13/06/2013

International Higher Education

Concorrência por matrículas, credenciamento e mercados público e privado no México

Juan Carlos Silas Casillas
Professor da ITESO, Universidade Jesuíta de Guadalajara, México. E-mail: silasjc@iteso.mx
O IHE publica ocasionalmente artigos do PROHE, Programa de Pesquisas no Ensino Superior, cujo centro fica na Universidade de Albany. Ver http://www.albany.edu/
 
Depois de décadas nas quais o México apresentou um robusto crescimento privado e diversificação institucional, o novo século começou com mais complexidade. Padrões cambiantes entre o setor público e privado e dentro dos mesmos no ensino superior trouxeram entre outras coisas uma intensa concorrência de mercado no recrutamento de estudantes.
 
O credenciamento assumiu um papel de importância cada vez maior enquanto símbolo da legitimidade institucional, já que é uma tarefa que cabe a agências independentes que sublinham a coesão do curso ou a solidez da estrutura acadêmica com base nos processos pré-definidos. O credenciamento é visto como sinônimo de qualidade.
 
A batalha pela participação no mercado e o papel que corresponde ao credenciamento é travada ao longo de um espectro amplo do sistema – instituições públicas privadas de perfil intermediário. Tais instituições precisam lutar pelos estudantes que nelas se matriculam sob pressão cada vez mais intensa. Isto em geral deixa de lado as instituições de elite, para as quais a demanda é sempre alta, atraindo os candidatos mais privilegiados sem a necessidade de se legitimarem ainda mais. Além disso, instituições que "absorvem a demanda", que simplesmente dependem desta demanda, continuam a oferecer um ensino superior excelente; portanto, tais instituições precisam de pouco esforço para recrutar estudantes. Mas as instituições públicas e de perfil intermediário que precisam disputar os estudantes interessados constituem a parte principal do sistema. Tais matrículas são em geral provenientes da classe média baixa, muitas vezes de estudantes da primeira ou segunda geração, e quase sempre com a meta de entrar para o mercado de trabalho num nível elevado. Tanto as instituições privadas quanto as públicas disputam essencialmente o mesmo conjunto de estudantes.
 
Esta situação algo inesperada de intensa concorrência parece ter resultado de duas causas principais. Uma delas é a expansão dos esforços de controle de qualidade do Ministério da Educação. Como ocorreu em outros países, a preocupação com a observação de padrões mínimos de qualidade aumentou durante décadas em meio ao aumento acentuado no número de matrículas e à proliferação de cursos e instituições. O governo percebe que a dinâmica de mercado favorecida por ele exige regulamentação. A outra causa está no crescimento das expectativas impulsionadas pelo consumidor. Os frequentadores das faculdades e suas famílias percebem cada vez mais que não podem simplesmente depender de todas as instituições, que ofereceriam experiências de aprendizado e diplomas que produzissem os resultados esperados no mercado de trabalho cada vez mais competitivo. O credenciamento é uma resposta lógica às pressões vindas tanto do governo quanto dos estudantes interessados.
 
Um número imenso de opções de cursos
A crescente ansiedade do consumidor é exacerbada pela proliferação desenfreada de cursos. Não se trata apenas do número de cursos, mas da impossibilidade de estabelecer distinções entre alternativas cujo nome é essencialmente o mesmo. Basta ver os dados relativos às matrículas e aos cursos oferecidos em muitas áreas de licenciatura (o primeiro diploma universitário) para perceber que há na maioria das instituições públicas e privadas semelhanças no currículo e na forma de recrutamento, apesar das diferenças óbvias em seu financiamento e infraestrutura. Tais programas tendem a mirar no setor econômico dos serviços, com sua demanda cada vez maior por formandos treinados em universidades.
 
Pode parecer contrário à lógica que as universidades públicas disputem participação de mercado e pensem no recrutamento com base nas necessidades do mercado de trabalho. Afinal, a ideia tradicional no México e na América Latina é a de que as instituições deveriam treinar profissionais em áreas diversas do conhecimento e, assim, atender às necessidades da sociedade e do desenvolvimento nacional. A concorrência e a publicidade não eram essenciais em tal concepção. Por que as instituições públicas deveriam desperdiçar seu tempo criando novos e atraentes nomes para cursos tradicionais e se esforçar para apresentar seus cursos como inovadores em termos de conteúdo e técnica de ensino? Boa parte da resposta está na intensidade do desafio apresentado pelas instituições privadas de perfil intermediário. As universidades públicas não são recipientes relaxados de um conjunto de estudantes ansiosos e pouco questionadores. Instituições públicas de reputação sólida – como a ITSON, no estado de Sonora – colocam anúncios nos jornais; e a grande universidade estadual de Jalisco – Universidad de Guadalajara – mantém balcões de informações nos shopping centers. Não são apenas as instituições privadas e empreendedoras que distribuem "lembranças" nas feiras de recrutamento ou nos balcões nos shoppings.
 
Credenciamento e mercado
Tais ofertas de cursos e peças de divulgação publicitária são consideradas um exagero por muitos estudantes e suas famílias. A avalanche de informações causa confusão naqueles que buscam ansiosamente uma base racional para suas escolhas. Nesse ambiente, as famílias tomam decisões com base em três elementos (além da localização): (1) a imagem de mercado, material de divulgação, presença na mídia e outras manifestações do marketing; (2) preço, incluindo as ofertas especiais e os pagamentos parcelados ou mensais; e (3) o uso do credenciamento como sinal de qualidade e elemento de legitimação.
 
Esse terceiro elemento parece crucial no confuso cenário desde que o Ministério da Educação modificou seu papel, de provedor de acesso para o de avaliador, que condena o desempenho fraco e premia o bom desempenho. O ministério tem feito da qualidade sua principal meta, e o credenciamento tem sido usado como a maneira autêntica de provar que a qualidade foi alcançada (ou, ao menos, que a instituição está se esforçando para alcançá-la). É compreensível que as instituições privadas de perfil intermediário e também as públicas estejam envolvidas nesta "concorrência pelo credenciamento" - no caso das universidades públicas, para provar a continuidade do seu valor; no caso das privadas, a ideia é se mostrarem como uma opção confiável. As instituições de elite, concentradas nos estudantes privilegiados, também buscam o credenciamento, mas não por causa de suas estratégias de marketing; as instituições que absorvem a demanda não fazem (talvez por não poderem) do credenciamento um de seus principais objetivos.
 
O papel do credenciamento parece ser crucial para as instituições públicas e para as instituições privadas de perfil intermediário – não apenas para alcançarem níveis mais altos de desempenho, mas também para se apresentarem como legitimadas por uma autoridade externa. Mas o processo de credenciamento não envolve um caminho claro e único. Tanto as instituições quanto os programas podem buscar o credenciamento, concedido por diferentes autoridades: agências americanas de credenciamento, a federação nacional de instituições privadas, a associação natural das universidades, ou uma série de associações profissionais. Podem buscá-lo por meio de diferentes conjuntos de qualidades básicas, táticas de venda e persuasão, pela cópia de programas credenciados ou pela inovação. O que essas instituições não podem fazer é ignorar a pressão cada vez maior para venderem seus produtos num ambiente de mercado público-privado no qual a concorrência é cada vez mais acirrada.