28/08/2012

International Higher Education

Contratação do corpo docente em países pós-soviéticos: características comuns, futuros diferentes

Gregory Androushchak e Maria Yudkevich
Androushchak é conselheiro do reitor da Universidade Nacional de Pesquisa - Escola Superior de Economia. E-mail: gandroushchak@gmail.com. Yudkevich é vice-reitora da mesma instituição. E-mail: yudkevich@hse.ru
Durante décadas, as universidades dos países soviéticos foram governadas, avaliadas e financiadas de acordo com os mesmos princípios. O sistema atual é diferente. Entretanto, a contratação do corpo docente – um elemento central em qualquer universidade – ainda tem muito em comum. Embora este artigo tome como base dados detalhados a respeito da profissão na Armênia, Cazaquistão, Letônia e Rússia, as tendências descritas são, até certo ponto, comuns a todos os países pós-soviéticos.
 
O que deve oferecer o corpo docente
Os contratos para os membros do corpo docente nos países pós-soviéticos refletem o fato de muitas universidades serem principalmente entidades educacionais, construídas em torno de processos de ensino e aprendizado. Por isso, os contratos do corpo docente costumam descrever de maneira mais ou menos explícita a carga de horas-aula e as obrigações do professor, e a maioria das atividades de orientação e dos relatórios se concentra em torno desses eixos contratuais. Ao mesmo tempo, o professorado em geral tem poucos incentivos e oportunidades de se envolver ativamente na pesquisa: a pesquisa é pouco recompensada e a carga de horas-aula é pesada. Enquanto fonte de renda, lecionar é muito mais relevante para os membros do corpo docente do que em outros países. Ao mesmo tempo, o corpo docente de muitos desses países (Rússia e Armênia, por exemplo) não participa das atividades consultivas, preferindo envolver-se em ocupações não acadêmicas.
 
Como são pagos os membros do corpo docente?
Comparados aos profissionais de fora das universidades, os professores universitários são relativamente mal pagos. Isso afeta tanto os cargos melhores (como professor-assistente e professor) quanto os piores (assistentes ou palestrantes). Na verdade, é comum o padrão segundo o qual acadêmicos recebem menos dinheiro e desfrutam de benefícios não monetários. Entretanto, mesmo levando isso em consideração, os salários do corpo docente nos países da ex-União Soviética são significativamente mais baixos do que os de outros países. Ao menos em parte, tais condições decorrem do fato de, em geral, tais países serem relativamente pobres se comparados aos da Europa Ocidental, aos Estados Unidos, Canadá ou Austrália. Tal explicação, entretanto, não revela o motivo pelo qual esses salários são equivalentes à metade da remuneração oferecida em outros lugares, mesmo quando calculados em relação ao Produto Interno Bruto per capita. Por sinal, na Nigéria, na Etiópia e na Índia, onde o PIB per capita também é baixo, o ganho relativo dos professores universitários é bastante considerável se comparado à renda do restante da população.
 
Fontes de renda
Como os salários são baixos e insuficientes para a manutenção de um padrão de vida normal, as jornadas duplas são comuns. Muitos professores lecionam em várias universidades diferentes (incluindo instituições particulares de fins lucrativos), oferecendo aulas particulares ou aceitando novas cargas de horas-aula com base no valor pago pelo contrato principal com a mesma universidade. Muitos professores usam a reputação universitária do seu principal empregador (uma posição cujo salário não consiste em muito dinheiro) para obter um contrato vantajoso numa universidade menos renomada, particular e com fins lucrativos, que oferece um bom dinheiro.
 
Muitos países pós-soviéticos desistiram dos exames de admissão específicos para a universidade, substituindo-os por sistemas de avaliação unificados criados pelo governo, que não tiveram continuidade de uma forma generalizada. Entretanto, ainda é grande a demanda por professores particulares, já que agora ajudam na preparação para tais exames unificados. Muitos dos inscritos, vindos de todos os grupos de renda, preferem recorrer às aulas preparatórias para melhorar suas chances de obter matrícula numa instituição melhor.
 
Benefícios periféricos: remuneração além do salário
Embora sob muitos aspectos os contratos oferecidos pelo ensino superior nos países pós-soviéticos sejam diferentes dos oferecidos nos países desenvolvidos, os benefícios periféricos no setor universitário são mais ou menos parecidos com os do restante do mundo. Os membros do corpo docente desfrutam de férias mais longas – o único momento de dedicação às pesquisas para aqueles que se veem sobrecarregados pelas aulas, mas não abrem mão das ambições de pesquisa – e fundos de aposentadoria. Todos os demais benefícios em potencial, como habitação ou crédito, são em geral difíceis de obter.
 
No período soviético, os professores universitários tinham acesso a muitos benefícios não monetários, algo impraticável para aqueles envolvidos na indústria, e gozavam também de um status social mais elevado do que outras categorias. Assim, naquela época a profissão acadêmica atraía os melhores jovens formados e era capaz de oferecer a eles uma remuneração relativamente boa, um elevado status social e benefícios secundários – bem como claras perspectivas de ascensão na carreira. Atualmente, as condições oferecidas aos profissionais universitários, especialmente aos mais jovens, provocam um grande efeito de rejeição: levam os pesquisadores de maior potencial a optar pelo trabalho não acadêmico ou a deixar o país para buscar trabalho em universidades de outras partes do mundo. A possibilidade de restaurar incentivos adequados e a identificação dos fatores que devem ser trabalhados para a implementação de uma política são questões fundamentais para a construção de universidades de nível mundial na Rússia.
 
Muitos países pós-soviéticos vivenciam um grande choque demográfico: o tamanho da geração que tem hoje de 16 a 19 anos, aqueles que nasceram no início da década de 1990, é muito pequeno, pois na época poucos tiveram coragem de ter filhos, e a taxa de natalidade foi baixíssima. Isso cria uma imensa concorrência no setor universitário, em busca de bons alunos – e também de não tão bons assim. Enquanto os administradores das universidades enfrentam essa fonte de inquietação, poderiam aproveitar a oportunidade de reformar o setor universitário, removendo as instituições mais frágeis e as fábricas baratas de diplomas. As reformas na contratação acadêmica capazes de criar mais incentivos para os professores e atrair um maior número de jovens para o setor do ensino superior são um ingrediente fundamental para o sucesso.