10/04/2015

International Higher Education | 78

Campus de extensão internacional e controle institucional

Robert Coelen
Professor de Internacionalização do Ensino Superior na Universidade de Ciências Aplicadas de Stenden, na Holanda. E-mail: robert.coelen@stenden.com
O desenvolvimento da mobilidade institucional observou um rápido aumento em cerca de 20 ou mais campi de extensão internacional (IBCs) contados na virada do século até 12 vezes este número em 2013. Mesmo assim, a proporção de instituições voltadas ao Ensino Superior que possuem IBC’s representam apenas 1 por cento da população global de instituições de ensino superior.
 
Motivações para a implantação de campi de extensão internacional incluem fatores de incentivo e dissuasivos. Fatores de incentivo que têm sido amplamente descritos incluem: econômicos, reputacional, ou oportunidades acadêmicas, diplomacia, e internacionalização. Os fatores dissuasivos incluem racionais econômicas, oportunidades educacionais adicionais, capacidade de construção de unidades de pesquisa, e rápido ajuste educacional para atender às requisições dos empregadores contemporâneos.
 
Os fundamentos acadêmicos adotados pela instituição de origem incluem aspectos como a oportunidade para que a equipe desta instituição ensine em outro contexto cultural, o co-desenvolvimento do currículo escolar com a equipe de uma universidade de extensão internacional, e para que os alunos estudem em uma IBC dentro dos paradigmas educacionais oferecidos pela Instituição de origem. Tais oportuniddes poderiam ser caracterizadas pela sutil transferência de créditos e uma boa integração com o programa da Instituição de origem.
 
Alterações curriculares
IBC’s proporcionam uma boa oportunidade para o co-desenvolvimento do currículo. Problemas de natureza prática, jurisdicional, ou cultural surgirão na integração do currículo da Instituição de origem. Isto poderá fazer parte da implantação de mudanças, que poderão ser adotadas também pela Instituição de origem, e proporcionar aos alunos um currículo ainda mais robusto para todos os pontos de ensino.
 
Estas alterações curriculares destacam um aspecto das IBCs que demandaria uma grande quantidade de recursos, cuidado, e visão—ou, por vezes o concerto através da análise a posteriori. É improvável que um programa possa somente ser transferido do campus sede para uma extensão sem que seja adaptado. Mesmo no nível operacional mais básico, ocorrerão mudanças. Isto é, evidentemente, bem aceito e entendido de um modo geral. No entanto, caso os alunos de IBC recebam um diploma indiferenciável daquele emitido pelo campus original, isto somente poderá ocorrer caso os resultados alcançados no âmbito da aprendizagem pertençam à mesma natureza e padrão do campus original.
 
Fatores que afetam o controle institucional
O foco é colocado em mecanismos que devem estar presentes para garantir o controle de qualidade. Durante o desenvolvimento de um IBC de determinada instituição, uma análise cuidadosa poderá ser necessária para que seja conduzida a adaptação dos padrões de controle de qualidade (tanto internos quanto externos) que são determinados para a operação em determinada jurisdição (o país de origem da instituição) àqueles do país de destino. O ambiente do país de destino, ou as barreiras entre os dois campi, poderão afetar a eficácia destes padrões de controle de qualidade.
 
Um exemplo simples de problemas que podem surgir no controle exercido pela instituição original é relacionado à existência destas barreiras no campus. A atratividade de um ou mais programas de determinada faculdade sob o controle de uma instuição externa pode ser muito menor no país de destino do que na própria instituição. Isto pode levar a um descompasso na entrega das duas instituições, tanto em termos de conteúdo quanto de métodos educacionais, entre outros. As pressões sofridas pela equipe podem ser tais, que a entrega de material didático pode ser pontual no campus original, porém atrasada para a extensão, de forma que ajustes na logística possam ser necessários. Tais problemas, aparentemente inócuos, podem fazer com que alguns membros da equipe trabalhando em IBC’s sintam-se privados de seus direitos. Pode haver uma perda de confiança entre os dois grupos, reduzindo ainda mais o comprometimento e a comunicação eficaz. Alterações indesejáveis na entrega poderão passar desapercebidas até que seja tarde demais.
 
A entrega transnacional de um programa educacional, sendo em IBC ou em outro sistema sujeita a entrega e o conteúdo à legislação vigente e aos regulamentos de outra jurisdição. Isto poderá colocar em risco a integridade do programa, ou pelo menos trazer a necessidade de alterar o currículo original, o que poderia afetar a qualidade do curso. Por vezes, diferenças essenciais causam problemas que se tornam aparentes.
 
Um exemplo a ser dado é o caso no qual um programa desenvolvido sob os padrões Europeus de 60 ECTS por ano (o que representa 1,680 horas do total de uma carga acadêmica) foi submetido para acreditação na África do Sul. Isto foi localmente considerado como um passo acima da carga acadêmica padrão máxima. As divergências conceituais em termos de carga acadêmica foram a base do problema. Uma análise cuidadosa resolveu o problema sem que o programa fosse afetado.
 
Existem jurisdições nas quais programas de graduação devem abranger elementos exclusivos àquele país. Com frequencia, estes cursos estão fortemente relacionados à identidade nacional. A maneira mais fácil para contornar esta situação seria o uso de espaço para créditos eletivos no programa. Esta solução, no entanto, afeta a habilidade dos alunos em beneficiar-se de uma gama mais ampla de componentes eletivos em um programa, que estaria disponível em outra situação.
 
Uma situação muito mais complexa poderia surgir a partir de um IBC resultante de uma parceria na qual os parceiros possuem objetivos diferentes. A importância do alinhamento neste aspecto não pode ser subestimada. Existem bons exemplos de como um embate entre os objetivos acadêmicos e econômicos pode ser desastroso. O conflito entre a necessidade de um programa economicamente viável versus a padronização acadêmica poderá causar o encerramento das atividades do IBC ou uma mudança física. A insistência em confirmar certos padrões estabelecidos pelo Conselho Internacional de Qualidade Assegurada fez com que diversos IBCs fossem excluídos de suas operações em Dubai. A solução para este caso foi a mudança para outro emirado dentro dos Emirados Árabes Unidos no qual tal método de controle de qualidade não existisse.
 
Apesar de acordos claramente trabalhados, diferenças nos objetivos de sócios também podem acarretar na tensão voltada à necessidade de investimentos nos processos acadêmicos (por exemplo., controle financeiro). A falta de investimento pode fazer com que a entrega do programa em um IBC torne-se inferior àquela do campus original, com problemas voltados ao cumprimento dos padrões de qualidade assegurada.
 
Qualidade assegurada transnacional
Diversos países que abriga campi originais e de extensão possuem comissões locais para garantir o cumprimento dos padrões de controle de qualidade. O Reino Unido e a Austrália, como países exportadores, possuem agências que incluem a entrega transnacional neste escopo. Na Holanda, isto é excluído do alcance da Dutch Flemish Accreditation Organisation. Países de destino possuem as mais variadas legislações para as medidas de controle. A educação transnacional é um fenômeno relativamente novo e as alterações legislativas necessárias ficam para trás.
 
Ao equilibrar as perspectivas de diversos acionistas em um contexto expansivo de educação transnacionalizada permanence uma questão desafiadora. Os problemas com divergências nestes assuntos fizeram com que a Índia ainda não introduzisse a legislação que abordasse esta área. IBC’s vêm e vão. Neste mundo, avesso a arriscar-se quando o assunto é o ensino superior, a pergunta que permanece é: a expansão dos IBC’s prevalecerá?
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
Diretor da San Ives International Language Center
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