25/04/2012

International Higher Education

Administrando e liderando universidades africanas num mundo globalizado

Pius Coxwell Achanga
Trabalha para o Departamento de Controle de Qualidade do Conselho Nacional de Ensino Superior, Uganda. E-mail: puis_achanga@yahoo.com
International Higher EducationOs líderes das universidades africanas enfrentam uma necessidade urgente de expor os aspectos críticos do funcionamento das universidades num mundo globalizado. No século 21, a tarefa de administrar e liderar universidades traz imensos desafios – que decorrem de suas complexidades, como o fato de serem instituições mutltifacetadas com grandes orçamentos ou os efeitos do ensino transfronteiras. Este artigo explica a necessidade de proporcionar aos líderes das universidades africanas oportunidades de treinamento na natureza da administração universitária como pré-requisito para o seu trabalho. Em 1960, havia apenas 20 universidades funcionando na África. Hoje são mais de 500 universidades (tanto públicas quanto privadas). Essa súbita explosão no número de universidades decorre de certos fatores, incluindo a universalização do ensino secundário e a percepção do ensino superior como uma commodity viável e lucrativa. Entretanto, com o aumento no número de universidades, surge uma demanda de alto nível pela liderança de qualidade necessária para administrar essas instituições.
 
Desafios de liderança
Na maioria dos países africanos, a escolha dos líderes e gestores das universidades tem como base as conquistas acadêmicas e o apoio do governo. Na maioria dos países, o alto escalão da liderança universitária (reitores e vice-chanceleres) recebe acesso a tais posições com base no fato de serem estudiosos renomados. Embora tal fenômeno possa ser considerado positivo, na realidade seria importante envolver os potenciais líderes universitários num treinamento, capacitando-os para enfrentar os desafios relacionados. Em Uganda, poucos vice chancellors participaram de programas rigorosos de treinamento em liderança e gestão, e poucos programas foram criados para oferecer um contexto voltado para a África. Ainda assim, a maioria dos vice chancellors das universidades africanas enfrentam numerosos desafios de administração e recursos humanos.
 
Emergência da mantenedoras privadas
No contexto africano, ocorreu a emergência de novos provedores de ensino universitário – as mantenedoras privadas. O aumento no número desses provedores particulares no setor das universidades levanta uma série de questões, pois a maioria não oferece um ensino de qualidade. Além disso, enfrentam imensas dificuldades – às vezes sendo obrigadas a encerrar atividades tão logo obtêm a licença de funcionamento. Por outro lado, dentro do setor privado, muitas vezes os vice chancellors não são escolhidos por serem estudiosos de renome, e sim por fazerem parte do grupo proprietário (empreendedores, sócios ou membros do conselho de acionistas). Assim, o problema é agravado quando a pessoa encarregada de liderar uma universidade particular demonstra carecer do know-how elementar para administrar uma instituição de tamanha magnitude – criando assim constantes deficiências, como o ensino de baixa qualidade.
 
O caminho do avanço
Como responsável pelas instituições de ensino superior em Uganda, o Conselho Nacional de Ensino Superior iniciou um programa-piloto de treinamento em administração e liderança com duração de três anos para preparar melhor as lideranças universitárias emergentes do país. O Programa de Treinamento em Gestão e Liderança, patrocinado pela Carnegie Corporation, de Nova York, busca identificar, preparar e equipar 150 líderes universitários emergentes com habilidades administrativas fundamentais para o ensino superior.
 
Com base numa avaliação de necessidades, foi decidido que nove módulos seriam desenvolvidos. O primeiro módulo, batizado de "Ensino africano num mundo globalizado", introduz o conceito da globalização e outros fatores a ela associados – como a internacionalização e o ensino transfronteiras. O segundo módulo, "Liderança, inovação institucional e desenvolvimento", lida com o tema da liderança nas universidades, que é visto como uma alavanca crucial para fazer as instituições avançarem no sentido desejado. O terceiro módulo, intitulado "Governança corporativa das universidades", é voltado à facilitação de uma compreensão mais aprofundada das questões de governança corporativa enfrentadas pelas universidades. O quarto módulo, "Gestão dos recursos das universidades", tem como objetivo equipar os administradores universitários com o conhecimento necessário à captação e gestão de recursos. O quinto módulo trata de "Gestão de processos acadêmicos". O sexto trata das questões de desenvolvimento socioeconômico e articula a noção das universidades como elementos-chave na transformação do panorama econômico de países inteiros. A filosofia subjacente à seleção de módulos tem como base a premissa de que os participantes recebam a oportunidade de determinar aquilo que será oferecido por um determinado módulo. Esse aspecto do desenvolvimento dos módulos é capturado durante as respectivas sessões de treinamento e é refinado por criadores de módulos cuidadosamente selecionados, donos de um conhecimento profundo no desenvolvimento de currículos. O sétimo, oitavo e nono módulos devem adotar uma estratégia semelhante, mas prevê-se que tratem das questões estratégicas (reflexão e planejamento) – envolvendo o ensino superior como um todo.
 
Para atingir o objetivo de atrair participantes com credibilidade ao programa, a Equipe de Treinamento em Gestão e Liderança dedicou- se a um intenso processo de seleção de participantes. Workshops introdutórios nas universidades identificaram líderes potenciais comprometidos com um programa de treinamento de três anos e com o sistema de ensino superior. A estratégia de busca ativa, adotada para envolver diretamente as universidades no processo seletivo, trouxe resultados excelentes. O plano proporcionou uma oportunidade maravilhosa tanto para a Equipe quanto para a comunidade universitária, esclarecendo questões e lidando com ansiedades e potenciais problemas – antes do treinamento. O programa identifica vice chancellors e ex vice chancellors como instrutores. Eles não têm de fazer palestras, mas adotar uma abordagem facilitadora. Essa abordagem constitui em desenvolver um pool de facilitadores de treinamento em gestão e liderança nas universidades do continente. Como parte do treinamento, exige-se das turmas que ofereçam projetos de reforma para suas instituições. O programa trabalha atualmente com 12 universidades em Uganda, tanto públicas quanto privadas, e é monitorado pela Evaluation Research Agency, com sede em Stellenbosch, África do Sul.
 
O resultado obtido até o momento
Já foram treinadas três turmas de gestores e líderes de nível intermediário e superior vindos das universidades participantes. Em cada caso, o projeto testemunhou um grande entusiasmo e uma mentalidade aberta diante da reavaliação da visão de mundo dos participantes e do aprendizado de novas técnicas. A grande disposição para implementar os projetos de reforma nas respectivas universidades promete um sucesso sem igual para o projeto. Os participantes foram capazes de demonstrar a capacidade de distinguir os papéis desempenhados pelos vários envolvidos no ensino superior e também os relacionamentos entre eles. Além disso, os participantes demonstraram um grau considerável de capacidade de avaliação e se mostram determinados na criação de estratégias para auxiliar no seu progresso.
 
Conclusão
O número de universidades na África vai continuar a crescer, conforme os países buscam a aquisição de conhecimento para o seu desenvolvimento econômico. A tarefa de administrar e liderar as universidades emergentes traz desafios teóricos e práticos. O ônus da preparação recai sobre os líderes universitários. A adoção de iniciativas inovadoras como o Programa de Treinamento em Gestão e Liderança, da Carnegie, pode levar líderes potenciais a se envolver no processo de reforma e definir o estilo de liderança para os formandos que se tornarão os líderes do próprio país.
 
capa da edição impressa nº 5 | abril de 2012