06/11/2012

International Higher Education

Crescimento das tecnologias de informação e comunicação nas universidades africanas

Sarah Hoosen e Neil Butcher
Sarah Hoosen, pesquisadora e diretora de projetos, realizou pesquisas na área de ensino e tecnologia
Em toda a África, o acesso às tecnologias de informação e comunicação (TIC) continua a melhorar conforme o custo da telecomunicação e dos dispositivos de acesso cai rapidamente. Corpos nacionais, regionais e continentais reconhecem o papel crítico que as TICs podem desempenhar no ensino superior do continente. Muitos países estão concentrados no desenvolvimento de políticas nacionais de TIC e planos de infraestrutura para sustentar seus esforços de desenvolvimento socioeconômico e as ramificações a eles associadas nas instituições africanas de ensino superior.
 
Um trabalho significativo foi realizado no nível institucional – por instituições e também por projetos financiados por doadores. Estabelecida em 2008, a Parceria pelo Ensino Superior, Iniciativa de Tecnologia do Ensino tem como objetivo apoiar a integração de TIC nas universidades africanas. As iniciativas de ensino e aprendizado são apoiadas e integram o uso da tecnologia e a promoção da criação colaborativa do conhecimento e sua disseminação. A política também se concentra em iniciar e sustentar projetos eficazes de tecnologia educacional envolvendo a natureza e a qualidade da experiência e do resultado da experiência de aprendizado dos estudantes. Sete instituições de seis países estão participando: a Universidade Makerere em Uganda, a Universidade de Dar Es Salaam na Tanzânia, as Universidades de Ibadan e Jos na Nigéria, a Universidade Kenyatta no Quênia, a Universidade Católica de Moçambique e a Universidade de Educação de Winneba, Gana. As experiências de administração desse projeto proporcionam uma ilustração do desenvolvimento das TICs nas universidades africanas.
 
Aprimorando o ensino e o aprendizado
No ensino superior africano, as TICs vêm sendo usadas para superar os desafios de ensino e aprendizado enfrentados nas salas de aula – incluindo as turmas grandes, a multiplicidade de idiomas falados, o desenvolvimento da alfabetização e a superação do abismo entre teoria e prática. A Universidade de Ibadan embarcou num projeto de desenvolvimento voltado para o incremento da capacidade dos acadêmicos de desenvolver e/ou buscar fontes de conteúdo digital, fazendo um uso eficaz do material no ensino e no aprendizado. A Universidade Makerere tem se envolvido no desenvolvimento de conteúdo eletrônico para cursos e iniciou um projeto de portfólios eletrônicos que busca introduzir esse tipo de material na avaliação.
 
Além disso, as universidades africanas estão usando cada vez mais sistemas de gestão do aprendizado para o estudo online, o misto e o monitorado. Assim sendo, as análises demonstraram que o investimento em sistemas de gestão do aprendizado, incluindo o desenvolvimento da capacidade dos docentes e dos estudantes de efetivamente usá-los com eficácia, é fundamental para o funcionamento do aprendizado eletrônico e misto. Entretanto, a auditoria destacou várias lacunas na capacidade das instituições participantes: carência de pessoal com as capacidades técnicas necessárias para a manutenção dos sistemas de TIC; número limitado de pessoas com experiência no uso da tecnologia para propósitos educacionais; alta dependência de metodologias educacionais voltadas para o conteúdo e organizadas de cima para baixo entre os funcionários acadêmicos; experiência limitada no planejamento de projetos, e assim por diante. Para reduzir o impacto desses problemas, o projeto incluiu uma série de exercícios contínuos de aprimoramento da capacidade, cujo foco é alterado conforme mudam as necessidades. Atividades iniciais de capacitação começaram num caráter bastante introdutório, mas logo avançaram para propostas mais avançadas – como o desenvolvimento de simulações, animações e materiais em vídeo, além de atribuir uma ênfase muito maior na melhoria da qualidade. Independentemente disso, permanece um desafio central na garantia da qualidade, pois é frequente a ausência de estruturas para a melhoria/garantia da qualidade no aprendizado eletrônico nas universidades africanas. Talvez uma forma de melhorar a qualidade seja a formação de redes entre pares.
 
Outros desafios
Uma das principais limitações na integração das TICs às atividades de ensino e aprendizado é a falta de incentivos institucionais para que a equipe acadêmica se envolva com a tecnologia de ensino – ou mesmo com a produção de experiências de ensino melhores para os estudantes – pois os acadêmicos são recompensados principalmente com base na publicação de pesquisas. Além disso, apesar da ênfase nas publicações e do destaque atribuído à documentação das iniciativas de tecnologia de ensino, a pesquisa não ganhou muita força nessa área. O projeto ilustrou a carência de capacidade para a implementação de pesquisas acadêmicas eficazes no campo do ensino eletrônico em muitas universidades africanas. Tal desafio pode estar ligado ao fato de os funcionários não terem muita experiência em pesquisa, à pouca importância atribuída à pesquisa em relação a outras demandas do trabalho ou ao interesse insuficiente na implementação do programa de pesquisa vislumbrado originalmente pelo projeto. Assim sendo, é necessário empreender esforços para desenvolver a capacidade de pesquisa no ensino eletrônico por meio da oferta de apoio e também da maior disponibilidade de tempo para que os acadêmicos se envolvam nas pesquisas.
 
A carência da infraestrutura de TIC continua sendo um grande obstáculo para o desenvolvimento da tecnologia com fins educacionais. Problemas básicos, como as limitações na banda de dados e as interrupções no fornecimento de eletricidade, impõem limitações significativas ao potencial de crescimento do aprendizado eletrônico nas universidades afetadas, com frequência prejudicando o trabalho de desenvolvimento, pesquisa e outras atividades relevantes. Independentemente disso, algumas melhorias parecem estar surgindo, principalmente no crescimento da conectividade no leste e no sul da África após a bem-sucedida instalação de cabos submarinos. Além disso, as crescentes evidências do uso correto das TICs no ensino superior africano são promissoras, podendo, com sorte, estimular governos, parceiros internacionais e as próprias instituições a seguir investindo no uso das TICs no ensino superior.