10/04/2015

International Higher Education | 78

A internacionalização de estudantes no país de origem – políticas holandesas

Adinda Van Gaalen e Renate Gielesen
Adinda van Gaalen é agente sênior de pesquisas e procedimentos, na Nuffic, Organização Holandesa para Cooperação Internacional do Ensino Superior. E-mail: avangaalen@nuffic.nl. Renate Gielesen é gerente sênior de projeto na mesma organização. E-mail: rgielesen@nuffic.nl
A internacionalização do ensino superior é uma prioridade importante para o Ministério Holandês da Educação, Cultura e Ciências, cujo objetivo é de que todos os estudantes na Holanda obtenham competências internacionais e interculturais na graduação. Nada menos que 91 por cento das instituições holandesas que participam do estudo tem uma política de internacionalização em nível central. Algumas instituições incluem a política em seu plano institucional, mas próximo a 76 por cento de todas as instituições holandesas do ensino superior tem um plano de internacionalização especifico ou estão atualmente trabalhando para desenvolverem um. Isso se compara a média global de 75 por cento, conforme a 4ª Pesquisa Global da IAU, Associação Internacional de Universidades de 2014.
 
A competência internacional e / ou culturais dos estudantes é mencionada em muitos dos documentos da estratégia institucional como o principal objetivo da internacionalização. As instituições tendem a descrever tais competências em termos gerais, especificando que a elaboração posterior deverá acontecer em nível de programa. A maioria das instituições opta por uma abordagem especifica do programa com relação às competências interculturais e internacionais, sendo cuidadosas no que diz respeito à implementação de uma política institucional centralizada. Vários planos de política mencionam explicitamente que o contexto do programa de estudo é essencial para determinar as competências interculturais e internacionais relevantes. Instituições que realmente formulam competências nem sempre distinguem entre as competências interculturais e internacionais. Exemplos de tais competências incluem: 1) uma atitude inquisitiva e curiosa; 2) eficácia intercultural e comunicação; 3) conhecimento de línguas estrangeiras; 4) flexibilidade e a habilidade de aplicar conhecimento, e 5) habilidade de inovação de acordo com os padrões internacionais. Isso serve para demonstrar que além dos resultados interculturais e internacionais, a internacionalização pode produzir resultados gerais de aprendizagem, tais como o conhecimento profissional ou habilidades pessoais.
 
Internacionalização em âmbito doméstico
Estas competências não podem ser alcançadas por todos os estudantes através da mobilidade apenas. Entre 2003 e 2011 uma média estável de 22 por cento dos graduados holandeses tem sido internacionalmente móvel em seus programas de estudo, ao contrário de 78 por cento que permaneceram em casa. A internacionalização em âmbito interno pode potencialmente atingir a todos os estudantes quando estruturalmente implementada no currículo.  
 
A 4ª Pesquisa Global da IAU, Associação Internacional de Universidades de 2014 mostra que globalmente, 14 por cento das instituições participantes consideram a internacionalização do currículo como a única e mais importante atividade de internacionalização. Uma das principais razões para isso poderia ser que o enfoque no currículo traz a internacionalização para o centro da educação.
 
Na Holanda, planos de política institucional mencionam muitos tipos de internacionalização em âmbito interno, tais como convidar docentes estrangeiros, participar em projetos internacionais, oferecer módulos de habilidades interculturais e a adaptação de componentes do programa de estudos de modo a incluir perspectivas interculturais diferentes em um tópico especifica. Em geral, as instituições holandesas não consideram a internacionalização em âmbito interno como uma alternativa literal para mobilidade, mas estão inclinados a analisar tais abordagens como complementares. 
 
Mesmo assim, esta relação entre os dois lados da moeda da internacionalização não está refletida nos documentos das políticas. Na verdade, algumas instituições formulam uma internacionalização coerente e detalhada em uma estratégia interna, ou desenvolvem ferramentas de monitoramento. Além disso, a falta de tempo, ou recursos financeiros é um obstáculo para implementação em muitas instituições. Contudo, de modo algum as únicas razões para o modesto nível de internacionalização em âmbito interno em algumas instituições holandesas de ensino superior.
 
Corpo docente
A preparação do corpo docente parece ser fundamental para o sucesso das estratégias de internacionalização, pois os professores são essenciais para o desenvolvimento e na implementação das mudanças do currículo. Contudo, um dos resultados mais impactantes da análise de documentos de políticas de todas as 54 instituições de ensino superior na Holanda de financiamento público é que os professores recebem pouco treinamento na internacionalização da educação. Há uma falta de enfoque no desenvolvimento de competências do funcionário, necessária para uma implementação de sucesso das atividades de internacionalização em âmbito interno. Alguns professores, por exemplo, tem dificuldades de integrar os vários contextos em uma sala de aula internacional.
 
Politicas institucionais internacionais devotam pouca atenção ao desenvolvimento de competências de seus docentes e equipe administrativa, no sentido de prepara-los para a implementação das várias formas de internacionalização em âmbito interno. 
 
A incorporação da internacionalização em âmbito interno como um componente padrão de programas profissionalizantes para professores tais como a Qualificação de Ensino Básico (BKO) na Holanda pode abrir as mentes dos professores para as possibilidades que a internacionalização lhes oferece. Algumas instituições já desenvolveram esta ideia um pouco mais, criando um modulo voluntário adicional na estrutura BKO, que pode oferecer aos professores ferramentas concretas para que a internacionalização ofereça suporte para seus métodos específicos de ensino e objetivos. O modulo ajudará os docentes a ter insights nas experiências potenciais de aprendizagem oferecidas pela internacionalização.  
 
Grande potencial
Em geral, parece que o conceito da sala de aula internacional nas instituições do ensino superior holandês visa fundamentalmente estudantes talentosos do exterior. Em alguns casos, é quase visto como um efeito colateral a possibilidade dos estudantes holandeses poderem aumentar suas competências interculturais e internacionais em uma sala de aula internacional.
 
Níveis mais elevados de graduados competentes internacional e interculturalmente podem ser alcançados, se as instituições criarem de maneira consciente situações controladas que levem à colaboração intercultural e a utilização do conhecimento internacional especifica dos estudantes. Tais medidas ajudarão as instituições a fazerem ótimo uso do valor agregado da sala de aula internacional.
 
Outras atividades que parecem oferecer grande potencial para o desenvolvimento de competências interculturais e internacionais nos estudantes, mas que mesmo assim são mencionadas apenas raramente em documentos de políticas, são a mobilidade virtual e os projetos de cooperação de desenvolvimento. Projetos de mobilidade virtual têm sido desenvolvidos em muitas instituições nos últimos cinco a dez anos. Mesmo assim, isso não é refletido na atenção que é dada a essa atividade nos planos institucionais. Aqueles ativos nessa área são modestos a se referirem a elas como fontes para construção de competências dos estudantes holandeses. 
 
A estrutura das políticas
A maioria das instituições de ensino superior holandesas menciona a importância das competências interculturais e internacionais para seus estudantes em suas estratégias institucionais. Além disso, a internacionalização em âmbito interno recebe bastante atenção nesses documentos. Contudo, o conceito se beneficiará de maior clareza e possivelmente uma estrutura institucional. Politicas institucionais poderiam, por exemplo, incluir disposições especificando que todos os programas de estudo devem incorporar competências interculturais e internacionais relevantes. O método adequado para testar tais competências deveria ser também especificado nas políticas institucionais. Além disso, as políticas podem ser posteriormente elaboradas por definições claras dos termos, tais como internacionalização do currículo, currículo internacionalmente orientado, e sala de aula internacional. 
 
O governo holandês está interessado no aumento do número e impacto da internacionalização em atividades em âmbito interno no ensino superior. Contudo, embora qualquer estrutura nacional para a internacionalização em âmbito doméstico possa incluir a direção, meios, e métodos, o mais importante é que isto deve caminhar em paralelo com liberdade suficiente. Isso permite aos programas de estudo experimentar e descobrir que tipo de internacionalização (em âmbito interno) se enquadra nos perfis específicos de seus programas.
 
O enfoque nas competências interculturais e internacionais dos estudantes pode ser intensificado pelo governo holandês, através do incentivo dado aos programas de estudo e às instituições para se candidatarem a uma calssificação distinta (qualidade) da internacionalização do NVAO que é o organismo conjunto de garantia da qualidade dos Países Baixos e do Flandres.
 
Os elementos principais da estrutura de avaliação para a certificação de BKI são os resultados de aprendizagem intercultural e internacional, conforme definido pelo programa em si. A vantagem deste modelo é que oferece suporte e até mesmo estimula a internacionalização especifica do programa. Isso leva a um ótimo grau de internacionalização de valor agregado, relevante para as características únicas do programa, utilizando ainda uma estrutura que pode ser aplicada a todos os programas.
 
Em uma sociedade em que as instituições de ensino superior possuem um elevado nível de autonomia, como no caso da Holanda, as políticas de internacionalização precisam não apenas refletir objetivos econômicos nacionais, mas, sobretudo as tarefas fundamentais das instituições de ensino superior, a fim de serem eficazes.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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