18/11/2014

International Higher Education | 76

A diáspora acadêmica e a educação superior africana

Kim Foulds e Paul Tiyambe Zeleza
Foulds é coordenador do Carnegie African Diaspora Fellowship Program. E-mail: kimberly.foulds@quinnipiac.edu. Zeleza é vice presidente para assuntos acadêmicos na Quinnipiac University. E-mail: paul.zeleza@quinnipiac.edu
O discurso dominante em torno da diáspora acadêmica africana segue um padrão distinto de déficit: os amplos custos da perda de alguns dos melhores e mais brilhantes intelectuais do continente. O foco neste déficit, entretanto, obscurece os relacionamentos vastos e muitas vezes inovadores que os acadêmicos africanos da diáspora produziram com intelectuais e instituições pelo continente – relacionamentos que constroem e reforçam os compromissos acadêmicos e pessoais. Esses relacionamentos – principalmente informais, embora muitos compromissos individuais e institucionais formais de fato existam – são muitas vezes negligenciados nas discussões sobre a internacionalização, pois as universidades africanas não têm sido vistas como parceiras legítimas para o engajamento institucional com universidades europeias e norte-americanas. Em termos de valorização da iniciativa acadêmica e do compromisso em produzir conhecimento inovador e dinâmico, as universidades têm negligenciado as instituições africanas, reavivando e reforçando as lacunas existentes na produção do conhecimento.
 
A diáspora acadêmica africana
Um estudo recente de Paul Tiyambe Zeleza – Engajamentos entre acadêmicos da diáspora africana nos EUA e Canadá e as instituições africanas de educação superior: Perspectivas da América do Norte e da África (Carnegie Corporation de Nova York, fevereiro de 2013) – lança muita luz necessária no que os acadêmicos africanos da diáspora são nos Estados Unidos e no Canadá, bem como a existência de compromissos entre a diáspora e a educação superior africana. De acordo com o estudo, a diáspora acadêmica nascida na África e migrada para a América do Norte, cresceu rapidamente nas últimas três décadas, em parte devido aos rigorosos desafios econômicos e à repressão política que enfrentaram os países e as universidades africanas nos anos de 1980 e 1990. Muitos acadêmicos da diáspora africana estabeleceram compromissos vibrantes – embora amplamente informais – com indivíduos e/ou instituições na África. Abrangendo desde colaborações em pesquisa a desenvolvimento de currículo e supervisão de estudante de pós-graduação, esses envolvimentos são quase sempre frustrados por barreiras institucionais e atitudinais, em ambos os lados do Atlântico. Entre os principais obstáculos estão as diferenças de recursos e instalações, expectativas, status acadêmico, capacidade de ensino, prioridades institucionais e planejar as condições acadêmicas incompatíveis entre as instituições que enviam e as que recebem. O estudo revela que as estruturas tradicionais e sistemas de intercâmbio de docentes são insuficientes para aliviar essas barreiras.
 
Evoluções recentes
Recentemente, tem havido esforços significativos feitos para abordar estas lacunas e apoiar as universidades africanas com o propósito de engajamento internacional. Muitos desses esforços foram conduzidos ou apoiados por fundações filantrópicas. O exemplo mais conhecido é a Parceria para a Educação Superior na África, que reuniu sete fundações (Carnegie Corporation de Nova York, Ford, Rockefeller, MacArthur, Hewlett, Mellon e Kresge) e investiu US$ 440 milhões na revitalização das universidades africanas entre 2000-2010. Muitas vezes ausentes nesses esforços e na internacionalização do ensino superior americano, o papel crítico e transformador das diásporas acadêmicos já podem participar. Em comparação com a volumosa literatura sobre o papel das diásporas no desenvolvimento econômico de seus países de origem, através de remessas de dinheiro e investimento, não se sabe muito sobre o seu papel no desenvolvimento de sistemas de produção de conhecimento, incluindo universidades. A diáspora acadêmica é uma rica fonte de remessas intelectuais.
 
Programa Carnegie de bolsas de estudo da diáspora africana
Os modelos atuais de intercâmbio de docentes permanecem relativamente estáticos, operando dentro de um sistema de dois ou três níveis: organização de financiamento, instituição(ões) de origem(s), e instituição(ões)receptoras. Decorrente do estudo de Zeleza, um novo modelo foi estabelecido através do Programa Carnegie de bolsas de estudo da diáspora africana. O programa estabelece uma nova parceria entre quatro partidos: Carnegie Corporation de Nova York com o recurso financeiro, o Instituto Internacional para a Educação com o apoio logístico, a Universidade Quinnipiac com apoio administrativo, e um Conselho Consultivo composto por importantes acadêmicos africanos e administradores de universidades da América do Norte e da África com a direção estratégica. O programa servirá como o trampolim para o aumento de ligações institucionais entre universidades e instituições americanas e canadenses na África demonstrando que, embora a África tenha sido negligenciada como um local de pesquisa inovadora; e a produção de conhecimento através das disciplinas o continente – suas instituições, pesquisadores e estudantes – não podem mais ser ignorados se as universidades americanas e canadenses estiverem de fato comprometidas em produzir conhecimentos globalmente rigorosos e estudantes de classe mundial.
 
O programa se concentrará em três áreas-chave: aumento da colaboração de pesquisa; desenvolvimento curricular conjunto entre acadêmicos da diáspora, as suas instituições de origem e instituições africanas e professores e o ensino e orientação de alunos de pós-graduação.
 
Ao contrário dos programas de intercâmbio existentes, neste programa as instituições africanas conduzirão a estrutura de trocas e envolverão o desejo de acadêmicos da diáspora para contribuir para o ensino superior em toda a África. Através do programa, as instituições africanas de Gana, Quênia, Nigéria, África do Sul, Tanzânia e Uganda apresentam uma proposta – pedindo a opinião de um estudioso da diáspora nas três áreas ou para ser compatível com um estudioso interessado da diáspora para a especialidade disciplinar apropriada.
 
O objetivo deste programa e modelo é garantir que as instituições africanas sejam as forças motrizes na identificação de necessidades e oportunidades para o engajamento, bem como proporcionar aos estudiosos da diáspora e instituições africanas o espaço para construir e expandir suas alianças acadêmicas. Embora a fuga de cérebros seja um fenômeno muito real, engajar a diáspora acadêmica africana e estabelecer programas para promover intercâmbios e colaborações acadêmicas promove o potencial de internacionalização e o reforço das capacidades das universidades africanas.