06/11/2012

International Higher Education

Campus de franquias acadêmicas na China

David A. Stanfield e Wang Qi
David A. Stanfield é assistente de pesquisa do CIHE-Boston e estudante de doutorado no curso de Administração do Ensino Superior no Boston College. E-mail: david.stanfield@bc.edu
Wang Qi é professora assistente da Faculdade de Pós-Graduação em Pedagogia da Universidade Jiao Tong de Xangai, China. E-mail: qimwang@sjtu.edu.cn
Dois campus de franquias acadêmicas britânicas plenas funcionam atualmente na China, e duas destacadas instituições americanas devem ser abertas em breve. Com a intenção de reproduzir o ensino de nível mundial oferecido em suas matrizes acadêmicas, tais postos avançados estrangeiros atraíram na China uma atenção considerável. A China apresenta uma variedade de desafios únicos que podem dificultar o cumprimento das metas almejadas por esses novos empreendimentos.
 
Características das franquias acadêmicas
As franquias acadêmicas internacionais na China são únicas por causa da determinação do Ministério da Educação segundo a qual as instituições estrangeiras devem necessariamente formar uma parceria legal com alguma universidade chinesa local. Por mais que existam cerca de 20 franquias acadêmicas internacionais na China, estas são em sua maioria pequenas instituições que atendem a nichos, oferecendo um ou dois cursos com diplomas para os quais o número de matrículas é limitado. Em contraste, 4 franquias acadêmicas buscam oferecer um conjunto de disciplinas nos níveis de graduação e pós-graduação que refletem a qualidade e a experiência de suas matrizes. A Universidade de Nottingham em Ningbo, China (UNN), primeira franquia universitária plena na China, conta atualmente com mais de 5 mil estudantes matriculados, cooperando com o Grupo Pedagógico Zhejiang Wanli (XJTLU), instituição sem fins lucrativos que conta com mais de 3.200 alunos, colaborando também com a Laureate, um importante grupo pedagógico americano de fins lucrativos. Duas notáveis instituições americanas – a Universidade Duke Kunshan (em parceria com a Universidade de Wuhan) e a Universidade de Nova York (NYU) em Xangai – já estão construindo suas instalações e devem abrir num futuro próximo.
 
As franquias acadêmicas plenas são estabelecidas como entidades independentes e adotam o currículo e a estrutura organizacional de suas parceiras estrangeiras, por mais que o Ministério da Educação exija certas modificações para conceder a elas o credenciamento. Um exemplo disto é a exigência de tais universidades oferecerem um curso de cultura chinesa e respeitarem os parâmetros nacionais de admissão. A formação geral (ou "educação liberal") oferecida pelas instituições ocidentais é uma novidade bem-vinda num sistema que enfrenta dificuldades para cultivar o pensamento crítico, a inovação e o empreendedorismo. Essas franquias acadêmicas internacionais também planejam se envolver na produção de pesquisa, valendo-se da força de suas parceiras entre as universidades locais.
 
Potencial futuro: ensino de nível mundial?
Em The Challenge of Establishing World-Class Universities, Jamil Salmi indica que as universidades de nível mundial apresentam uma concentração de talento, abundância de recursos e gestão apropriada. Trata-se de um modelo útil para examinar o potencial das franquias acadêmicas plenas na China em se tratando de reproduzir a experiência de ensino de suas matrizes.
 
Talento. As instituições de nível mundial exigem um corpo docente e discente formado por elementos altamente qualificados. As franquias acadêmicas dependem de um sistema de admissão semelhante ao de suas matrizes, incluindo ensaios acadêmicos, históricos escolares do ensino médio e entrevistas individuais; na China, o exame nacional de admissão (Gaokao) também é exigido. Essa gama de requisitos para a admissão ajudará as franquias acadêmicas a identificar os candidatos mais bem qualificados e também a manter um padrão de qualidade elevado; entretanto, ainda não se sabe se haverá ou não um número suficiente de candidatos tão qualificados. A capacidade das instituições de recrutar candidatos do mais alto nível em seus países de origem não pode ser dada como certa na China. As universidades chinesas de elite recrutam com facilidade os melhores estudantes graças à alta valorização de seus diplomas no mercado de trabalho local. Além disso, numa sociedade que depende das redes pessoais, os estudantes acreditam que as instituições públicas do mais alto nível vão ajudá-los a construir os relacionamentos necessários para chegar aos empregos mais disputados e bem remunerados. Apesar do prestígio internacional e do reconhecimento das marcas das franquias acadêmicas internacionais, os estudantes que esperam trabalhar na China devem provavelmente preferir um diploma de uma das melhores universidades públicas locais. Além disso, por mais que os postos avançados estrangeiros afirmem claramente que as exigências para a obtenção de diplomas e a oferta de cursos sejam análogas às de suas matrizes, a impressão entre os estudantes costuma ser a de que as franquias sejam inferiores.
 
As universidades de nível mundial também exigem um corpo docente e um grupo de pesquisa de altíssima qualificação. A XJTLU e a UNN recrutam um corpo docente para posições de longo prazo em tempo integral a partir de suas matrizes e do mercado de trabalho internacional. Mas, na prática, as franquias internacionais costumam enfrentar dificuldades para recrutar seu corpo docente a partir da matriz – por causa da inflexibilidade das obrigações de pesquisa e ensino, dos contratempos envolvidos na mudança para o exterior e da incompatibilidade com os sistemas de promoção e desempenho dos cargos. Para atrair os melhores professores, as franquias acadêmicas precisam oferecer e destacar generosos pacotes de remuneração, recursos complementares para a pesquisa e outros benefícios abstratos – como a oportunidade de trabalhar numa economia dinâmica e em crescimento. Um estudo promissor indicou que vários professores e pesquisadores da UNN e da XJTLU receberam da China competitivas bolsas de pesquisa.
 
Recursos. Embora não haja dados completos disponíveis, os modelos financeiros para as franquias acadêmicas na China parecem ser uma mistura de apoio do governo provincial local, da universidade chinesa parceira, da indústria privada e das taxas de ensino pagas pelo estudante, contando em menor medida com o investimento financeiro da matriz. A NYU de Xangai parece ter negociado para obter diferentes formas de apoio financeiro, deixando de exigir o investimento da matriz de Nova York; ao passo que a Duke Kunshan diz ter feito uma contribuição de vários milhões de dólares com as despesas iniciais e de planejamento.
As taxas de ensino variam muito, o equivalente a US$ 9.500 até US$ 20.800 na UNN, na XJTLU e na NYU. As taxas pagas à UNN e à XJTLU são mais baixas do que aquelas existentes na Grã-Bretanha, ao passo que NYU e Duke Kunshan devem cobrar taxas semelhantes àquelas praticadas nas matrizes em Nova York e na Carolina do Norte, oferecendo certas formas de auxílio financeiro e bolsas de estudos. Quando comparadas às taxas cobradas pelas melhores universidades públicas, entre US$ 750 e US$ 950, os pais e os formandos do ensino médio devem pensar duas vezes antes de optar pelas franquias acadêmicas. Entretanto, as franquias acadêmicas são uma alternativa de custo razoável se comparadas ao custo ainda mais elevado de se optar pelo ensino no exterior. Dito isso, é cada vez maior o número de famílias chinesas que podem arcar com o custo de mandar seus filhos para o exterior e, diante da possibilidade de escolher, a maioria deve optar pela experiência completa do ensino no exterior.
 
Fontes adicionais de renda como a propriedade intelectual, as parcerias corporativas e as doações particulares de ex-alunos e fundações estão em sua infância na China, sendo necessário tempo para cultivá-las. O desenvolvimento da pesquisa e do ensino em nível mundial é caro, e a capacidade das franquias acadêmicas internacionais de obter o financiamento adequado representará um desafio importante.
 
Gestão. O ensino superior de estilo ocidental depende de estruturas administrativas que promovam a autonomia, a liberdade acadêmica e a liberdade de investigação – padrões que diferem e podem entrar em conflito com os requisitos chineses e as expectativas das parceiras locais. O Ministério da Educação exige, por exemplo, que os presidentes das franquias acadêmicas sejam de nacionalidade chinesa, sujeitos portanto a não compreenderem plenamente os ideais e o estilo de liderança do ensino ocidental. Além disso, apesar da promessa de autonomia nas questões curriculares, recentes preocupações governamentais envolvendo a garantia da qualidade do ensino podem levar a uma regulação adicional. Para as instituições ocidentais, talvez o mais vital seja o fato de não ser possível garantir a liberdade acadêmica – em decorrência das leis e sensibilidades locais em relação à cultura. Deliberações legais e outras pressões externas podem impedir as franquias acadêmicas internacionais de criar os modelos de gestão necessários para se atingir o status de qualidade de nível mundial.
 
Conclusão
As franquias acadêmicas na China esperam se situar no nível mais elevado das instituições chinesas do ensino superior por meio da oferta de ensino de estilo ocidental, atraindo estudantes e professores da mais alta qualificação e se envolvendo na produção de pesquisa. Embora o sistema chinês ofereça algumas vantagens potenciais, vários desafios farão da jornada rumo à excelência no ensino um árduo caminho.