23/01/2014

International Higher Education

Como as universidades particulares polonesas de ponta poderão segurar a clientela apesar do choque demográfico

Redução do número de jovens ameaça as matrículas na Polônia em geral e no setor privado em especial

Joanna Musial-Sadilek
Joanna concluiu recentemente sua dissertação a respeito do ensino superior polonês na Universidade Estadual de Nova York em Albany. E-mail: jmusial9@gmail.com
Universidade Kozminski, Varsóvia
Depois de anos de aumento dramático na demanda, o número de matrículas no ensino superior polonês vai diminuir muito entre o momento atual e 2025. Como mostra Marek Kwiek, as alternativas em políticas públicas vão influenciar o alcance do declínio nos setores público e privado (edição da IHE do terceiro trimestre de 2012). A demografia apresenta uma ameaça às matrículas na Polônia em geral e no setor privado em especial – um dos maiores da Europa (518.200 estudantes, o equivalente a 29% do total da Polônia) em 2011. O setor privado já apresentou queda de 18% no número absoluto de matrículas e 4% na parcela de matrículas apenas nos últimos dois anos. Entretanto, coloca-se a questão: será que as instituições particulares de maior destaque no ensino superior serão capazes de enfrentar o desafio demográfico de alguma maneira, uma reação capaz de poupá-las do destino do setor privado em geral? Os primeiros anos do declínio demográfico não arrasaram as principais instituições particulares. As 20 instituições privadas do ensino superior mais bem classificadas apresentam um declínio de apenas 8% no volume bruto de matrículas e um aumento de 3% na sua parcela do total de matrículas na Polônia.
 
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As particulares mais bem classificadas não concorrem com as públicas em todos os quesitos. Assim como ocorre com a pesquisa, é comum que tais instituições sejam ultrapassadas em muitos setores dos estudos considerados caros Desafios demográficos para o setor privado
Na Polônia, o setor público tem preferência em relação ao privado, assim como ocorre em quase toda a Europa. Este goza de status e legitimidade elevados, oferecendo ensino de qualidade sem cobrar taxas dos estudantes em período integral. Em comparação, a maioria das instituições particulares do ensino superior tem status e legitimidade baixos, oferecendo ensino de qualidade questionável mediante a cobrança de taxas consideráveis. Atingidas pela redução na demanda, as instituições públicas podem abrandar os critérios de seleção e, cada vez mais, aceitar estudantes que, no passado, se acomodariam nas instituições privadas.
 
Entretanto, o desafio demográfico não é uniforme em todo o setor privado. A Polônia representa um caso interessante no qual faz-se necessário levar em consideração as diferenças subsetoriais. O setor privado do país abrange uma diferenciação ampla, especialmente numa pequena minoria de instituições privadas "semielitistas". Mas a minoria das instituições mais bem classificadas conta com uma fatia expressiva das matrículas em instituições privadas: as 20 instituições privadas do ensino superior mais bem classificadas dentre as 330 do tipo na Polônia recebiam 20% das matrículas no setor privado em 2009 (sendo que as 10 mais bem classificadas retinham 10% do total de matrículas).
 
Em vez disso, as instituições privadas se concentram nas "áreas em demanda". Com sua combinação de qualidade no corpo docente e experiência administrativa somadas aos laços empresariais, elas podem de fato concorrer em áreas como Administração de Empresas, Direito e Psicologia Até essas instituições mais bem classificadas partilham várias características do setor privado em geral que as deixam vulneráveis às mudanças demográficas. Em primeiro lugar, suas limitadas atividades de pesquisa restringem seu status e legitimidade acadêmicos, tornando-as menos atraentes para os candidatos que conseguem ingressar no setor público. Em segundo, e mais importante, os estudantes em período integral pagam taxas de ensino consideráveis em todas as instituições particulares terciárias, enquanto aqueles que frequentam suas equivalentes no setor público são isentos desta cobrança. Conforme o número de candidatos diminui, torna-se mais fácil ingressar nas instituições públicas – cuja maioria vê-se pressionada a preencher vagas com alguns estudantes que teriam sido rejeitados num outro momento. Surge uma questão natural: por que os estudantes deveriam pagar pelas instituições particulares do ensino superior quando podem frequentar cursos gratuitos no setor público? Com isso, até as instituições particulares mais bem colocadas carecem de uma renda substancial proveniente de fontes diferentes das taxas de ensino, o que limita sua capacidade financeira de criar ofertas atraentes.
 
A agilidade das instituições particulares mais bem classificadas é sua orientação internacional, que pode ajudar a expandir o conjunto de candidatos de duas maneiras As instituições particulares mais bem classificadas e o desafio
Diante do desafio demográfico, as instituições particulares mais bem classificadas são mais vulneráveis do que as universidades públicas, pois sob muitos aspectos as primeiras não diferem das demais instituições privadas. Entretanto, elas são ao mesmo tempo diferentes da maioria das instituições particulares de maneiras que as protegem parcialmente do desafio demográfico. Afinal, a grande maioria das instituições particulares polonesas surgiu para "absorver a demanda", crescendo com rapidez e facilidade conforme a queda do comunismo em 1989 desencadeou uma demanda imensa e rompeu o monopólio público. Logicamente, tais instituições enfrentam grandes problemas quando a própria demanda recua. Em comparação, as instituições particulares mais bem classificadas se esforçam para serem a escolha dos candidatos, oferecendo aos seus fregueses mais do que uma simples vaga no sistema de ensino superior.
 
Em comparação com as instituições de ensino medianas, as instituições particulares mais bem classificadas da Polônia tendem a apresentar as características semielitistas do elevado status dos estudantes e da alta qualidade do corpo docente. Muitos de seus estudantes vêm de famílias que podem arcar com o alto custo do ensino nesse subsetor. Estão dispostas a pagar porque o benefício proporcionado pelas instituições é suficiente para compensar o gasto, mesmo num momento em que os estudantes contam com mais opções em outros lugares.
 
Uma parte essencial é o corpo docente. Essas instituições empregam professores conhecidos e respeitados. Concentradas nas grandes cidades – centros acadêmicos e econômicos –, essas instituições facilitaram a atração desses professores e a capacidade de oferecer a eles salários competitivos. De maneira semelhante, essas instituições conseguem atrair – para o trabalho em meio período – especialistas em áreas profissionais enfatizados pelo ensino da universidade.
 
Primeiro, ao construir uma imagem internacional – por meio de parcerias internacionais, programas de intercâmbio e cursos de verão –, as instituições atraem estudantes de países estrangeiros Existe a impressão de que muitos membros do corpo docente das universidades públicas dedicam seu tempo principalmente à pesquisa. Em comparação, as universidades particulares mais bem classificadas se concentram muito mais no ensino do que na pesquisa, e os gestores esperam que os membros do corpo docente se dediquem a esforços sérios de ensino. Independentemente disso, as particulares mais bem classificadas realizam mais pesquisas do que a média das instituições particulares, conferindo status e conhecimento aos estudantes. Assim, mais uma vez as particulares mais bem classificadas atingem um nível de legitimidade acadêmica impossível para as instituições privadas que absorvem a demanda. Diferenciadas das instituições particulares médias, aquelas mais bem classificadas conseguem concorrer com boas instituições públicas do ensino superior.
 
As particulares mais bem classificadas não concorrem com as públicas em todos os quesitos. Assim como ocorre com a pesquisa, área que recebe menos atenção, é comum que tais instituições sejam ultrapassadas em muitos setores dos estudos considerados caros. Em vez disso, as instituições privadas se concentram (mais do que fazem ou desejam fazer as públicas) nas "áreas em demanda". Com sua combinação de qualidade no corpo docente e experiência administrativa somadas aos laços empresariais, elas podem de fato concorrer em áreas como administração de empresas, direito e psicologia.
 
Em segundo, por meio deste internacionalismo, tentam atrair estudantes domésticos que dão valor ao internacionalismo e buscam oportunidades de vivenciar a diversidade ou expandir suas habilidades por meio de oportunidades ligadas aos idiomas A agilidade das instituições particulares mais bem classificadas é sua orientação internacional, que pode ajudar a expandir o conjunto de candidatos de duas maneiras. Primeiro, ao construir uma imagem internacional – por meio de parcerias internacionais, programas de intercâmbio e cursos de verão –, as instituições atraem estudantes de países estrangeiros, principalmente para o leste da Polônia. Em segundo lugar, por meio deste internacionalismo, as instituições particulares mais bem classificadas do ensino superior tentam atrair estudantes domésticos que dão valor ao internacionalismo e buscam oportunidades de vivenciar a diversidade ou expandir suas habilidades por meio de oportunidades ligadas aos idiomas. É claro, o internacionalismo só tem boas chances se a qualidade e o status de uma instituição forem considerados bons o bastante pelos estudantes.
 
Conclusão
As mudanças demográficas vão sem dúvida moldar o sistema de ensino superior na Polônia. Como apontado em outros países, o setor privado será mais afetado do que o setor público (preferido); mas nem todas as instituições particulares serão afetadas no mesmo grau. Um pequeno número de instituições particulares bem classificadas desfrutam de características semielitistas que podem protegê-las, em parte, do impacto negativo do declínio demográfico.
 
* De tempos em tempos o IHE publica artigos produzidos pelo PROPHE, Program for Research on Private Higher Education, cuja sede fica no campus de Albany. Ver http://www.albany.edu/