27/01/2015

International Higher Education | 77

Acesso ao ensino superior: o caso israelense

Iris Ben-David e Yaakov Iram
Iris Ben-David e Yaakov Iram são professores da Faculdade de Educação na Bar-Ilan University, Ramat Gan, Israel. E-mail: iris.bendavidhadar@gmail.com e Iram@biu.ac.il
O sistema acadêmico israelense é bem desenvolvido e apresenta elevado nível de realizações acadêmicas (ex: elevado índice de citação, laureados com o Prémio Nobel per capita e a criação de empresas de tecnologia de ponta). A Economia de Israel é altamente dependente em seu nível acadêmico e em sua indústria high-tech, o que levou o estado de Israel ao seu incrível crescimento econômico ao longo da última década. Além disso, o elevado nível acadêmico de Israel é percebido como uma infraestrutura para sua própria existência.
 
Apesar disso, junto com a excelente realização da academia israelense, em anos recentes, desafios substanciais estão sendo enfrentados como resultado de tendências culturais, demográficas e econômicas que estão alterando a composição social de Israel. Tais tendências desafiam a habilidade do setor acadêmico do país no sentido de manter suas realizações como altamente conceituadas.
 
As tendências econômicas colocam um pesado entrave na habilidade de acesso ao ensino superior. A economia baseada em conhecimento certamente contribui para o crescimento econômico, mas apresenta um efeito adverso da crescente desigualdade. As desigualdades adicionais de renda e a onda crescente de pobreza infantil (entre as crianças israelenses atualmente cada terceiro filho é pobre) na realidade muda as características de base do estudante israelense em potencial.
 
Além disso, as tendências demográficas em Israel têm chegado ao ponto em que desafiam o status quo da sociedade. Entre as crianças da primeira série no sistema escolar israelense, mais de 50 por cento são árabes ou judeus ultra ortodoxos. O aspecto demográfico não é o único desafio. As barreiras culturais representam um desafio adicional. Dentro da população israelense mais de 20 por cento são judeus ultra ortodoxos cuja a maioria não se interesse por instituição de ensino superior.
 
De fato os decisores israelenses aspiram por diminuir os impactos dessas tendências, concebendo e promulgando várias reformas políticas. Até o momento, considerações políticas de redistribuição (ex: alocando do “rico” para o “pobre”) dificultam as realizações de uma política eficaz de fato. 
 
Este artigo enfoca as tendências de acesso e estratificação dentro do ensino superior israelense. Israel representa um caso interessante dada diversidade étnica e sociocultural de sua população, equilíbrio minoritário e maioritário do poder, sua crescente tendência em desigualdade, e seu aumento percentual crucial da pobreza infantil.
 
Acesso
O aumento da tendência de acesso às instituições de ensino superior de Israel é refletido no crescente percentual de estudantes matriculados em um grupo de idade relevante em programas de graduação, variando de 6 por cento em 2004 para 7.4 por cento em 2012. A partir de 2014, 194,129 estudantes foram matriculados em programas de graduação. Uma tendência menos proeminente encontra-se evidente nos programas pós graduação, em que o ingresso dos estudantes foi de 1.8 por cento em 2004 sendo atualmente similar: cerca de 52,698 e 10,615 estudantes estão matriculados em programas de pós graduação e PhD respectivamente.
 
Esta tendência adicional de acesso ao sistema de ensino superior israelense é mais proeminente entre os estudantes árabes, que entre seus pares judeus.   Especificamente, o acesso dos estudantes árabes aumentou em 53 por cento (de 2.8 por cento em 2004 para 4.3 por cento em 2012). O setor judeu apresenta um aumento de tendência mais modesto de 18 por cento (de 7.1 por cento em 2004 para 8.4 por cento em 2012).
 
Estratificação
Apesar deste aumento nas tendências de acesso, a estratificação ainda é evidente. A lacuna entre os grupos étnicos, embora em diminuição, ainda é particularmente grande. Especificamente a lacuna entre os estudantes judeus e árabes matriculados em programas de graduação foi reduzido de mais de 2.5 vezes para menos de 2 vezes (entre 2004 e 2012).
 
Não existem disparidades entre os sexos entre a população de estudantes. Além disso, de acordo com o Central Bureau of Statistics Annual Report de (2013) / Relatório Anual de Estatística da Agência Central de Israel, houve uma reversão na tendência entre os beneficiários de diplomas de universidades. Por exemplo, em 1992, a lacuna entre os sexos dos estudantes de pós graduação favorecia os homens — pós graduados: 56 por cento (44 por cento para as mulheres); e PhD: 67 por cento (33 por cento para as mulheres). De fato, duas décadas mais tarde (2010), a lacuna favorecia as mulheres—pós graduadas: 56 por cento (44 por cento para os homens; e PhD: 50 por cento (50 por cento para os homens). Em nível de graduação a lacuna entre os sexos de mulheres favorecidas está aumentando—em 1992: 52 por cento (48 por cento para os homens); e em 2010: 57 por cento (43 por cento para os homens). Contudo, as mulheres árabes apresentam menos possibilidades de adquirir uma educação superior que os homens árabes e as mulheres judias.
 
A estratificação já existe nos níveis educacionais mais baixos. As distribuições do aproveitamento dos estudantes israelenses — conforme avaliado pelos exames internacionais do Programa para a Avaliação do Estudante Internacional em 2006, 2009, e 2012—são todas caracterizados por um nível de aproveitamento médio e uma ampla lacuna de aproveitamento. Na verdade, os estudantes do ensino médio israelense apresentam a maior lacuna de aproveitamento entre os países da (OECD) sigla em inglês para: Economic Cooperation and Development, Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento.
 
Aparentemente, o aproveitamento no ensino médio (ex: a obtenção de um certificado do ensino médio) não é a única condição para ingressar no ensino superior. Além disso, existem vários obstáculos que nutrem a estratificação do ensino superior israelense. Nas escolas do ensino médio de língua hebraica, cerca de 70 por cento daqueles elegíveis para um diploma do ensino médio têm acesso ao ensino superior. Em comparação, nas escolas do ensino médio de língua árabe, menos de 50 por cento daqueles elegíveis para um diploma do ensino médio têm acesso ao ensino superior.
 
A estratificação no ensino superior pode ser apenas explicada parcialmente pelas camadas baixas socioeconômicas. Especificamente, dentro das residências judias de uma camada socioeconômica baixa, onde uma de três pessoas tem acesso ao ensino superior, em comparação com dois de três entre as residências judias de uma camada socioeconômica alta. Contudo, dentro das residências árabes, menos de um de três tem acesso ao ensino superior, independentemente de suas camadas socioeconômicas.
 
Implicações políticas
O exame longitudinal é encorajador, pois o acesso ao ensino superior israelense tem apresentado uma tendência incremental. Contudo, ainda é estratificado para grupos minoritários étnicos e para estudantes de camadas socioeconômicas baixas. Isso poderá desafiar a frágil coesão dentro de Israel. A tendência é de melhoria —de aumento de acesso e estratificação reduzida—porém o índice de melhoria é atualmente muito baixo. Outros países da OECD apresentam índices de acesso mais elevados ou índices de melhoria maiores, o que desafia a competitividade israelense—um recurso altamente importante para Israel.
 
Na realidade, é provável que qualquer reforma no ensino superior esteja destinada a ser menos eficaz, a menos que seja parte de uma visão mais holística do sistema de ensino em todos os níveis. Uma política financeira escolar equitativa é necessária a fim de melhor compreendermos os obstáculos reais (além do fato óbvio da camada socioeconômica). De igual modo, embora os decisores possam reconhecer que tal reforma teria um resultado positivo na diminuição da estratificação do ensino superior israelense, precisarão lidar com as questões políticas da redistribuição. As questões ilustradas em Israel poderão ser relevantes para outros países multiculturais que enfrentam o desafio de reduzir a desigualdade.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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