12/09/2013

International Higher Education

Colaboração de pesquisa e migração global

Em países como China, Brasil e Austrália verifica-se um equilíbrio entre o número daqueles que vão para o exterior e voltam ao país de origem e aqueles que migram permanentemente

Gali Halevi e Henk F. Moed
Halevi faz parte do Informetric Research Group, Elsevier, Nova York. E-mail: g.halevi@elsevier.com. Moed integra o IRG em Amsterdã, Holanda. E-mail: h.moed@elsevier.com. O texto completo do artigo pode ser encontrado no endereço http://arxiv.org/ftp/arxiv/papers/1212/1212.5194.pdf
Este estudo compara tendências de coautoria e migração física de cientistas de um país para outro. A análise de coautorias há muito é usada como maneira de acompanhar a informação de redes científicas tanto no nível doméstico quanto no internacional. Mas, recentemente, há um crescente interesse no acompanhamento e na análise das filiações dos autores, seguindo o movimento físico dos pesquisadores de um país para o outro. Ao analisar a localização geográfica dos autores de um estudo específico ou ao investigar grandes conjuntos de artigos, redes internacionais de colaboração e coautoria podem ser identificadas. Em relação à coautoria, a migração traz um impacto não apenas na formação de colaborações científicas, mas também no tecido econômico e social de um país. As tendências migratórias podem, potencialmente, servir aos responsáveis pelas políticas públicas e aos diretores dos programas de ensino – como referência das qualidades e deficiências de sua comunidade científica e como indicador dos danos causados pela fuga de cérebros ou dos benefícios ao desenvolvimento proporcionados pela migração.
 
 
O efeito das tensões políticas parece menor sobre a migração do que sobre a coautoria. Isso pode ser visto na proporção relativamente baixa de coautorias e na alta migração entre Irã e EUA, Índia e Paquistão e China e Taiwan, por exemplo Motores de migração e coautoria
Nosso estudo envolveu um banco de dados contendo mais de 20 mil fontes de publicações revisadas por pares, analisando padrões de coautoria e de migração científica de 17 países escolhidos – Egito, Irã, Malásia, Paquistão, Romênia, Portugal, Alemanha, Itália, Holanda, Grã-Bretanha, Brasil, China, Índia, Estados Unidos, Austrália, Japão e Tailândia. Analisando o conjunto das publicações de 2011 e incluindo autores que começaram suas carreiras entre 2001 e 2010, foi possível traçar os pontos fortes da imigração entre vários países.
 
A pesquisa encontrou uma diferença entre os padrões de coautoria e migração. Parece que o idioma comum e a proximidade geográfica são motores de imigração mais fortes do que coautoria. Além disso, o efeito das tensões políticas parece menor sobre a migração do que sobre a coautoria. Isso pode ser visto na proporção relativamente baixa de coautorias e na alta migração entre Irã e EUA; Índia e Paquistão; e China e Taiwan, por exemplo.
 
EUA e China são casos únicos de padrões interessantes de migração. Os autores americanos tendem a migrar com menos frequência do que os pesquisadores de países europeus – Grã-Bretanha, Itália e Holanda. Isso pode ser decorrência do próprio tamanho do país e da abundância de excelentes instituições de pesquisa americanas, que permite aos pesquisadores transitar de uma instituição para outra sem deixar os EUA. Além disso, nossa análise mostrou que, em comparação ao nível de coautorias, um número relativamente alto de jovens pesquisadores atualmente ativos nos EUA trabalharam antes na Índia e no Irã.
 
Um número relativamente alto de jovens pesquisadores atualmente ativos nos EUA trabalharam antes na Índia e no Irã Migração temporária versus permanente
Outro foco da análise teve como base o percentual de autores que permanecem em seu próprio pais; aqueles que migram permanentemente, e aqueles que migram mas retornam ao país de origem. A maior percentagem de autores que ficam no próprio país corresponde aos americanos, seguidos pelos chineses. Um percentual muito menor de autores migra permanentemente; e esses são em geral autores alemães e holandeses, seguidos pelos americanos e italianos. Aqueles com a menor probabilidade de se mudarem permanentemente são os autores chineses. Isso pode ser consequência da fartura de recursos disponíveis para os cientistas chineses, em oposição à falta de experiência. Nesse aspecto, os cientistas chineses podem migrar para outros países para ganhar experiência numa determinada área, mas retornam à sua pátria para trabalhar e desenvolver suas carreiras.
 
Foi notado também que o número de autores que migram e retornam corresponde ao menor grupo de autores. Na comparação entre os percentuais de autores que se mudam permanentemente e daqueles que se mudam e depois voltam ao país de origem, vemos um quadro claro de países onde ocorre a perda de talentos versus países que estão no processo de desenvolver sua infraestrutura. Países como Irã, Tailândia, Malásia e Paquistão parecem ter um grande número de pesquisadores que se mudam para o exterior e retornam. Esse tipo de migração sustenta o desenvolvimento dos níveis de habilidades profissionais do país e sua infraestrutura, e os números desse tipo de troca vêm crescendo. Do outro lado do espectro há países como EUA, Japão, Índia e Alemanha, onde é grande o número de pesquisadores que parece se mudar permanentemente para países diferentes. No meio estão países como China, Brasil e Austrália, onde verifica-se um equilíbrio entre o número daqueles que vão para o exterior e voltam ao país de origem e aqueles que migram permanentemente.
 
Os cientistas chineses podem migrar para outros países para ganhar experiência numa determinada área, mas retornam à sua pátria para trabalhar e desenvolver suas carreiras Implicações para a política de incentivo à ciência
Apesar de rastrear as tendências existentes, esta análise pode servir potencialmente como forma de examinar os efeitos da migração e dos padrões de colaboração no desempenho de pesquisa – especialmente em se tratando do quanto os pesquisadores que mudam de país aumentam seu desempenho nas pesquisas. Um estudo de caso realizado alguns anos atrás envolvendo o desempenho dos pesquisadores na Universidade de Leiden, Holanda, revelou que aqueles que buscaram seus pós-doutorados em universidades estrangeiras depois de obterem o doutorado na Holanda apresentavam um desempenho superior ao daqueles que permaneceram na Holanda.
 
O uso de indicadores de filiação permite que acompanhemos os padrões de coautoria e identifiquemos a formação de redes científicas domésticas e internacionais. Usos semelhantes dos indicadores de filiação mostrou que podem ser usados para rastrear a migração física real dos cientistas de país para país, seja numa base permanente ou temporária. Esse método de análise permite que os responsáveis pelas políticas públicas em nível nacional rastreiem pesquisadores que começaram suas carreiras num país e se mudaram para o exterior, prosseguindo suas carreiras em instituições estrangeiras. Tal informação pode desempenhar um papel importante para os programas voltados a convidar ao retorno os pesquisadores que foram para o exterior. Dessa maneira, pode-se rastrear a imigração com base também no foco científico. Se, por exemplo, um país vê neurocientistas buscando o exterior, pode decidir aumentar o investimento nessa área, com o objetivo de conservar seus talentos e impedir a fuga de cérebros. Tal tipo de análise também pode indicar a formação de centros de excelência ao redor do mundo.