25/04/2012

International Higher Education

De que tipo de conselho internacional as universidades precisam?

Philip G. Altbach e Jamil Salmi
Altbach é professor da Cátedra Monan e diretor do Center for International Higher Education do Boston College. E-mail: Altbach@bc.edu
Salmi é coordenador da rede de profissionais do ensino superior do Banco Mundial. E-mail: jsalmi@worldbank.org
International Higher EducationO mais recente acessório nas universidades de nível mundial, ou naquelas que aspiram ao status de universidade de nível mundial, é o grupo de consultoria internacional. A Universidade de Heidelberg, na Alemanha, conta com um grupo desse tipo, liderado por um ex vice chancellor de Oxford; a comissão da Escola Superior de Economia, em Moscou, é presidida por um economista americano ganhador do Prêmio Nobel; e várias universidades importantes da Arábia Saudita contam com comissões compostas por acadêmicos renomados e alguns executivos do setor empresarial. O lançamento de "Iniciativas de Excelência" nacionais em várias partes do mundo – China, França, Alemanha, Federação Russa, Espanha e Coreia do Sul, para citar apenas alguns países – tem sido frequentemente associado à criação de comissões consultivas desse tipo no nível institucional.
 
As dignas metas de tais comissões, que se reúnem ocasionalmente para analisar e avaliar os planos e o desempenho da instituição, incluem a apresentação de novas ideias e análises inspiradas na experiência de acadêmicos localizados além das fronteiras do país, principalmente no topo do ensino superior global, na esperança de ajudar a instituição a compreender a si mesma e aprimorar-se. Os membros das comissões mantêm um relacionamento contínuo com a universidade e, supostamente, também um compromisso com o seu bem-estar e aprimoramento. Eles podem ser convocados a oferecer conselhos ocasionais, geralmente em regime pro bono, sem remuneração.
 
Essas comissões também podem conferir mais prestígio à universidade. A presença de um distinto grupo de acadêmicos internacionalmente respeitados traz brilho – manter laços com um ganhador do Nobel é algo que ajuda, mesmo que seja num grupo de consultoria.
 
Tais comissões reúnem-se uma ou duas vezes por ano, habitualmente na universidade, e suas sessões costumam ser frequentadas pelos principais administradores da instituição. As sessões duram um ou dois dias e costumam incluir uma avaliação geral – não apenas do desempenho mais amplo da universidade e de seus planos, mas muitas vezes uma análise específica de um ou mais programas, departamentos ou iniciativas considerados merecedores de uma avaliação detalhada.
 
Quem integra essas comissões – e por quê?
Embora não tenha como base uma análise cuidadosa e sistemática de quem sejam os membros das comissões consultivas, existe a impressão de que a maioria delas é formada por acadêmicos de destaque e importantes líderes do empresariado, vindos de diferentes disciplinas e escolhidos nas melhores universidades do mundo – sendo predominante a participação de pessoas vindas das maiores universidades de língua inglesa. As ciências naturais e as ciências sociais "pesadas", como a Economia, parecem predominar. Talvez o maior número de membros das comissões seja formado por administradores de alto escalão das melhores universidades – presidentes em exercício ou recém-aposentados, vice chancellors, reitores e afins. Poucos membros parecem vir de universidades intermediárias ou de sistemas acadêmicos emergentes, e quase não há membros vindos de universidades do próprio país em questão. Um representante do empresariado, com frequência do setor de alta tecnologia, costuma ser incluído. Entre os membros das comissões, predominam os homens que exerceram cargos importantes. Os membros vindos do meio acadêmico costumam pertencer ao alto escalão administrativo.
 
Os membros das comissões consultivas costumam concentrar-se na oferta de serviços a colegas do exterior e de assistência a outras universidades. Muitos apreciam certa dose de turismo acadêmico, e alguns desejam aprender lições úteis a partir da universidade ou de seus colegas de comissão. Poucos encontram disponibilidade de tempo para se dedicar a tal empreendimento.
 
Os benefícios compensam os custos?
Por mais que não sejam uma parte grande do orçamento das universidades, as comissões consultivas internacionais representam custos consideráveis. Embora os membros normalmente trabalhem sem receber nenhuma remuneração significativa – com algumas exceções –, as despesas não são insignificantes. O custo direto costuma incluir passagens aéreas de primeira classe e outras despesas de viagem, além da hospedagem no período em que os membros da comissão encontram-se no campus. Os custos indiretos, muitas vezes tratados sem a devida atenção, não podem ser ignorados – incluindo o tempo que os membros de toda a equipe do alto escalão administrativo da universidade dedicam à participação nas reuniões, o considerável período de preparação do reitor e dos seus principais assessores, e as providências logísticas. Dois dias de reuniões de uma comissão consultiva internacional podem custar mais de US$ 100 mil.
 
Características de uma comissão eficaz
Além do compromisso com a universidade, deve-se cobrar dos membros que conheçam bem a instituição e os desafios enfrentados por ela. Para tanto, devem receber antecipadamente a documentação apropriada, preparando-se com considerável antecedência antes de participarem da reunião. Uma vantagem com a qual uma comissão desse tipo conta é a continuidade do seu relacionamento com a universidade, o que possibilita que a confiança e as ideias visionárias sejam construídas com o tempo. Os membros das comissões precisam de alguma experiência prática na instituição que os recebe – por meio do diálogo com professores, estudantes e outros dos principais envolvidos, além da interação com o alto escalão administrativo.
 
Os temas debatidos nas reuniões da comissão devem ser relevantes e condizentes com a experiência que seus membros têm a oferecer. Podem envolver a estratégia institucional de médio e longo prazo, propostas relacionadas a governança, a profissão acadêmica, novos planos curriculares, internacionalização e outros temas macro. Medidas administrativas detalhadas, políticas específicas para os funcionários – a promoção de acadêmicos, por exemplo – e outras decisões detalhadas envolvendo as esferas administrativa e acadêmica não estão entre as responsabilidades das comissões consultivas – embora as políticas envolvendo a promoção e a avaliação de acadêmicos possam estar.
 
As próprias reuniões devem ser cuidadosamente preparadas, havendo tempo suficiente para cada tema de modo que a discussão possa ser organizada com eficácia. Devem ser evitadas as apresentações prolongadas feitas por gestores da universidade. Um bom equilíbrio entre sessões informativas e sessões de debate aprofundado é muito importante.
 
Por mais que o tamanho do grupo universitário que participa da reunião deva ser pequeno o bastante para permitir debates produtivos, a contribuição do conselho consultivo pode ser mais útil quando somada a uma representação mais ampla da comunidade acadêmica. Membros de destaque no corpo docente e colegas menos graduados podem ser incluídos nas reuniões. É relevante que os debates sejam mantidos em caráter confidencial e, por isso, deve-se tomar cuidado na hora de escolher os participantes locais.
 
A universidade deve estar disposta a expor seus problemas e até suas crises, além de apresentar boas notícias e comentar seus feitos. A comissão consultiva não deve ser considerada um grupo de aprovação formal e burocrática, e sim parte da comunidade acadêmica.
 
Diferentemente de um conselho universitário formal, que exerce responsabilidades de supervisão estatutária que às vezes colocam líderes universitários e membros do conselho em posição de antagonismo, uma das principais vantagens de um conselho consultivo internacional reside no fato de este poder proporcionar uma plataforma mais inofensiva de avaliação do desempenho da universidade anfitriã, útil também no compartilhamento de experiências relevantes capazes de informar a estratégia da universidade, bem como seus novos projetos.
 
Conclusão
Membros diversos, vindos de fora, podem trazer uma perspectiva original, ajudar a fomentar a conscientização em relação aos novos desafios, oferecer conselhos relevantes com base numa longa experiência em diferentes instituições e talvez apresentar abordagens inovadoras derivadas de práticas internacionais elogiadas. O diálogo entre a comunidade universitária e os membros vindos de fora, que trazem seu conhecimento e simpatizam com a instituição, pode render ideias úteis. Além disso, não há nada errado nos ganhos que uma comissão consultiva internacional pode proporcionar em termos de prestígio.
 
capa da edição impressa nº 5 | abril de 2012