13/03/2014

PISA

Resultado atual e evolução do Brasil no Pisa são muito ruins e afetarão a qualidade da força de trabalho até meados deste século

Para compreendermos as consequências da situação relativa do Brasil não basta olhar a nossa colocação no Pisa. É necessário examinar a distribuição nos diversos níveis de proficiência.

Fernando Paixão e Marcelo Knobel
Professores do Instituto de Física Gleb Wataghin da Unicamp
A publicação dos resultados da avaliação internacional feita pelo Pisa (Programme for International Student Assessment) repercute na mídia principalmente pelo fato de o Brasil estar entre os últimos colocados dentre os 65 avaliados. O ministro da Educação à época chegou até a dizer que a fotografia, o resultado, é ruim, mas o filme, a evolução, é bom. É necessário entendermos que tanto o resultado atual quanto a evolução são muito ruins, e que certamente afetarão a qualidade do trabalhador brasileiro que comporá a força de trabalho até meados deste século. Como não há planos ou ações específicas que visem alterar este quadro, a situação tende a se manter – e no quadro comparativo até piorar –, pois outros países estão se mexendo para alterar a sua situação.
 
Para compreendermos as consequências da situação relativa do Brasil não basta olhar a nossa colocação no Pisa. É necessário examinar a distribuição nos diversos níveis de proficiência. Ao avaliar o desempenho dos alunos, o Pisa estabelece seis níveis de competência: os dois primeiros (1 e 2) são considerados insuficientes, os dois seguintes (3 e 4) são considerados adequados e os dois últimos, 5 e 6, avançados. A prova é planejada com questões que avaliam estes seis níveis. Na tabela abaixo estão os resultados do Brasil nos exames de 2009 e 2012 com a distribuição percentual dos alunos nos seis níveis, além dos que nem sequer atingem o nível 1.
 
BRASIL
Ano
< N1
N1
N2
N3
N4
N5
N6
Matemática
2012
35,2
31,9
20,4
8,9
2,9
0,7
0,0
 
2009
38,1
31,0
19,0
8,1
3,0
0,7
0,1
                 
Ciências
2012
18,6
35,1
30,7
12,5
2,8
0,3
0,0
 
2009
19,7
34,5
28,8
12,6
3,9
0,6
0,0
 
A comparação entre os exames de 2012 e 2009 mostra pequenas mudanças na distribuição nos níveis. A maior delas está na redução do percentual dos alunos muito fracos, abaixo do nível 1, para os níveis 1 e 2, considerados insuficientes. No outro extremo, o exame de 2012 mostra ausência de alunos no nível mais avançado, 6, tanto em Matemática como em Ciências.
 
O resultado mais preocupante é obtido somando os percentuais dos níveis insuficientes, onde obtemos, em 2012, 87,4% para Matemática e 84,4% em Ciências, que são muito semelhantes aos resultados da prova de 2009, 88,1% e 83,0%, respectivamente. O número de estudantes com desempenho avançado em Matemática ou Ciências é insignificante. Por outro lado, percebe-se a permanência de um número enorme de alunos com formação inadequada tanto em Matemática como em Ciências, moldando as características da força de trabalho nas décadas que virão.
 
Infelizmente, estes números preocupantes são similares em vários países da América Latina.
 
Na tabela abaixo apresentamos os resultados de 2012 para oito países somando os percentuais dos alunos com formação insuficiente e suficiente. Entretanto, Canadá, Coreia, Xangai e Taipei apresentam distribuições de alunos que são quase o oposto do que se observa no Brasil e na América Latina. Um exemplo didático é o número de jovens com conhecimentos avançados de matemática: enquanto o Brasil tem 0,7%, Xangai tem 55,4%. Com uma população equivalente a 1/9 da brasileira, a metrópole chinesa tem 8 vezes mais jovens nos níveis avançados do Pisa!
 
 
Até o 2
 
De 3 a 6
Matemática
%
 
%
Canadá
34,9
 
65,1
Coreia
23,8
 
76,2
Xangai
11,3
 
88,7
Taipei
26,0
 
74,0
México
82,5
 
17,5
Chile
76,9
 
23,1
Argentina
88,7
 
11,3
Brasil
87,5
 
12,5
 
 
Até o 2
 
De 3 a 6
Ciências
%
 
%
Canadá
31,4
 
68,6
Coreia
24,7
 
75,3
Xangai
12,8
 
87,2
Taipei
30,6
 
69,4
México
84,0
 
16,0
Chile
69,1
 
30,9
Argentina
82,0
 
18,0
Brasil
84,4
 
15,6

 
Como reduzir as desigualdades no Brasil e promover um crescimento sustentável com tal quadro educacional? Tanto do ponto de vista da cidadania como do desenvolvimento econômico, o país precisa de uma população bem educada. O nosso bônus demográfico está se esvaindo, e não se percebe nos planos educacionais nenhuma ação para responder a esta situação lamentável na intensidade necessária. Os resultados do Pisa, e a sua lentíssima evolução, projetam um filme de suspense para o futuro.
 
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