A internacionalização do currículo e a aprendizagem de todos os estudantes

Tem havido recentemente o ressurgimento do interesse na internacionalização do currículo na teoria e na prática. Em essência, isso acontece pelo fato da internacionalização do currículo ter o potencial de conectar agendas institucionais mais amplas focadas na internacionalização junto com a aprendizagem do estudante. Todos os estudantes viverão em um mundo globalizado, como profissionais e cidadãos, e isso representa uma lógica comum para a internacionalização. Desta feita, a política da universidade contém declarações bem intencionados, em geral corajosas, e certamente visionárias, focadas nos graduados com perspectivas internacionais e globais, prontos e capazes de fazer uma diferença positiva em nosso mundo cada vez mais interconectado, porém mesmo assim dividido.

 

Muitas dessas políticas explicita ou implicitamente conectam a visão de graduados internacional, intercultural e globalmente competentes a todos estudantes. Contudo, exatamente, de que maneira tais políticas estão conectadas com o aprendizado do estudante nas disciplinas, através da internacionalização do currículo não está clara. Por exemplo, em algumas universidades, o enfoque da internacionalização do currículo está primariamente na mobilidade estudantil externa que por razões pragmáticas, envolve uma pequena porcentagem de estudantes. Em algumas universidades, o enfoque é dado ao ensino em inglês, mas raramente todos os programas e a conexão entre ensinar em inglês e a obtenção de resultados de aprendizagem internacional e intercultural não estão claros. Em outros casos, o foco da internacionalização do currículo poderá estar primariamente no conteúdo, através da inclusão de módulos internacionais opcionais especializados, e em outros na crescente diversidade estudantil dentro de sala de aula no campus, sem considerar como isso internacionalizará o aprendizado dos estudantes. Individual e coletivamente, tais abordagens são insuficientes. Em resumo, a internacionalização do currículo em política e prática é muitas vezes centrada em inputs ou contribuições ao invés de resultados. A internacionalização do currículo deverá tornar-se mais diretamente conectada ao aprendizado de todos os estudantes.  

 

Definição da internacionalização do currículo

Como existe muitas vezes certa confusão sobre o que termo internacionalização do currículo realmente significa e como está conectado com o aprendizado do aluno, definirei primeiro o temo e a seguir descreverei duas principais características da internacionalização do currículo, centradas no aprendizado do aluno. Em 2009, em um artigo do the Journal of Studies in International Education, Revista de Estudos do Ensino Internacional, Eu defini um currículo internacionalizado como aquele que “envolverá os estudantes com a pesquisa internacionalmente informada e a diversidade linguística e cultural, além de propositadamente desenvolver suas perspectivas interculturais e internacionais como cidadãos e profissionais globais.” 

 

Esta definição enfatiza o envolvimento ativo (engajamento) dos estudantes no processo de aprendizado e através desse desenvolvimento sistemático (intencional) dos resultados de aprendizado interculturais e internacionais. A definição enfoca a necessidade de ir além das abordagens de internacionalização do currículo com base apenas no conteúdo, ou isolado, ótimas experiências e atividades para alguns alunos, que não fornecem evidências de resultados de aprendizagem.

 

É útil distinguir entre o produto, um currículo internacionalizado, conforme definido acima, e o processo da internacionalização do currículo. A definição que se segue do processo de internacionalização do currículo do mesmo artigo centra a atenção no ensino, aprendizado e avaliação, bem como no conteúdo: “a internacionalização do currículo é a incorporação de uma dimensão intercultural e internacional no conteúdo, assim como o ensino, aprendizado, instrumentos de avaliação e serviços de suporte de um programa de estudo.” 

 

Esta distinção entre produto (currículo internacionalizado) e processo (internacionalização do currículo) ajuda a distinguir entre os fins e os meios, uma fonte de confusão permanente, conforme evidenciado por exemplo, por declarações que consideram os programas de mobilidade como evidência da internacionalização do currículo. Os programas de mobilidade são meios possíveis pelos quais um pequeno número de estudantes poderão atingir resultados interculturais e internacionais de aprendizagem desejados.  

 

Em resumo, o processo de internacionalização do currículo deverá considerar tanto os resultados como as contribuições dadas à aprendizagem.

 

Um currículo internacionalizado focado no aprendizado do aluno

Um currículo internacionalizado no aprendizado do aluno é definido por duas características principais. Primeiro, ocorrerá dentro do contexto das diferentes culturas e práticas do conhecimento, da ação e da existência nas disciplinas. Segundo, a faculdade que não possuir a experiência, habilidades ou o conhecimento necessário para internacionalizar o currículo, terá o suporte de profissionais especializados facilitadores no processo de definição dos resultados de aprendizado internacionalizados pretendidos, auxiliando a todos os estudantes para que tais resultados sejam alcançados.

 

Disciplinas possuem valores e culturas distintas e muitas vezes apresentarão diferentes lógicas para a internacionalização do currículo. A faculdade precisará estar certa sobre o motivo pelo qual acredita que a internacionalização do currículo é importante para seus programas. As equipes dos programas, como comunidades disciplinares distintas, precisarão se envolver em discussões e debates sobre os resultados interculturais e internacionais de aprendizagem que seus graduados precisarão para se tornarem profissionais e cidadãos eficientes em um mundo globalizado. Se os estudantes deverão atingir os resultados de aprendizagem pretendidos, a faculdade precisará desenvolver um plano claro e sistemático para apoiar o aprendizado. As atividades de aprendizagem em diferentes módulos / matérias / cursos em todos os níveis ao longo do ano do programa precisarão ser planejadas para o desenvolvimento incremental das perspectivas internacionais e habilidades interculturais dos estudantes. Os estudantes precisarão receber um feedback formal e informal sobre seus aprendizados internacionais e interculturais e sugestões sobre como melhorar suas performances em diferentes níveis do programa.

 

As faculdades que não tiverem a experiência, ou o conhecimento necessário para internacionalizar o currículo, precisarão ter o suporte de profissionais especializados facilitadores no processo de definição dos resultados de aprendizado internacionalizados pretendidos, auxiliando a todos os estudantes para que tais resultados sejam alcançados. A facilitação e o suporte são necessários, pois a faculdade não preparada tende a adotar um enfoque estreito ou, limitado, ou que trará sérias consequências para a estratégia internacional da universidade e para a aprendizagem do aluno.

 

Os facilitadores poderão vir de fora da disciplina ou da universidade e incluirão especialistas na área de ensino, aprendizagem e internacionalização, que poderão fornecer as diretrizes e sugestões, bem como suporte prático. Haverá uma ênfase na construção de capacidade para o futuro, no sentido de enfocar questões críticas e perguntas importantes associadas com a internacionalização do currículo por todas as disciplinas e por toda a instituição ao longo do tempo. Desta forma, a internacionalização do currículo se torna um processo constante centrado na aprendizagem do aluno na qual a faculdade encontra-se profundamente engajada.

 

Abordagens e interpretações da internacionalização do currículo variarão inevitavelmente por todas as disciplinas. O que é importante é que apesar da disciplina, o enfoque do processo de internacionalização do currículo está centrado na aprendizagem do aluno, o que coloca a faculdade e as disciplinas no centro da internacionalização do currículo.

 

Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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