13/03/2014

International Higher Education

Como reforçar o ensino superior no Laos

Jane Knight
Knight é professora adjunta do Instituto para Estudos Pedagógicos de Ontário, Toronto, Canadá. E-mail: jane.knight@utoronto.ca
A internacionalização desempenha um papel fundamental na construção da capacidade universitária, especialmente nos países em desenvolvimento. No panorama atual do ensino superior - com a concorrência, a comercialização e o trabalho com a marca em posições centrais - a cooperação internacional no desenvolvimento é com frequência relegada a uma importância secundária. Redes de construção de status com parceiros de elite estão recebendo mais apoio e atenção do que as iniciativas de construção de capacidade com instituições de países em desenvolvimento.
 
É hora de enfatizar novamente a importância da internacionalização do ensino superior como processo de trabalho colaborativo em instituições do ensino superior recém-criadas nos países em desenvolvimento. Iniciativas deste tipo trazem benefícios mútuos e diferentes a todas as instituições parceiras e refletem a responsabilidade social e a solidariedade de universidades de mais experiência e tradição.
 
O sistema de ensino superior no Laos
A República Popular Democrática do Laos nos apresenta um excelente estudo de caso no qual a reforma do ensino superior é fundamental para o desenvolvimento nacional e, por sua vez, a cooperação acadêmica internacional é fundamental para a construção e o reforço do seu sistema de ensino superior. No Laos, cuja população total era de 6,6 milhões de habitantes em 2012, o setor do ensino superior público tem menos de 20 anos de existência e é formado por cinco universidades. A Universidade Nacional do Laos, localizada na capital, Vientiane, é a instituição principal, criada em 1996. Três universidades regionais foram fundadas na última década - Champasak (2002), Souphanouvong (2001) e Savannakhet (2009). Trata-se de instituições menores, que atendem às necessidades de sua população regional e da economia a ela ligada. A Universidade de Ciências da Saúde, fundada em 2007, oferece ensino voltado para os profissionais de saúde e e fica em Vientiane.
 
O Banco Asiático de Desenvolvimento apóia o Projeto de Reforço do Ensino Superior no Laos desde 2009. Um dos componentes chave é o desenvolvimento profissional para os funcionários acadêmicos com responsabilidades ligadas ao ensino, pesquisa e administração. Isto é particularmente verdadeiro para as universidades regionais. Como exemplo, a Universidade Souphanouvong, localizada no norte, recebe 3.700 estudantes - a maioria de graduação. Há 6 faculdades, 19 departamentos e 320 membros do corpo docente - dos quais 3 têm doutorado, cerca de 60 têm mestrado e o restante tem diploma de graduação. Não surpreende que o desenvolvimento profissional, especialmente a obtenção de diplomas melhores, seja uma das prioridades e complemente outras áreas de desenvolvimento - como livros didáticos, tecnologia da informação, infraestrutura, programas de graduação, capacidade de pesquisa, controle de qualidade e outros.
 
Bolsas de estudos para que os funcionários da universidade obtenham diplomas melhores
No Laos, para que a maioria dos professores e pesquisadores das universidades consiga diplomas melhores é preciso contar com a colaboração com universidades estrangeiras, principalmente por meio das bolsas de estudos. O Laos não consegue produzir um número suficiente de doutores porque não conta com programas de pós-graduação em todas as disciplinas nem há espaço para todos os candidatos.
 
O departamento do ensino superior definiu uma meta ambiciosa para o desenvolvimento do corpo docente - exigindo que 10% dos funcionários acadêmicos das universidades tenham doutorado, 60% tenham mestrado e 30% diploma de graduação. As dimensões dessa tarefa envolvem, por exemplo, uma universidade regional como a Souphanouvong, na qual cerca de 83% dos funcionários acadêmicos atuais têm diploma de graduação, 16% têm mestrado e 0,01% tem doutorado.
 
Atingir esta meta é algo que depende da cooperação internacional com universidades que ofereçam treinamento em pós-graduação e, em caráter secundário, de governos estrangeiros e agências multilaterais que possam oferecer apoio financeiro. As bolsas de estudos para matrícula em universidades parceiras no exterior são a modalidade preferida. A oferta de programas de pós-graduação por universidades estrangeiras no Laos é uma opção, mas ainda é necessária uma massa crítica de estudantes. Embora isto seja possível em algumas áreas do conhecimento - como administração de empresas e treinamento de professores -, este não é o caso de programas de pós-graduação mais especializados nas ciências naturais, engenharia e humanidades.
 
Assim sendo, normalmente os membros do corpo docente precisam deixar o país para cursar a pós-graduação. São muitas as implicações - como as exigências linguísticas para o estudo no exterior e o impacto disto na carga de ensino da universidade de origem. No Laos, todas as bolsas de estudos estrangeiras exigem habilidades linguísticas adicionais, talvez com a exceção daquelas ligadas à Tailândia, país vizinho; mas, mesmo ali, muitos dos novos programas internacionais de mestrado e doutorado são comumente oferecidos em inglês. Assim, um requisito fundamental para o aprofundamento nos estudos é o conhecimento de outro idioma. Até o momento, japonês, vietnamita, coreano, chinês, francês e inglês são requisitos linguísticos comuns, levando-se em consideração os países que oferecem bolsas de estudos. Mas, para os funcionários regionais das universidades, o desafio está em dominar estes idiomas com a habilidade necessária. Muitas vezes é preciso oferecer instrução nos idiomas em questão como parte da bolsa de estudos.
 
Oportunidades de desenvolvimento profissional no curto prazo
Não surpreende que as bolsas de estudos sejam vistas como forma mais séria para que os funcionários acadêmicos melhorem seus conhecimentos de ensino e pesquisa, levando finalmente à melhoria do ensino superior no Laos. Mas as bolsas de estudos não são o único tipo de desenvolvimento profissional necessário e benéfico. Cursos locais de treinamento de foco mais estreito e duração breve - nos centros regionais ou nas universidades mais próximas - são igualmente úteis. No Laos, os funcionários da universidade cuidam do ensino, da pesquisa e das tarefas administrativas. É comum que todos os principais administradores - como reitores, vice-reitores e diretores financeiros, diretores de treinamento e de pessoal - tenham responsabilidades de ensino. Isto também é verdadeiro no nível departamental, pois muitos professores assumem tarefas administrativas. O objetivo final é profissionalizar o quadro de funcionários administrativos das universidades e faculdades, permitindo que os acadêmicos dediquem mais tempo às atividades de ensino e pesquisa; mas esta é uma proposição para o longo prazo. No meio tempo, são necessárias oportunidades de desenvolvimento profissional de curto prazo orientadas para os métodos de ensino e aprendizado; desenvolvimento curricular, desenho de pesquisa e análise, controle de qualidade, gestão financeira, desenvolvimento dos recursos humanos e tecnologia da informação.
 
O Laos é apenas um dos países - seu vizinho, Mianmar, é outro - que precisam colaborar com universidades estrangeiras para aumentar sua capacidade, especialmente no treinamento e desenvolvimento de sua equipe profissional. As parcerias internacionais precisam trazer benefícios mútuos e múltiplos, e os departamentos de cooperação internacional das universidades no Laos estão comprometidos com o desenvolvimento de estratégias que garantam benefícios para todos os parceiros.
 
O envolvimento internacional nunca foi mais importante enquanto prioridade estratégica para as universidades. Mas será que podemos deixar que a preocupação atual com a comercialização, a competitividade e as classificações prejudique a cooperação internacional para o aumento da capacidade em países que estão desenvolvendo e reforçando novos sistemas e instituições do ensino superior? A resposta é não. Mas isto vai exigir uma mudança nos valores que impulsionam a internacionalização.