18/11/2014

International Higher Education | 76

A importância das tendências demográficas na explicação dos padrões de conclusão

Arthur M. Hauptman
Consultor independente de políticas, especializado em questões financeiras do ensino superior. E-mail: Art.hauptman@yahoo.com
Na década passada, a questão de como os Estados Unidos são comparados com outros países no que concerne seus níveis de escolaridade – a cota de adultos com diploma de universidade – tornou-se proeminente em debates sobre Ensino Superior no país. Assim, a Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OECD – Organization for Economic Cooperation and Development) publicou uma série de relatórios que indicam que os Estados Unidos estão atrás de muitos outros países membros desta organização em seus níveis de escolaridade, especialmente entre jovens adultos. A preocupação com esse desvio levou o presidente Obama a fazer o aumento do número de diplomas e dos índices de conclusão de cursos uma parte essencial de sua agenda de políticas domésticas. Alguns relatórios recentes também dizem que muitos outros milhões de alunos devem se formar na próxima década para garantir que a economia americana permaneça globalmente competitiva.
 
Perdido nessas preocupações, entretanto, está o aparentemente contraditório fato de que o número de diplomas de bacharel e de associado concedidos nos Estados Unidos tem caído sistematicamente por muitas décadas – inclusive esta mais recente – para índices que pouco ultrapassam o crescimento da população de idade universitária e da população em geral. Já que o índice de conclusão de curso é determinado pelo número de portadores de diplomas de idade pré-determinada, divididos pela idade relevante da população, isso significa que o índice de cursos universitários concluídos também tem aumentando ao longo do tempo.
 
Como se pode entender a aparente contradição na qual o número de diplomas concedidos anualmente e o nível de escolaridade da população adulta nos Estados Unidos tenham ambos aumentado, mesmo o país tendo ficado atrás de muitos competidores globais, considerando sua parcela da população com diploma superior? A resposta simples é a de que o índice de conclusão de cursos universitários nos outros países cresceu mais rápido do que nos Estados Unidos e por isso sua localização na classificação caiu, principalmente se considerarmos o grupo dos adultos mais jovens.
 
Mas, baseado nesse enigma, uma importante resposta está nas diferenças demográficas e no impacto que as tendências demográficas podem ter no número de graduados que o país produz e nos seus índices de conclusão de cursos universitários. O que tem sido muito frequentemente esquecido ou ignorado nos debates americanos recentes é que o número de graduados de um país é na verdade uma função de dois componentes: o tamanho da faixa etária relevante e a parcela desse grupo que detém um diploma. Os dois fatores não são bem compreendidos: tendências demográficas podem ser muitas vezes uma determinante muito mais relevante no tamanho da força de trabalho com ensino superior do que mudanças no decorrer do tempo nos índices de conclusão de cursos universitários.
 
A experiência americana
O número de diplomas de bacharel entregues nos Estados Unidos cresceu muito mais rápido do que a população, desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Como resultado, os índices de conclusão de cursos de, ao menos, bacharel têm crescido consistentemente ao longo dos últimos cinquenta anos para todas as faixas etárias adultas. Até na década mais recente, o índice para cada grupo cresceu em pelo menos dez por centro. Em cada faixa etária, o índice de conclusão de cursos daqueles com diplomas de bacharel ou superiores tem ao menos triplicado desde 1960 e ao menos dobrado desde 1070. Esse padrão de crescimento sustentado em conclusão de cursos é também verdadeiro nas duas últimas décadas para adultos em idade de trabalho portadores de pelo menos um diploma de curso superior de curta duração. O período de tempo analisado é mais curto porque o governo americano só tem registros de jovens adultos portadores de diploma de curso superior de curta duração desde 1990.
 
A descrição acima, considerando as tendências do índice de conclusão de cursos universitários, contradiz a ideia ouvida frequentemente de que os índices de conclusão têm sido mantidos iguais ou estagnados por um período extenso. Essa afirmativa incorreta vem de uma observação precisa: Os índices de conclusão de cursos universitários do grupo mais jovem e do grupo mais velho de adultos trabalhadores são agora aproximadamente os mesmos, o que faz muitos concluírem que esse nível não se alterou em muito tempo. Mas o fato é que essa igualdade aproximada em índices de conclusão de cursos universitários para os adultos trabalhadores mais jovens e mais velhos tem sido atingida através de rápidos aumentos no índice do grupo mais velho, ao invés de qualquer declínio ou mesmo lentidão na classificação do grupo mais jovem de adultos trabalhadores.
 
Tendências demográficas que ditam o tamanho da população é a outra parte também pouco discutida na equação de determinação do número de pessoas com ensino superior. Mas diferente do índice de conclusão que tem consistentemente crescido, o tamanho do grupo de faixa etária universitária tradicional tem variado ao longo do tempo. O número de colegiais graduados nos Estados Unidos atingiu um pico na metade da década de 1970 como resultado de um baby boom, caiu até o início dos anos 90 e então cresceu de novo, atingindo novo pico entre 2008 e 2009. Projeta-se que este número agora cairá novamente entre 2014 e 2015 para retomar o crescimento no fim da década atual.
 
Ainda, apesar dos declínios acentuados ao longo de muitas décadas no número de graduados, o número de estudantes universitários e diplomas concedidos nos Estados Unidos tem consistentemente crescido nos últimos cinquenta anos. Como explicar isso? A resposta básica é de que o ensino superior americano tem sido muito bem sucedido no aumento do número de estudantes mais velhos do que a faixa etária universitária tradicional. Como consequência, a participação e os índices de conclusão de cursos de cada faixa etária adulta têm aumentando nos últimos cinquenta anos, assim como o número de diplomas concedidos.
 
A experiência em países de altos índices de conclusão de cursos universitários
Padrões de crescimento populacional e de índices de conclusão de cursos universitários nos Estados Unidos, como descrito acima, determinam em conjunto o tamanho da atual e da futura força de trabalho americana, a respeito dos estudantes graduados em universidades. Mas não oferece muitos detalhes sobre a razão para a posição americana na classificação ter ficado tão abaixo de muitos outros países também pertencentes à OECD. Para isso, deve-se olhar os aspectos demográficos e os índices de conclusão de cursos universitários desses países.
 
Muitos dos países da OECD nos ultrapassaram nos índices de conclusão, com grandes declínios nos números de seus jovens adultos – devido a baixos níveis de natalidade e padrões de emigração de rede. Para muitos países com os índices mais altos de conclusão de cursos, como Coréia do Sul e Japão, o número de pessoas entre 15 a 24 anos e entre 25 a 34 anos caiu em porcentagens de dois dígitos entre 2000 e 2010. O declínio em faixas etárias jovens foi também similar em muitos países com índices altos de conclusão de cursos. Além disso, para muito desses países, especialmente na Ásia, o declínio no número de jovens em idade universitária tem sido crônico e persistente.
 
Isso significa que muitos dos países que são agora melhor avaliados que os Estados Unidos nos índices de conclusão de cursos de adultos jovens têm conseguido esse feito ao educar uma parcela crescente de um número decrescente de jovens adultos – um fato que poderia ter sérias e adversas implicações no mercado de trabalho desses países agora e no futuro. Para muitos desses países, o número de jovens adultos ultrapassa e muito o número daqueles se preparando para a aposentadoria, o que poderia consideravelmente aumentar o índice de desemprego de graduados universitários recentes nesses países.
 
Assim, os debates recentes sobre a posição dos Estados Unidos entre os países da OECD em índice de conclusão de cursos universitários estão longe de terem focado em como os diferentes demográficos têm tido um papel nas tendências de conclusão ou nas implicações para atender os requerimentos da força de trabalho no futuro.
 
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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