidade Babes-Bolyai Cluj, Uni­versidade de Bucareste e Universidade Politécnica de Bucareste). Existem outras 30 a 35 instituições de boa qualidade, públicas e privadas, incluindo aquelas voltadas para as artes.
 
Crises contemporâneas
Os maiores problemas enfrentados pelo ensino superior na Romênia incluem a fraca qualificação do pessoal, decorrente da ausência de motivação financeira e concorrência real (60% das universidades fundadas depois de 1989 careceram de uma legislação adequada para o controle de qualidade e de políticas apropriadas de recursos humanos); a orientação dos professores, voltada mais para o acúmulo do que para a solução de problemas; a burocracia imposta pela legislação; corrupção; nepotismo; falta de transparência na gestão universitária; ausência dos canais apropriados e modalidades de comunicação dentro da comunidade acadêmica; falta de visão e liderança no comando das instituições de ensino superior; carência crônica de financiamento; e um fraco sistema eletivo para as principais posições dentro das universidades. É claro que nem todos esses problemas afetam todas as universidades romenas, mas alguns deles podem sem dúvida ser encontrados em qualquer instituição romena de ensino superior.
 
Além disso, a parcela do PIB destinada à educação foi anunciada como 6% nos pronunciamentos políticos, mas, na realidade, nunca ultrapassou os 3,5%. As dotações para pesquisa chegaram ao ápice de 0,79% do PIB em 2008, estimulando na época um clima ambicioso. Desde então, em decorrência da crise econômica, as dotações para a pesquisa caíram muito, chegando a 0,18% do PIB em 2009 e aumentando pouco desde então; no ensino, a dotação este ano é de 2,8% do PIB. A crise econômica trouxe para as universidades públicas um decréscimo de 25% no salário dos funcionários, a proibição de novas contratações de professores durante três anos e a queda dos investimentos, próximos do zero. A crise ocorre no ameaçador contexto de um recuo demográfico (decréscimo de 30% em 2013).
 
A polêmica nova lei do ensino, no Parlamento para deliberação, tenta solucionar esses problemas por meio de uma política rigorosa. A lei pretende proibir opiniões equivocadas dos legisladores [sic] e não apresenta um espírito pró-estímulos, limitando a autonomia universitária. É provável que a lei não tenha sucesso, por mais que solucionar os problemas do ensino superior romeno seja do interesse de todos.
 
Conclusão
A Romênia transformou radicalmente seu sistema político em 1990, induzindo transformações também no setor do ensino. A economia de mercado refletiu-se também no ensino superior – que se transformou numa indústria, bem como a tecnologia da informação e outros serviços. Enquanto a iniciativa privada formou uma transição intrépida, novas universidades foram abertas em meio a um contexto de legislação fraca quanto à qualidade do ensino.
 
O avanço mais importante é o aumento no número de estudantes (quase 5 vezes maior) e o crescimento da força de trabalho dotada de um diploma terciário (que passou de menos de 5% para 14%). A lei do ensino não discrimina as universidades em categorias com base na sua missão.
 
Apesar dos problemas, o sistema romeno de ensino superior está funcionando dentro de parâmetros bastante normais: 81% dos formados estão empregados, sendo que esta média é de 82% na União Europeia; três a quatro universidades são relacionadas em alguns rankings internacionais, nas categorias 600-1000. A infraestrutura (edifícios, equipamento de ensino e pesquisa) é competitiva e oferece condições decentes de aprendizado; a contribuição científica internacional aumentou em três vezes nos últimos anos.