27/07/2015

International Higher Education | 80 | Especial 20 anos

A sociedade do conhecimento global: conflito entre a razão instrumental e a fundamentada?

Pavel Zgaga
Professor no Centro para Estudos de Política Educacional na Universidade de Ljubljana e ex-ministro da educação, Slovenia. E-mail: pavel.zgaga@guest.arnes.si
Em poucas décadas após sua criação, o conceito de sociedade do conhecimento passou a não ser mais exclusivo das ciências sociais; tornou-se comum em políticas, na mídia, e na linguagem do dia a dia, conquistando novos significados e novas interpretações. Por apresentar definições diferentes, até mesmo opostas e vários usos, suscita um conjunto de questões. Por exemplo, que consequências ele traz para as formas tradicionais de conhecimento, tal como o conhecimento acadêmico?
 
O conhecimento acadêmico, reconhecido e apreciado por séculos, tem uma nova ênfase que pode ser ilustrada em uma frase frequente: “Isto é apenas conhecimento acadêmico.” O atributo “apenas” expressa certa relutância, sugerindo que além do conhecimento acadêmico “tradicional” existe ainda outro conhecimento — o conhecimento “moderno” de valor mais elevado, promovido como “útil, eficaz e “produtivo, “e em posição contraria a “inútil,” “abstrato” e “teórico,” isto é, “apenas conhecimento acadêmico.” Acadêmicos em todo mundo, especialmente aqueles que atuam nas áreas de humanidades e ciências sociais, são cada vez mais frequentemente inseridos em uma posição de poder provar a “importância,” “relevância” e “utilidade” de suas pesquisas “tradicionais,” pretensamente vistas como suspeitas. O conhecimento, no interesse do conhecimento, tornou-se uma espécie ameaçada na sociedade do conhecimento?
 
A sociedade do conhecimento aprecia o “conhecimento útil,” aquele caracterizado por um elevado grau de confiabilidade e nos dias de hoje, é esse o tipo que impulsiona a economia. Na sociedade do conhecimento, o risco tem sido transferido para os gerentes, enquanto a confiabilidade e segurança são esperadas dos “pesquisadores profissionais.” O conhecimento útil, produzido por eles, baseia-se no esforço especifico da pesquisa, estando restrito apenas às certezas. Produzido nos campi em todo mundo e também fora deles, a produção do “conhecimento útil” está cada vez mais se expandindo nos institutos não universitários e empreendimentos comerciais.
 
Por toda a história, as universidades têm sido o espaço que permitiu e incentivou outro tipo de empreendimento de pesquisa, que não pode ser restrito às certezas apenas. As universidades se promovem como o lugar da confrontação intelectual — com todos os espaços desconhecidos à nossa volta, com infinitas dimensões, não sabemos sobre a natureza, sociedade e humanidade. A confrontação da pesquisa com esses espaços escuros é o confronto com a incerteza, com o desconhecido. É isso que atrai um verdadeiro pesquisador. Infelizmente, o conhecimento que é o resultado desse tipo de empreendimento de pesquisa pode ser facilmente acusado hoje como “inútil.”
 
Porém, o conhecimento instrumental e fundamentado, se usarmos um diferente conjunto de palavras, não é necessariamente uma forma mutuamente exclusiva de conhecimento. São apenas duas formas de conhecimento: duas de varias epistemologias. Um dos desafios com os quais as universidades se deparam em nossos dias são as interpretações profanas do conceito de sociedade do conhecimento, que gera conflito e relação hierárquica entre o “útil” e o “apenas conhecimento acadêmico.” De uma perspectiva do ensino superior, é, portanto necessário reteorizar e reconceitualizar a ideia de sociedade do conhecimento — incluindo a critica de suas dimensões ideológicas e normativas. Esta questão representa grandes implicações para os objetivos do ensino superior, assim como para a missão das instituições.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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