27/05/2015

International Higher Education | 79

As melhores instituições de ensino superior do ranking Times Higher Education e a misteriosa “ascensão da Ásia”

Alex Usher
Presidente do Higher Education Strategy Associates, Toronto, Canadá. O blog diário do autor sobre as questões do ensino superior pode ser encontrado em www.higheredstrategy.com/blog
Existem em termos gerais, três tipos de rankings no ensino superior. Há aqueles que são lançados por agencias independentes e que não estão ligados aos meios de comunicação, como o Academic Ranking of World Universities / Ranking Académico das Universidades do Mundo (ARWU— também conhecido como os rankings de Shanghai) ou os rankings anuais da Middle East Technical University in Turkey. / Universidade Técnica do Oriente Médio na Turquia. Os dados destes grupos são inseridos em um website e lá deixados para serem interpretados pelos outros. Há também rankings publicados pelos meios de comunicação que são apenas ganchos onde são penduradas informações anuais de uma cobertura de questões voltadas para o ensino superior, sendo estes em grande parte desconectados com os dados em si. O Maclean’s rankings do Canadá também tem usado este formato — assim como os Estados Unidos com o US News and World Report. Finalmente, há classificações da mídia para as quais os rankings são a estória, e aqui os rankings do Times Higher Education assumem a liderança.
 
O problema de se fazer dos rankings a estória é que surge a necessidade de se ter uma narrativa. Porém os bons rankings, aqueles que refletem a realidade de que a qualidade no ensino superior é algo construído ao longo de décadas e não anos— simplesmente não fornecem muita movimentação de um ano para o outro. No passado, por exemplo, o US News foi (nem sempre justamente) acusado de alterar sua metodologia a cada ano, para mudar os resultados a fim de criar novas narrativas. O THE, Times Higher Education tem evitado este tipo de trama ao longo dos últimos anos e em geral seus rankings têm sido caracterizados por um nível significativo de estabilidade. Isso coloca o jornal em meio a um dilema: como os rankings podem levar a uma narrativa quando poucas mudanças ocorreram de um ano para o outro?
 
Os resultados do Leste Asiático
Felizmente para o THE, as politicas das concentrações de pesquisa de muitos governos do leste da Ásia— tais como o projeto 985 na China, Brain 21 na Coréia e outros—resultaram no aumento crescente dos números de publicações e citações para cerca de 20 universidades na região. Como resultado, estas instituições têm ao longo dos anos visto um aumento estável em suas posições no ranking, o que permitiu o THE realizar uma serie constante da “Ascensão das estórias da Ásia.” As universidades asiáticas apreciaram a cobertura e retribuíram, dando ao THE uma porção justa de negócios em vendas de anúncios e fluxo de conferência. Contudo, quando o THE apresentou estórias sobre “A Ascensão da Ásia” em seus rankings de 2014, agia movido pela força do hábito e não por uma análise sóbria dos dados. 
 
A evidência de um crescimento da Ásia no quadro real de classificações claramente não se encontra nos principais 50. A Universidade de Tóquio e a Universidade de Hong Kong ficaram inalteradas em suas posições desde ano passado para este ano. A Universidade de Pequim subiu uma posição e a Universidade Nacional de Singapura subiu três posições; com a descida de uma posição da Universidade de Tsinghua na China, e a Universidade Nacional de Seoul que desceu seis posições. Todas afirmaram que “não há mudanças para o continente.”
 
Ao descermos das posições 50ª para 200ª nos rankings, vemos uma mistura de bom e ruim, pelo menos entre universidades do Leste asiático. Praticamente todas as universidades japonesas viram quedas de dois dígitos nas posições, assim como a Universidade Nacional de Taiwan e a Universidade Chinesa de Hong Kong. Na Coreia, a Postech caiu seis posições da 60ª para 66ª, enquanto que a Universidade de Yonsei desceu da posição das principais 200. Entre as universidades do Leste asiático que se encontravam no ranking entre as 50 e 200, apenas a duas (o Instituto Avançado de Ciências e Tecnologia da Coreia e a Universidade de Ciências e Tecnologia de Hong Kong) subiram nos rankings.
 
Em compensação a este baixo desempenho, de certa forma foi a ascensão   entre as principais 200 da Universidade da Cidade de Hong Kong (192ª), Universidade de Fudan na China (193ª) e a Universidade de Sungkyunkwan na Coreia (148ª). Desta forma, embora tenha acontecido um ganho liquido de 2 instituições chegando entre as principais 200, a posição média das universidades do leste asiático caiu de certa maneira. Por quaisquer medidas sensatas, este é um panorama misto e não uma “ascensão” inequívoca
 
A Turquia salva a Ásia
Então como o THE pode aparecer com a alegação de uma “ascensão da Ásia”? Bem, o jornal não diz tão diretamente em sua cobertura de noticias, mas isso se deve em grande parte à Turquia. A única instituição da Turquia que estava entre as principais 200 previamente, a Universidade de Bogazici, que saltou 60 posições para a 139ª. A Universidade Técnica de Instabul subiu uma faixa entre 201–225 (abaixo de 200, o Times não oferece rankings específicos, e ao contrário, posiciona de maneira sensata as instituições em faixas) para a 165ª posição. A Universidade Técnica do Oriente Médio subiu da mesma faixa para a 85ª, enquanto que a Universidade de Sabanci saiu da posição de não classificada para a 182ª posição.
 
Por que então as universidades turcas de um momento para outro aparecem em foco? Richard Holmes, que administra o University Ranking blog, oferece uma resposta convincente, ressaltando que um único jornal (O amplamente citado “Observação de um novo bóson…” na Physics Letters B, que anunciou a confirmação do Bóson de Higgs) era o responsável por grande parte da movimentação nos rankings deste ano. Este jornal teve mais de 2,800 coautores, incluindo daquelas subitamente grandes universidades turcas. Pelo fato do THE não contar fracionariamente artigos de múltipla autoria, cada instituição que tem um coautor no jornal consegue incluir todas as citações. E pelo fato da metodologia do THE em citações ser estruturada para dar efetivamente muitos “pontos de bonificação” a universidades localizadas em países onde as publicações científicas são baixas, isso elevou os números à estratosfera e não apenas na Turquia. Outros exemplos disso são a Scuola Normale di Pisa na Itália que veio de literalmente nenhum lugar para ser classificada na 65ª posição no mundo ou a Universidade Técnica Federico Santa María no Chile que foi classificada como a 4ª na América Latina. 
 
Uma tendência ou o acaso?
Então basicamente, toda a base fatual para estória da ascensão da Ásia foi sedimentada quase que completamente no fato de alguns dos 2,800 coautores no jornal “Observação de um novo bóson...” trabalharem na Turquia, o que torna tal ascensão uma peculiaridade estatística e em nada tendo a ver com a ascensão de longo prazo das universidades em economias em ascensão no restante do Leste da Ásia e China. Certamente, muitas dessas instituições parecem ter regredido, levando-nos a questionar se existem quaisquer circunstâncias sob as quais o THE escolheria não realizar uma matéria sobre a “Ascensão da Ásia.”
 
O THE, louvavelmente, iniciou recentemente consultas populares para rever suas metodologias. Claramente suas políticas na avaliação de citações precisam de urgente reformulação. Contudo, talvez também devesse ser dedicada alguma reflexão às suas politicas editoriais: a obsessão em retratar uma Ásia exuberante não está fazendo nenhum bem à publicação.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
Diretor da San Ives International Language Center
Rua Roberto Simonsen, 421
Parque Taquaral
13076-416 Campinas SP
(19) 3365 -1035

Ordem de Fornecimento 116799-14/1 emitida em 15 de outubro de 2014 pela Funcamp,
após indicação do Gabinete da Reitoria