10/10/2013

International Higher Education

Como será o ensino superior inglês em 2025

Jeroen Huisman, Harry de Boer e Paulo Charles Pimentel Bótas
Huisman é professor da Universidade de Bath, Grã-Bretanha. E-mail: j.huisman@bath.ac.uk. De Boer é pesquisador assistente sênior na Universidade de Twente, Holanda. E-mail: h.f.deboer@utwente.nl. Bótas é oficial de pesquisa na Universidade de Bath, Grã-Bretanha. E-mail: paulobotas@gmail.com. Para os interessados, os panoramas completos podem ser encontrados na Higher Education Quarterly 66 (4), 341-62.
Em 2009, o governo trabalhista pediu uma opinião independente acerca da direção futura do financiamento ao ensino superior na Inglaterra. A comissão Browne apresentou seu relatório, Garantindo um Futuro Sustentável para o Ensino Superior, em 2010. O novo governo - uma coalizão dos partidos Conservador e Liberal Democrata - adotou muitas das sugestões feitas pela comissão Browne, integrando-as ao seu livro branco de 2011 - "Estudantes no Coração do Sistema". Muitos observadores pensaram que as políticas propostas abalariam o sistema de ensino superior. O governo propôs, por exemplo, uma série de medidas que sem dúvida afetam os estudantes e as instituições do ensino superior. Os elementos chave do livro branco são que as instituições do ensino superior poderiam definir o nível das taxas de ensino cobradas entre os valores de £ 6.000 e £ 9.000, sendo que antes o valor era de £ 3.290. A bolsa de ensino - entregue às instituições de ensino superior com base no número de estudantes e nas disciplinas em que estes se matriculavam - desapareceria, tornando as instituições do ensino superior muito mais dependentes da renda proporcionada pelas taxas cobradas dos estudantes. Enquanto o número de vagas para estudantes se manteve mais ou menos igual (ou seja, vagas limitadas para estudantes domésticos por disciplina/curso nas instituições do ensino superior), o governo propôs tornar grande parte das vagas - cerca de um quarto delas - para estudantes disponíveis com base numa estrutura de concorrência, permitindo que as instituições deem lances pelas vagas.
 
Impacto
Os observadores temeram que a taxa de ensino (mais) alta afastasse os estudantes de se matricularem no ensino superior e que isto afetaria especialmente os estudantes provenientes de contextos de renda mais baixa, ameaçando assim o acesso ao ensino superior. Além disso, algumas instituições de ensino superior podem sair perdedoras num sistema mais competitivo; o maior sindicato do setor previu que cerca de um quarto das instituições do ensino superior teriam sua existência ameaçada. Foi também afirmado que as políticas criariam um novo sistema binário, pois as políticas poderiam funcionar bem para as instituições voltadas para a pesquisa, mas prejudicaria o desenvolvimento das instituições voltadas para o ensino.
 
Embora alguns dos impactos esperados tenham sido objeto de pesquisas e algumas evidências empíricas, é obviamente impossível prever totalmente os resultados da reforma nas políticas de ensino. Tendo em mente o título de uma influente obra sobre mudanças nas políticas - "Grandes Expectativas e Desempenho Misto" - a implementação real de uma política pode diferir de suas intenções originais. Ao mesmo tempo, mudanças socioeconômicas futuras vão continuar a ter impacto no sistema independentemente de uma reforma nas políticas, potencialmente interferindo com as intenções destas.
 
Estudo Delphi
Assim sendo, é relevante debater os desenvolvimentos potenciais, ainda que apenas para gerar uma discussão em relação ao tamanho e ao formato do sistema de ensino superior inglês e refletir sobre os possíveis resultados em termos de sua probabilidade e benefício. Criamos assim um estudo Delphi (sustentado por uma bolsa da Fundação Leadership para o Ensino Superior). No estudo Delphi, pediu-se a especialistas em ensino superior que refletissem sobre afirmações a respeito dos possíveis desenvolvimentos e situações em 2025 (por exemplo, "No ensino superior inglês de 2025, os provedores privados atenderão a 15% dos estudantes"). No nosso estudo, um total de 44 especialistas comentaram individualmente sobre o quanto determinados desenvolvimentos seriam possíveis e desejáveis até 2025 (foram apresentadas 21 afirmações). Na segunda rodada, 70% dos especialistas pensaram no conjunto completo de argumentações, afirmações e suposições apresentadas na primeira rodada. Um estudo Delphi pode envolver várias rodadas de reflexão (para se chegar a um consenso, por exemplo). Os dados das duas rodadas nos pareceram suficientemente ricos, e usamos argumentos de todo o espectro de dados para construir dois panoramas para o ensino superior inglês.
 
Panorama 1: retorno à divisão binária até 2025
O primeiro panorama parte da suposição de que os mecanismos de mercado introduzidos nas duas últimas décadas vão seguir coordenando o sistema. Isto implicará num sistema um pouco menor em 2025, em decorrência de fusões e do fato de certas instituições não sobreviverem às crises financeiras. As diferenças entre as universidades tradicionais e as antigas politécnicas aumentaria, e um novo limite binário viria à tona. O sistema de 2025 consistiria em cerca de 25 universidades de pesquisa e 70 outras instituições do ensino superior. O setor das instituições voltadas para a pesquisa é bastante homogêneo; e as instituições ainda aparecem bastante nas classificações globais, ainda que como decorrência do fato de concorrentes internacionais também terem sido afetados pela crise global. O setor não dedicado à pesquisa é bem mais diversificado, mas tem em comum o foco nos programas de graduação, embora haja bolsões de excelência em pesquisa. As instituições privadas (de fins lucrativos) terão entrado no mercado e haverá em 2025 um número substancial de universidades privadas de pequeno e médio porte.
 
Panorama 2: retorno da mão visível
Este panorama defende que a crítica cada vez mais acirrada ao fracasso dos mecanismos de mercado em atender às expectativas da sociedade levará a uma situação na qual o governo seria obrigado a intervir diretamente. Mais investimento e uma robusta supervisão governamental levariam em 2025 a um sistema de três níveis: seis universidades de pesquisa (as Super Seis seriam capazes de levar a cabo estratégias de excelência e fazer parte do restrito grupo das universidades de nível mundial) com taxas de ensino relativamente altas; cerca de 40 universidades abrangentes de missão ampla (as Grandes Universidades); e cinco universidades privadas (que enfrentam dificuldades com a busca dos estudantes pelo ensino público). O sistema é muito menor em decorrência de fusões regionais forçadas entre instituições abrangentes. Tais instituições prosperam em parte por causa da qualidade das redes e dos relacionamentos entre elas, somadas a uma forte liderança institucional e gestão.
 
Conclusão
Ambos os panoramas implicam numa mudança relativamente drástica no sistema inglês de ensino superior, comparável à abolição do sistema binário em 1992: o número de instituições vai mudar, assim como seus perfis (foco na pesquisa ou no ensino, instituições sem fins lucrativos versus instituições privadas). Haverá sérias implicações no acesso, financiamento e no controle de qualidade. Os panoramas contêm mais detalhes a respeito do ensino, do aprendizado e do corpo discente. É claro que em 2025 as previsões se mostrarão equivocadas, mas este não é o objetivo. Esperamos que nos anos seguintes os panoramas estimulem um debate acerca dos mundos possíveis que acadêmicos, gestores do ensino superior, responsáveis pelas políticas de ensino e estudantes desejariam habitar.