13/06/2013

International Higher Education

América Central: o valor da cooperação acadêmica internacional

Nanette Svenson
Professora adjunta do Centro Payson para o Desenvolvimento Internacional da Universidade Tulane, Nova Orleans, Louisiana. E-mail: nanette.svenson@gmail.com
Como muitas pequenas regiões em desenvolvimento, a América Central traz uma contribuição mínima para as iniciativas mundiais de pesquisa. Ela responde por menos de 0,05% da pesquisa e desenvolvimento mundiais e por apenas 0,07% de todas as publicações no Índice de Citações Científicas. Por mais que isto possa fazer com que os avanços científicos e tecnológicos centro-americanos pareçam não merecer um estudo aprofundado, a verdade é bem diferente disso, pois o progresso nesta frente vai provavelmente determinar a extensão do desenvolvimento da região nas próximas décadas.
 
Sete países formam o subcontinente localizado entre México e Colômbia: Belize, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá. Todos são diferentes sob muitos aspectos, mas se enquadram na categoria de "renda média" do Banco Mundial correspondente aos países em desenvolvimento. Assim, apesar de apresentar uma taxa de pobreza de 40%, a América Central não é pobre o bastante para ser candidata à parcela mais expressiva do auxílio dos doadores.Não é grande nem rica o bastante para gerar internamento o crescimento científico necessário para impulsionar o desenvolvimento. É interessante notar que mais da metade das economias do mundo se enquadram nessa mesma categoria intermediária – quase o dobro do número de países nas fatias de renda alta e renda baixa. Assim, as circunstâncias que envolvem a América Central, especialmente no que tange sua participação na exploração científica global, não são únicas. A cooperação acadêmica internacional oferece meios poderosos de atender a esta preocupação e superar algumas das lacunas existentes.
 
Obstáculos
A América Central enfrenta numerosos desafios ao desenvolvimento de sua capacidade de pesquisa. O número de matrículas no ensino superior aumentou nos últimos anos – graças à proliferação das universidades privadas e a vários incentivos financeiros ao mercado de trabalho – chegando à média de participação de 25% da população da faixa etária correspondente à universidade; entretanto, estima-se que a proporção de alunos que concluem os cursos seja bem mais baixa do que isto, talvez menos da metade. Com a exceção da Costa Rica, a qualidade também é questionável. Nenhuma universidade centro-americana aparece nas classificações internacionais; o investimento público no ensino está abaixo da média de 5% do PIB da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico; poucos professores têm diplomas avançados; os mecanismos de controle de qualidade estão melhorando, mas continuam sendo insuficientes; e os currículos são em geral desatualizados, demasiadamente teóricos e inaplicáveis ao trabalho no setor produtivo.
 
Além disso, a região investe pouco na pesquisa científica. Diferentemente das regiões industrializadas, 70% do investimento é público, dispondo de pouco ou nenhum apoio do setor privado. Isto representa uma limitação considerável, pois os governos já lutam para prover o orçamento das despesas fundamentais com a saúde e o ensino – restando pouquíssimo para a atividade científica e tecnológica. Consequentemente, a pesquisa é vista como um luxo, a maioria dos responsáveis pelas políticas públicas pouco sabe do retorno potencial proporcionado por tal atividade, e a América Central se vê com uma das mais baixas taxas de investimento em pesquisa e desenvolvimento de todo o mundo. Os esforços de institucionalização também são fracos, o que prejudica a sustentabilidade dos programas de pesquisa. Por fim, a região opera principalmente em espanhol. Isto facilita a cooperação com a América Latina, mas impede a cooperação com a América do Norte, Europa, Oceania e Ásia, onde ocorre a maior parte da exploração científica e de onde vem o maior número de publicações do setor.
 
Mesmo com esses obstáculos, a América Central tem algo a oferecer à comunidade científica global. Seus recursos naturais, sua tradição indígena e histórica importância migratória, entre outras características, fazem da região um alvo de estudos. sua proximidade com a América do Norte, a relativa estabilidade político-econômica e a base alfabetizada de capital humano contribuem para a existência de uma plataforma operacional. Valer-se desses bens para trazer o ensino ao nível do desenvolvimento de uma capacidade científica significativa é o próximo passo.
 
Iniciativas promissoras
A cooperação acadêmica internacional pode fazer muito para aumentar os orçamentos de pesquisa científica e ajudar no incremento da capacidade. Na verdade, o financiamento internacional responde atualmente a quase 20% do gasto científico da América Central. Nesse aspecto uma das áreas mais promissoras é a dos programas liderados pelas universidades transfronteiras e pelos institutos de pesquisa. Alguns desses foram criados nas últimas décadas e começam a produzir importantes dividendos. Isto é especialmente verdadeiro nos locais em que as sinergias coletivas foram desenvolvidas em torno de áreas de interesse regional comum – como agricultura, gestão ambiental e saúde.
 
O Centro de Ensino Superior e Pesquisa em Agricultura Tropical (CATIE) da Costa Rica é um exemplo desse tipo. Criado 60 anos atrás por meio do Instituto Interamericano de Cooperação e Agricultura e hoje sustentado pelo Banco Mundial e outros doadores internacionais, o CATIE é um centro regional de pesquisa e ensino com foco na agricultura e na gestão de recursos naturais. Já formou mais de 2.000 estudantes, opera mais de 100 projetos de pesquisa, emprega professores e pesquisadores de 25 países e produz numerosas publicações e inglês e espanhol.
 
Outros exemplos semelhantes ao CATIE incluem o Instituto Smithsonian de Pesquisa Tropical dos EUA no Panamá; a Universidade para a Paz das Nações Unidas, na Costa Rica; o Instituto de Nutrição da Organização Panamericana de Saúde para a América Central e o Panamá na Guatemala; e a Escola Latino-Americana de Ciências Sociais, mantida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, com programas em toda a região – incluindo Costa Rica, Guatemala, El Salvador e Panamá. Todas essas iniciativas criam hubs regionais para a geração de conhecimento especializado, ensino, pesquisa e inovação em áreas fundamentais para o desenvolvimento da América Central. Por poderem se valer da capacidade e do financiamento internacional para a pesquisa científica, além de poderem incorporar participantes regionais e estudantes, eles vão continuar a avançar oportunidades para a transferência de conhecimento.
 
Avançando
Nos níveis regional e nacional, os governos centro-americanos precisam contribuir de maneira mais consistente e efetiva com tais iniciativas. Reforçar as entidades nacionais responsáveis pela inovação científica é essencial, assim como oferecer métodos de monitoramento e aviação para a produção de dados relativos à atividade científica em desenvolvimento. A Costa Rica é o país da região que mais avançou nesse sentido, seguida por Panamá e Guatemala, mas ainda há muito a ser feito em todos os países. O estabelecimento de alvos mais estratégicos para o desenvolvimento de capacidades científicas e tecnológicas mais específicas e a associação das metas de desenvolvimento com a construção da capacidade científica também são importantes para melhor identificar as prioridades na hora de destinar os recursos.
 
As universidades centro-americanas também precisam fazer mais para que o processo se aprofunde. Mesmo com seus recursos limitados, o alinhamento dos currículos de pós-graduação com métodos de pesquisa que melhor reflitam os princípios de Frascati, usados como parâmetro global em outras regiões, representaria um sólido primeiro passo nesta direção. O reforço das habilidades de língua inglesa complementaria tal esforço. Essas duas iniciativas ajudariam a preparar o corpo docente e os estudantes para o envolvimento e a participação em parcerias internacionais de pesquisa. Instigar mais programas de cooperação acadêmica como os descritos acima estimularia o aprendizado acadêmico na região e daria às universidades mais influência diante dos governos nacionais na busca pelo aumento nos orçamentos de pesquisa.
 
O desenvolvimento da capacidade tecnológica e científica da América Central é uma tarefa desafiadora. Independentemente disso, há recursos e modelos disponíveis para facilitá-la, e o progresso é observado em áreas isoladas. Tais avanços devem ser cultivados e expandidos. A melhor utilização da capacidade científica e tecnológica internacional para fazer avançar as metas regionais de desenvolvimento é algo que pode beneficiar muito os países da América Central. Pode também inspirar países de renda média que enfrentam desafios semelhantes em outras regiões em desenvolvimento a fazerem o mesmo.