10/04/2015

International Higher Education | 78

A empregabilidade de graduados e a internacionalização do currículo em âmbito interno

Elspeth Jones
Professora emérita de Internacionalização do Ensino Superior na Leeds Metropolitan University, no Reino Unido e Professora Honorária no Centro para a Internacionalização do Ensino Superior na Università Cattolica Del Sacro Cuore, em Milão. E-mail: ej@elspethjones.com
Nas duas últimas décadas ou mais, pesquisa frequente de empregadores tem apontado que embora os graduados possam ter as habilidades técnicas necessárias para certa função, faltam-lhes as tão chamadas competências sociais, que são importantes para atividades profissionais eficazes. Muitas vezes denominadas de habilidades de empregabilidade, o que inclui o trabalho em equipe, negociação e mediação, resolução de problemas e habilidades interpessoais, flexibilidade, organização e boa comunicação. Essas pesquisas têm sido conduzidas em uma ampla gama de países da Austrália a Zâmbia e conjuntos de requisitos similares têm sido encontrados repetidamente em todo mundo.
 
A área acadêmica geralmente comporta-se de maneira inconsciente a tais chamados dos empregadores, talvez acreditando que o rigor intelectual de seus programas possa estar comprometido por um enfoque em “meras habilidades.” Certamente é inegável que a educação é mais que conseguir um emprego ao final de um processo. Mesmo assim, as dimensões globais nos ambientes de trabalho não estão mais limitadas às corporações multinacionais, estando agora mais integradas em profissões e papeis, que eram anteriormente vistos como mais baseados localmente. Poderia ser argumentado, portando, que estamos em falta com nossos estudantes, a menos que os preparemos de maneira eficiente para o trabalho contemporâneo e uma gama de estudiosos tem insistido que o currículo universitário deveria ser mais bem alinhado com as necessidades do empregador. A habilidade de interpretar as questões locais dentro do contexto global e de julgar o impacto das questões globais na vida pessoal e profissional de alguém deveria ser certamente um atributo de todos os graduados em uma sociedade contemporânea.
 
O ensino no exterior e o desenvolvimento das habilidades de empregabilidade
O que é surpreendente é que muitas das habilidades necessárias são precisamente aquelas as quais os estudos descobriram como a serem desenvolvidas através da experiência internacional de estudo, trabalho, voluntariado ou serviço comunitário. Tem sido demonstrado que até mesmos períodos curtos de tais atividades, se os estudantes forem devidamente preparados e guiados através da experiência, poderão alcançar tais resultados, junto com os muitos outros benefícios oferecidos através das experiências internacionais. Estudos em vários países tem identificado um aprendizado transformacional profundo em vários locais geográficos. A pesquisa cobre uma gama de atividade que desafia o estudante em um grau maior ou menor. Os resultados mostram claramente que a exposição dos estudantes a perspectivas alternativas e a contextos culturais podem resultar no questionamento da identidade pessoal, valores, crenças e mentalidades, podendo ainda oferecer resultados significativos em termos de crescimento pessoal, auto-eficácia, maturidade e o aumento da competência intercultural.
 
Proponentes do aprendizado experimental poderão discutir que é a fisicalidade da experiência que resulta em tal transformação, não obstante o elemento intercultural / internacional parece representar um papel. Além disso, poderia ser argumentado que esses estudantes que já possuem algumas dessas habilidades, ou que apresentam a propensão de desenvolvê-las estão particularmente atraídos pela oportunidade de estudar, trabalhar ou fazerem voluntariado no exterior. Estes pontos dão um bom motivo para reflexão, mas ainda, as descobertas são tão significativas quanto reiteradas em um estudo após o outro.
 
Implicações para as universidades
Isto tem um número de implicações para política e prática dentro das instituições. Primeiro, a conexão entre a experiência internacional e o desenvolvimento das habilidades de empregabilidade não é amplamente reconhecido em nível institucional. Isto significa que em segundo lugar, sua importância não é transmitida aos estudantes tanto no sentido de encorajar mais deles a participarem em um processo educacional no exterior, como a ajuda-los a compreender as habilidades que desenvolveram como resultado de assim terem feito. Em terceiro lugar, esta conexão não é comunicada aos empregadores; observando que solicitam mais habilidades sociais que estudantes com experiência internacional.
 
Por fim, e talvez mais significativo, há uma falta de exploração do que isso significa para o currículo de todos os estudantes, não simplesmente a minoria da mobilidade. Se o ensino no exterior pode dar suporte à empregabilidade neste sentido, pode a internacionalização do currículo em âmbito interno oferecer benefícios similares para maioria estática? Não existem ainda evidências suficientes dos resultados de aprendizagem de currículo internacionalizado em âmbito interno para indicar o potencial integral desta abordagem.
 
Internacionalização do currículo em âmbito interno
Mezirow argumentou que o benefício real da experiência internacional para o tipo de Aprendizagem transformativa observada acima vem através dos muitos “dilemas desorientadores” com os quais um estudante se depara quando fora da zona de conforto de seu ambiente doméstico. Um número de acadêmicos está buscando oferecer mobilidade virtual através de meios tecnológicos a fim de compartilhar experiências culturais e nacionais diferenciadas. Mas outras oportunidades estão próximas do âmbito doméstico; “alteridade cultural” vem de muitas formas e há diferentes tipos de zona de conforto. Os estudantes em uma universidade contemporânea estão inclinados a incluir pessoas de origens étnicas, nacionais, religiosas diferentes, de orientação sexual diferente ou com diferentes habilidades físicas. Se “alteridade” for compreendida como qualquer um que se perceba como diferente de si mesmo, alteridade cultural não está relacionada meramente aqueles de diferentes países ou grupos linguísticos.
 
A troca de perspectivas por esta alternativa cultural divide os meios, que com imaginação, oportunidades interculturais criativas podem ser usadas dentro de um currículo doméstico. Por exemplo, se a comunidade internacional de voluntariado pode resultar em transformação pessoal, poderia o mesmo ser verdadeiro para o voluntariando intercultural local, como os diferentes grupos religiosos, centros de dependentes de drogas, abrigos para sem tetos, abrigo para mulheres ou casas para indivíduos com problemas mentais ou físicos? 
 
A resposta é que não sabemos se a internacionalização (ou “interculturalização”) do currículo em âmbito interno pode ser tão bem sucedida quanto o ensino no exterior, incluindo o desenvolvimento de competências de empregabilidade transferíveis. O que fica claro, contudo, é que temos ainda que tirar o máximo de proveito da diversidade em nossas universidades de comunidades locais para dar sustentação à aprendizagem intercultural em âmbitos domésticos. Contudo, se aceitarmos, que a aprendizagem transformativa do tipo identificada na literatura na mobilidade internacional, está relacionada com as dimensões experimentais e interculturais daquela experiência internacional, é provável que a replicação em contextos interculturais domésticos possa oferecer alguma equivalência, pelo menos.
 
A fim de alcançar isso, o internacional e o intercultural devem ser compreendidos como aspectos complementares das noções abrangentes de equidade, diversidade e inclusão dentro de nossas instituições, algo ainda não aceito em todas as universidades. Resultados de aprendizagem interculturais relevantes precisarão ser incorporados no currículo para todos os estudantes – não simplesmente oportunidades para mobilidade internacional – e tarefas de avaliação inovadoras desenvolvidas que avaliem se os resultados foram alcançados.
 
A hipótese de que estudar no exterior oferece o remédio de ouro deve ser desafiada. As demandas dos contextos profissionais globais de nossos dias requerem que ofereçamos um currículo internacionalizado para todos os nossos estudantes e não simplesmente para alguns da mobilidade. Talvez até mais importante, as perspectivas acentuadas resultantes poderão ajudar no desenvolvimento de sociedades mais tolerantes e justas.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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