06/11/2012

International Higher Education

Classificação Nacional das Universidades na China

Liu Jin e Hong Shen
Liu Jin é candidato a doutor na Faculdade de Pedagogia da Universidade de Ciência e Tecnologia de Huazhong, em Wuhan, China. Atua como pesquisador visitante no CIHE-Boston. E-mail: liujinzu@gmail.com
Hong Shen é professora e vice-diretora da Faculdade de Pedagogia da Universidade de Ciência e Tecnologia de Huazhong. E-mail: hongshen@mail.hust.edu.cn
A classificação de universidades publicada pela Universidade Jiao Tong de Xangai, na China, é bastante conhecida na área de ensino superior internacional. Entretanto, sua influência na China – bem como a da classificação da Times Higher Education, o ranking Webometrics e outras classificações mundiais de universidades – não pode ser comparada à influência exercida pela classificação nacional das universidades chinesas.
 
A cada ano, mais de 9 milhões de estudantes chineses do ensino médio tentam entrar na universidade por meio do exame de admissão de abrangência nacional (Gaokao). No decorrer deste processo, a classificação nacional das universidades chinesas desempenha o papel mais essencial. Diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, na China os estudantes são quase impossibilitados de fazer a transferência para outra universidade depois de terem tomado sua decisão. Escolher uma universidade significa decidir o futuro da própria vida, algo que faz da seleção de uma universidade um dos eventos mais importantes na vida de milhões de famílias chinesas. Nesse processo, os rankings mundiais de universidades têm na China uma influência muito menor, pois poucas universidades chinesas se encontram nas listas das classificações globais de universidades.
 
Quatro classificações principais
Em 1987 a Academia Chinesa de Ciência Administrativa divulgou o primeiro ranking nacional de universidades. Antes disso, a sociedade chinesa não se importava com os rankings universitários, pois não havia concorrência para as universidades chinesas. Desde então, 17 influentes classificações nacionais universitárias foram realizadas na China – destas, 7 foram suspensas ou desapareceram. Cada uma das classificações afirma ser desprovida de fins lucrativos, dizendo que sua missão fundamental é promover o desenvolvimento do ensino superior na China. Entretanto, algumas delas obtêm lucro com a venda de livros de classificação ou com a assistência prestada aos planos de desenvolvimento de certas universidades. Atualmente, há na China quatro classificações influentes de universidades nacionais.
 
Classificação Universitária Netbig. Esse ranking foi desenvolvido em 1999 pela empresa chinesa Netbig com o propósito declarado de ajudar os estudantes no processo de escolha de uma universidade, algo consistente com a ideia básica do ranking US News & World Report, exceto pelo índice de classificação e pelo peso atribuído a cada característica. O sistema desse índice inclui 6 indicadores de primeiro nível (prestígio da universidade, recursos acadêmicos, conquistas acadêmicas, status e influência dos pós-graduandos, recursos do corpo docente e infraestrutura) e 19 indicadores de segundo nível, que recebem um peso de 2% a 15% cada.
 
Classificação do Instituto de Ciência Administrativa de Guangdong. Ranking fundado por Wu Shulian, inclui abrangentes subclassificações em dúzias de categorias, como eficiência do corpo docente e eficiência em pesquisa. A missão desses abrangentes sub-rankings é avaliar a contribuição das universidades para a sociedade por meio da medição da implementação de suas principais funções. Há 2 índices de primeiro nível (treinamento dos estudantes e pesquisa científica), 4 índices de segundo nível (treinamento em nível de graduação, treinamento de pós-graduação, pesquisa em ciências naturais e pesquisa em ciências sociais) e 33 índices de terceiro nível (proporção de empregados entre os graduandos, por exemplo); cada um dos três níveis recebe um peso diferente.
 
Classificação da Rede Chinesa de Ex-Alunos. Este ranking foi iniciado pela Rede Chinesa de Ex-Alunos com o objetivo de medir o potencial acadêmico das universidades e sua contribuição à ciência. É a primeira classificação a separar as universidades públicas das particulares. O ranking tem três indicadores de primeiro nível (treinamento dos estudantes, pesquisa científica e prestígio geral), sete indicadores de segundo nível (bases científicas de pesquisa, projetos de pesquisa, pesquisa científica, base de treinamento, equipe de ensino, ex-alunos de destaque e prestígio), e nove indicadores de terceiro nível (inovação científica, projetos básicos de pesquisa, grandes pesquisas científicas, talentos excepcionais, qualidade do corpo docente e níveis acadêmicos, reputação nacional, doações de ex-alunos e prestígio social). Além do ranking abrangente, inclui algumas classificações especiais – como o Ranking Universitário Chinês de Doações de Ex-Alunos, o Ranking Universitário Chinês de Sociedades de Ex-Alunos e o Ranking Universitário Chinês de Estudos Naturais e Científicos.
 
Classificação Centro de Pesquisa para a Avaliação da Ciência na China. Este ranking, criado por Qiu Junping e sua equipe na Universidade de Wuhan, tem como objetivo avaliar a competitividade das universidades. A ideia básica da classificação é dividir as universidades de acordo com três categorias: (1) universidades públicas de ponta, (2) universidades públicas em geral e (3) universidades particulares. As categorias de universidades são avaliadas de acordo com diferentes indicadores, o que significa que esta classificação apresenta um conjunto de indicadores relativamente grande. O índice de classificação para as principais universidades públicas, por exemplo, contém quatro indicadores de primeiro nível (recursos educacionais, qualidade do ensino, pesquisa científica e prestígio universitário), 14 indicadores de segundo nível (financiamento para o ensino, por exemplo), e mais de 50 indicadores de terceiro nível (área total do campus, por exemplo).
 
Além das classificações citadas acima, a China contém também rankings de menor influência. A Universidade Renmin, por exemplo, se concentra na classificação das universidades de ponta. O Relatório de Desempenho das Universidades Chinesas, publicado pelo Instituto Nacional Chinês de Ciências Pedagógicas, se concentra na proporção entre aquilo que as universidades captam e aquilo que elas produzem.
 
Metodologia e bancos de dados
O método das classificações nacionais chinesas tem como base o estabelecimento de um sistema de indicadores multidimensional, atribuindo determinado peso a cada índice, reunindo dados e analisando os resultados por meio de métricas. Apesar do cuidadoso escrutínio e da sofisticação do cálculo envolvido em cada ranking, observadores acadêmicos comuns ainda acreditam que estas classificações são um reflexo da opinião pessoal dos seus responsáveis, e não uma pesquisa científica rigorosa.
 
Os observadores acadêmicos também questionam as fontes de dados das classificações. Dos quatro rankings relacionados acima, dois são publicados por empresas, um é mantido por uma universidade e outro é divulgado por uma organização sem fins lucrativos. Nenhuma delas é agência do governo, o que torna difícil a obtenção do acesso aos dados. Na China, os dados sérios, em geral, são os apurados e sistematizados pelo governo. No caso da maioria das classificações, a maior parte dos dados vem de fontes secundárias, incluindo a internet, jornais, revistas e livros. Para piorar a situação, muitas vezes a informação é reunida sem uma ideia clara das datas. No ranking de 2011 do Instituto de Ciência Administrativa de Guangdong, por exemplo, alguns dos dados são de 2010, enquanto outros foram reunidos em 2008 e 2009.
 
Conclusão
A existência das classificações universitárias chinesas está associada a certas demandas: os estudantes têm a necessidade de tomar decisões com relação às universidades que optarão por frequentar, e as universidades precisam melhorar seu posicionamento nos rankings com o objetivo de atrair os estudantes mais bem qualificados e o financiamento à pesquisa. Os responsáveis pela publicação das classificações têm a necessidade de ganhar dinheiro.
 
As classificações nacionais chinesas têm uma influência de grande alcance e promoveram o desenvolvimento do ensino superior na China. Entretanto, problemas ocorrem conforme um maior número de universidades tenta mudar para se adaptar aos critérios de classificação. O peso desproporcional atribuído ao índice das conquistas de pesquisa, por exemplo, levou a uma explosão de publicações de estudos de grandes proporções nos anos mais recentes; as universidades que insistem em não expandir a dimensão de suas matrículas encontram dificuldades para se manterem em boas posições dentro das classificações universitárias na China; além disso, aumentam as questões envolvendo o próprio sistema de índices e indicadores.