19/08/2015

International Higher Education | 81

A luta para reconstruir e transformar o ensino superior no Afeganistão

Fred M. Hayward e Mohammad O. Babury
Hayward é especialista em ensino superior na University of Massachusetts, Amherst e tem sido consultor para o Ministério do Ensino Superior desde 2009. E-mail: haywardfred@hotmail.com. Babury é vice-ministro para Assuntos Acadêmicos do Ensino Superior no Ministério do Ensino Superior do Afeganistão e professor de farmacognosia, Universidade do Cabul. E-mail: deputyminister.mohe@gmail. com
O sistema do ensino superior no Afeganistão foi uma das casualidades de mais de 30 anos de Guerra, com mais de um milhão de pessoas mortas, mais de 6 milhões que fugiram, a maioria de suas instituições do ensino superior danificadas, muitas de suas instituições fechadas, mulheres excluídas da educação e mais da metade de seus membros docentes e efetivos perdidos. Seus programas acadêmicos são apenas o resto do que sobrou daquela que já representou uma história de orgulho de um líder do ensino superior na região. O Ministério do Ensino Superior deparou-se com uma enorme tarefa de reparar e reabilitar o sistema tão logo os Talibãs foram removidos.
 
Enfrentando os desafios
Entre os desafios mais difíceis foram os custos humanos da guerra, incluindo a elevada evidência de transtorno do estresse pós-traumático, depressão, e outras questões de saúde mental que afetaram mais da metade da população estudantil. A substituição da metade dos membros docentes que se perdeu com a guerra foi outro desafio. Faltava transparência aos processos dos funcionários. Ideologia, etnia e região haviam se tornado os fatores mais importantes nessas decisões. O exame de admissão (o Kankor) também fora afetado e as pessoas perderam a credibilidade no mesmo. O ensino superior fora descriminado de outras maneiras. Nenhuma pesquisa em curso, e as universidades tinham pouco a oferecer ao governo quanto às soluções para os problemas críticos. O ensino também sofreu com o distanciamento dos funcionários restantes do estado atual de suas áreas. 
 
Em meados de 2009, progresso suficiente havia sido alcançado quanto ao concerto do pior dano institucional e era possível pensar sobre planos sistemáticos para reabilitação e mudança. Sob a liderança do Ministro Adjunto para Assuntos Acadêmicos, um comitê de gestão desenvolveu o Plano Estratégico: 2010-2014 (NHESP). Seus dois objetivos primários foi aumentar o acesso e melhorar a qualidade, focando-se no currículo, governança, desenvolvimento de docentes e instalações, o que levou a novas políticas para que grandes melhorias na qualidade fossem feitas no sistema. A fundação para acreditação foi concluída em julho de 2011. Em meados de 2013, 12 universidades haviam concluído a auto avaliação institucional, 50 revisores tinham sido treinados, e em setembro as primeiras 6 universidades alcançaram a candidatura para acreditação, o primeiro passo no processo de três estágios. Outro objetivo do NHESP foi alcançado quando as matriculas dobraram de seus níveis em 2008 de 54,683 para 130,195 em 2013, um ano na frente da meta. O ensino superior privado que fora ilegal até 2006, florescia — embora de qualidade mista — com 90 instituições e mais de 130,000 estudantes em meados de 2014. O processo do Kankor fora simplificado e a corrupção eliminada. Uma revisão de grande dimensão e atualização do currículo estava a caminho. Em meados de 2014, mais da metade do currículo das instituições públicas do ensino superior tinha sido revisada, reescrita e atualizada pela primeira vez na história.  
 
Uma Estratégia de Gênero do Ensino Superior foi lançada ao longo de 2013, refletindo a cooperação estreita entre o Ministério do Ensino Superior e o Ministério para Assuntos da Mulher. O número de mulheres estudantes foi de zero em 2001 a 30,997, quase 19 por cento dos estudantes. O esforço para recrutar mulheres docentes não teve tanto sucesso, parcialmente pelo numero de graduados do sexo feminino, alcançando apenas 15 por cento do total dos membros docentes. O Ministério do Ensino Superior trabalhou para vencer uma das principais barreiras no sentido de aumentar o número mulheres, como por exemplo, a falta de moradia segura e adequada, com três dormitórios femininos em construção, dois deles financiados através do Departamento de Estado dos EUA e um com fundos do exercito americano, fornecendo acomodações para quase 1,600 mulheres.
 
Como apenas 5 por cento do corpo docente com PhD e 32 por cento com mestrado, um dos principais problemas para melhoria da qualidade, o Ministério do Ensino Superior enviou mais de 1000 docentes sem formação avançada a ingressar nos programas de mestrado e PhD—750 no exterior. Os primeiros destes acadêmicos estão em processo de retorno, trazendo novas energias e entusiasmo para o ensino, além do desejo de conduzir pesquisas. Pela primeira vez em décadas, surge o financiamento de pesquisas, disponível a membros docentes em 2012, através do Banco Mundial.
 
Desafios contínuos
O problema mais prevalente para a melhoria do ensino superior é a falta de financiamento. Embora o governo tenha o ensino superior em sua lista de prioridade, isso não se reflete em financiamentos para o ensino superior, onde as verbas entraram em declínio em bases per capitas em anos recentes para apenas US$443 de US$522 em 2010. Parte do problema financeiro é a falta de financiadores interessados com a participação única da Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional e do Banco Mundial como os principais financiadores. A maioria dos financiadores está focada na educação primária como parte do esforço mundial de produzir a educação primária universal até 2015 através do programa educação para todos. Embora aplaudamos tal sucesso, os efeitos de longo prazo são um aumento nos números de graduados da escolar secundária que apresentam maiores demandas por admissão no ensino superior.
 
Guerra continua, corrupção e má gestão têm levado a perda de confiança e esperança para muitos estudantes que questionam as possibilidades de um futuro para suas vidas. O entusiasmo e otimismo que vimos em 2003 transformaram-se em descredito quase geral do governo. Outro desafio é o alto nível de centralização do ensino superior. O Ministério do Ensino Superior está comprometido com o aumento da descentralização com a aprovação de suas medidas em novembro de 2013 para o processo de descentralização financeira. Isso dará as universidades bem mais autonomia, flexibilidade e lhes permitirá a manutenção de fundos oriundos de atividades empresariais.
 
Quando pensamos sobre as mudanças ocorridas ao longo dos últimos cinco anos, vemos muitos progressos fundamentais no sistema que se transformaram em evoluções importantes. Mudanças intensas ainda precisarão ser feitas para recriar a cultura da pesquisa, fornecer um ensino mais focado no estudante, a criação de uma cultura desafie a criatividade e inovação, promoção da equidade de gênero e expansão da descentralização.
 
O Ministério do Ensino Superior enfatizou áreas críticas para melhoria da qualidade: a criação de acreditação, desenvolvimento de docentes, atualização de currículo e um compromisso de recrutamento e promoção dos funcionários baseados em mérito. Os desafios permanecem em particular os recursos financeiros limitados, corrupção e interferência política. Apesar disso, há um quadro de acadêmicos e administradores comprometidos e envolvidos com o trabalho, fortemente dedicados à transformação do sistema. Embora as vitórias sejam tênues, é provável que obtenham o sucesso desejado na manutenção, expansão e institucionalização de tais mudanças. Este é o desafio para 2014–2015 e certamente acreditamos que as chances de sucesso contínuo são positivas.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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