10/07/2013

revista Ensino Superior nº 10 (julho-setembro)

Formação profissional, básica ou geral: o que pensam estudantes da Unicamp

Estudantes pesquisados valorizam um currículo com ênfase em formação básica (68,3%) que tenha também ênfase em formação geral (62,2%); só 37% entendem ser mais importante ênfase exclusiva na formação profissional

Elisabete Monteiro de Aguiar Pereira
Professora Titular da Faculdade de Educação da Unicamp. Mestre pela Universidade de Sheffield (Inglaterra). Doutora pela FE/Unicamp e Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Superior (GEPES) da FE/Unicamp

Joyce Wassem
Doutoranda em Educação pela FE. Mestre em Educação pela Universidade Regional de Blumenau (Furb/2007). Pedagoga e Especialista em Pedagogia Gestora com ênfase em Administração, Supervisão e Orientação Escolar. Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Superior (Gepes) da Faculdade de Educação da Unicamp

Tania Alencar de Caldas
Pedagoga, relações públicas e advogada. Especialista em Economia do Trabalho e Sindicalismo pelo Instituto de Economia da Unicamp. Mestre em Educação pelo Centro Salesiano. Doutoranda em Educação na FE. Pesquisadora do Gepes e do Laboratório de Estudos do Setor Público / Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp
Resumo
Em nosso contexto de educação superior, a participação de estudantes no desenho curricular é pouco enfatizada. Esse trabalho resulta de uma pesquisa desenvolvida com discentes de todos os cursos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com o objetivo de conhecer, na perspectiva deles, quais aspectos dos currículos de seus cursos são vistos como essenciais e qual seria a principal ênfase curricular que os currículos deveriam abordar para melhor prepará-los para o atual, e futuro, mundo do trabalho. Os resultados demonstram uma mudança no comportamento e na visão do aluno sobre qual deva ser a direção de sua formação como profissional, o que desafia as políticas curriculares a tomar em consideração aspetos apontados por eles. Os dados desvelam que os estudantes hoje estão mais preocupados com questões sociais do que estiveram no passado e que se ressentem de não ver essa ênfase abordada nos currículos. A pesquisa é relevante por dar voz à opinião dos estudantes, uma vez que exercem importante papel ao transformar o currículo intencionado em currículo experienciado.
 
As categorias positivas mais apontadas pelos alunos da Unicamp foram: currículo amplo e abrangente (49,8%); preparo para pesquisa (40,0%); bons professores (38,8%) e desenvolvimento do pensamento crítico (36%) Introdução
A pesquisa buscou conhecer a visão dos estudantes sobre o currículo de seus cursos e sobre quais ênfases curriculares seriam as mais adequadas para prepará-los a viver em uma sociedade e mundo do trabalho caracterizados por rápidas transformações. O interesse em pesquisar a opinião dos discentes baseou-se na importância que exercem ao transformar o currículo intencionado em currículo experienciado[1] (ROLDÃO, 1999). Este trabalho se assenta no conceito mais vasto de contextualização curricular, uma vez que diz respeito aos processos mediante os quais o currículo se torna significativo para os que o recebem (ELLIS, 2004). A pesquisa foi desenvolvida com os objetivos de: verificar como os estudantes recebem o que é intencionado pelo currículo de seus cursos; conhecer se os currículos vêm ao encontro das expectativas que os estudantes têm para a sua formação na graduação; e  levantar quais são as ênfases curriculares que os estudantes desta segunda década do século XXI desejam. Na literatura atual da área de ensino superior, os estudantes são considerados como agentes das atividades curriculares e, como agentes, desempenham papel significativo na dinamização do conhecimento. Assim, o conhecimento sobre as visões que os estudantes têm a respeito da finalidade da sua formação e da adequação curricular para essa formação torna-se de relevância para a área de currículo do ensino superior.
 
Não temos nessa área pesquisas que tenham tomado a opinião dos estudantes quando o tema é a estruturação curricular dos cursos de graduação. As questões curriculares são geralmente discutidas entre especialistas, equipe pedagógica, docentes ou administradores. A importância desse conhecimento está em poder traçar um quadro das valorizações que os alunos fazem quanto às três principais ênfases de formação no nível da graduação: formação geral, formação básica e formação profissional.  
 
Mas os alunos também percebem falta de preparo pedagógico dos docentes e de integração entre professores para não repetirem conteúdos 1. Delineamento da pesquisa
A pesquisa foi desenvolvida com o corpo discente da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) no ano de 2010. Sabemos com Connor (1992) que a concepção que se tem de algo determina uma direção para a sua consecução. Portanto, a expectativa que os estudantes têm sobre o currículo traduz-se em comprometimentos comportamentais quanto à intencionalidade da formação explicitada pelo currículo. Além disso, a concepção tem significativa influência na relação professor-aluno, aluno-conhecimento, conhecimento-profissionalização e profissionalização-exercício profissional. 
 
É fato que as situações no mundo do trabalho[2] e no mundo social, cultural e acadêmico têm demandado novas posturas por parte da universidade, de seu corpo docente e discente, e, dentre as mudanças destacamos: crise do emprego e do mercado de trabalho; problemas éticos da ciência, da tecnologia e do meio ambiente; diferentes entendimentos sobre "educação superior"; movimento pela inclusão de diferentes clientelas na educação superior; demandas do mercado de trabalho.
 
Essas questões levaram a um movimento internacional de discussão curricular que apresenta uma acentuada preocupação para que outros valores iluminem as tecnicidades das áreas específicas, principalmente em seu aspecto ético e social. Esse movimento tem promovido mudança curricular em universidades de países da Europa e da América do Norte que enfatizam a importância de se oferecer ao estudante uma formação que ultrapasse os estreitos caminhos da especialização e permita uma visão mais ampla, tanto da profissionalização, como dos limites geográficos de seu país (HARVARD, 2004; AAC&U, 2006, PEREIRA, 2011).
 
Os debates na Europa, Canadá e EUA têm realçado as preocupações quanto a um currículo mais abrangente, mais cultural e mais interdisciplinar. Esses são, por exemplo, os princípios que embasaram a reforma curricular da Universidade Harvard (2004) e os princípios da reforma universitária empreendida na Europa por meio do Processo de Bolonha, para a estruturação do Espaço Europeu de Educação Superior (PEREIRA, 2009). De forma mais explícita, há nesse movimento a intenção de desenvolver o conhecimento de forma relacionada e voltada para compromissos sociais e humanos, bem como para uma percepção das consequências dos atos humanos sobre a sociedade local, regional, nacional e global.
 
Um movimento internacional de discussão curricular quer incorporar valores que iluminem as tecnicidades das áreas específicas, principalmente em seu aspecto ético e social No Brasil, a partir da promulgação da LDB (lei 9394/96) e das Diretrizes Curriculares de Curso de Graduação, algumas universidades brasileiras iniciaram debates, internos e entre universidades, sobre as questões curriculares nos aspectos de flexibilidade, estruturação, profundidade, abrangência, conteúdos específicos, herança cultural, prática profissional, relevância social, relação teoria-prática. As Diretrizes marcam a mudança de um modelo de currículo de curso com elevado grau de detalhamento sobre disciplinas, carga horária, pré-requisitos, para um modelo mais flexível, implementado por Projetos Pedagógicos (PEREIRA, 2003). Tanto as Diretrizes Curriculares como os Projetos Pedagógicos são instrumentos pelos quais a atual legislação do ensino superior assegura às Instituições de Ensino Superior (IES) liberdade para organizarem seus currículos, permitindo definição a respeito da sua composição, carga horária e unidades de conteúdos.
 
Diante desse cenário, algumas questões direcionaram a estruturação do estudo:
 
- que perspectivas de formação apontam os discentes dos diferentes cursos de uma universidade pública?
 
- quais valores os discentes explicitam quanto ao que é e ao que deve ser o currículo de seus cursos?
 
- há diferença entre aquilo que valorizam como formação e aquilo que é desenvolvido pelo currículo de seus cursos?
 
- quais direções os estudantes sinalizam para novas estruturações curriculares?
 
A análise dos dados buscou explicitar o entendimento dos alunos sobre essas questões. As respostas dadas a elas podem embasar uma nova política curricular, os processos de ensino e aprendizagem, as práticas didáticas, as formas de avaliação, a relação professor-aluno, aluno-conhecimento e aluno-instituição.
 
Além dos questionamentos, dez suposições guiaram a proposição da pesquisa e a análise dos dados:
 
i) A maioria dos estudantes está satisfeita com o currículo do seu curso. Normalmente tem-se em consideração que os alunos dão pouca atenção para a organização e estruturação das atividades curriculares, o que os leva a se sentirem satisfeitos com a estrutura apresentada. Os alunos podem, eventualmente, protestar quanto a um ou outro conteúdo, a uma ou outra forma de avaliação, a atuação de determinado professor, mas não expressam uma apreciação ou avaliação sobre o currículo e a intencionalidade de formação concretizada nessa organização. Verificar essa suposição se revela de grande importância para as questões de política curricular e do ensino superior.
 
ii) Poucos estudantes têm pleno conhecimento do currículo do curso. De forma geral, há um consenso de que os alunos não se preocupam em conhecer como o currículo vai ser desenvolvido e só se interessam por verificar quais as disciplinas que devem fazer por ocasião da matrícula nos semestres do curso;
 
iii) Os estudantes não estão preocupados com a finalidade das disciplinas que compõem o currículo, apenas se preocupam em fazer o que é obrigatório para completar os créditos do curso. Os estudantes pouco discutem questões curriculares de forma mais ampliada do que as relativas às disciplinas obrigatórias e optativas. Quanto ao alcance das disciplinas, os estudantes desejam as que lhes proporcionem melhores condições de serem competitivos no mercado de trabalho;
 
iv) Poucos estudantes têm opinião própria quanto à ênfase que deve ter o currículo, deixando essa questão para os professores e coordenadores do curso. Os estudantes entendem que as questões curriculares devem ser discutidas pelos docentes e pela coordenação do curso e que a eles cabem discussões mais políticas e reivindicatórias de direitos estudantis conquistados ou a conquistar;
 
v) Os estudantes dos cursos das áreas humanas se preocupam em receber uma formação mais geral, enquanto os estudantes dos cursos das áreas exatas, tecnológicas e da terra se preocupam em receber formação mais profissional. Há um entendimento geral de que estudantes das áreas humanas são mais preocupados com as questões sociais e por isso se preocupam com essa perspectiva na sua formação. Por outro lado, há um entendimento de que os estudantes das outras áreas estão mais focados nas questões técnicas de sua própria área de formação e a perspectiva de uma formação mais ampla e geral não é solicitada nem valorizada por eles;
 
vi)  Os estudantes que trabalham tendem a valorizar a ênfase profissionalizante como predominante. Grande número de estudantes universitários são trabalhadores e, por estarem no mercado de trabalho, tendem a valorizar uma formação que os auxilie a ganhar melhor colocação nesse mercado. Assim, a perspectiva cultural é pouco enfatizada por eles;
 
vii) Há uma acentuada diferença nas ênfases valorizadas entre os estudantes do gênero feminino e masculino. De forma geral, acredita-se que os estudantes do gênero feminino têm uma preocupação maior com as questões sociais e os do gênero masculino, com as questões técnicas. Desvelar essa suposição foi uma das finalidades desta pesquisa;
 
viii) Há uma diferenciação de ênfase curricular entre estudantes de diferentes idades, ou seja, a valorização de uma ou outra ênfase depende também da faixa de idade dos alunos e não só da condição de ser "aluno". Os estudantes mais velhos podem estar mais propensos a procurar no currículo uma formação mais ampla do que só profissionalizante. Os estudantes mais novos podem manifestar maior interesse em uma ênfase maior na profissionalização;
 
ix) Os estudantes, de forma geral, reconhecem a importância da integração do saber, mas aceitam a organização fragmentada em disciplinas estanques do currículo de seus cursos. Os estudantes, por terem tido uma educação básica organizada em disciplinas estanques e conteúdos que não se relacionam, aceitam que a organização do currículo da universidade siga o mesmo formato;
 
x) Estudantes reconhecem a importância da questão ética que se coloca como aspecto para a formação do profissional, mas não a apontam como fator a ser enfatizado pela estruturação curricular. Os estudantes não percebem que a questão ética perpassa todos os conteúdos das disciplinas, sendo uma atitude e não um conteúdo disciplinar.
 
Os debates na Europa, Canadá e EUA buscam um currículo mais abrangente, mais cultural e mais interdisciplinar; tais princípios embasaram a reforma curricular de Harvard, em 2004, e o Processo de Bolonha 1.1 Lócus e Instrumento de Coleta de Dados
Queríamos como instituição de pesquisa, uma universidade que fosse tida como de alto nível de qualidade de formação e de pesquisa. Assim foi definida a Unicamp como o lócus da pesquisa.
 
O instrumento de coleta de dados foi um questionário respondido on-line, composto por três partes: as duas primeiras, com questões fechadas, abordaram dados objetivos sobre Informes Acadêmicos. A terceira foi composta por uma Escala de Atitudes, construída na forma da Escala de Likert, que objetivou levantar a opinião dos estudantes sobre a estruturação curricular mais adequada a uma formação para o atual tempo histórico e mundo do trabalho. Nas quarenta e cinco afirmativas que compuseram a escala denominada "O Currículo Deve...", matizamos as três ênfases de formação: Formação Geral, Formação Básica e Formação Profissional, ficando cada uma com quinze afirmativas. A elaboração dessa Escala foi avaliada por cinco especialistas em construção de instrumentos de medidas e a versão final contempla todas as suas contribuições. Os dados abertos coletados foram analisados pela metodologia da Análise de Conteúdo, tomando-se Lawrence Bardin (1991) como referencial, e os dados fechados foram trabalhados por testes estatísticos.
 
1.2 A Pesquisa
As pesquisas que estudam uma temática baseada na opinião dos sujeitos envolvidos com ela estão interessadas na posição destes diante de determinados aspectos dessa "realidade". Segundo Richardson (1999), há uma correlação entre atitudes, opiniões e interesses quando estes se referem a sentimentos ou preferências. Enquanto as atitudes e os interesses são predisposições para reagir de forma negativa ou positiva a respeito de algo, as opiniões são reações específicas frente a esse algo.
 
Por estarmos interessados na opinião dos estudantes quanto aos diferentes aspectos do currículo de seus cursos, entendemos que seria necessário que os sujeitos já tivessem tido um tempo de vivência curricular. Assim, priorizamos como sujeitos os estudantes com Coeficiente de Progressão (CP) 0,75 ou mais, ou seja, estudantes que já haviam completado 75%, ou mais, da carga horária de seus cursos. Foram incluídos todos os alunos do período diurno e noturno, dos diferentes cursos.
 
Dos 3.507 alunos do universo que possuíam CP 0,75, responderam ao questionário 1.152 alunos. A amostra contém um erro amostral de apenas 2,37%. Do total de alunos pesquisados, tivemos uma coincidência no número de alunos dos gêneros masculino e feminino, não proposital. Assim, tivemos 574 (49,8%) respondentes do gênero masculino e 574 (49,8%), feminino.
 
A tabela 1 mostra a distribuição dos alunos por área de formação e vemos que 42% dos respondentes cursavam a área de Ciências Exatas, Tecnológicas e da Terra. Essa maior percentagem era esperada, uma vez que é maior o número de cursos nessas áreas. No entanto, em termos de curso, a maior percentagem de respondentes foi do curso de Medicina (8,8%). Tivemos respostas de estudantes de todos os cursos e a menor percentagem foi de Arquitetura e Urbanismo, 2%. Tais diferenças não invalidam a amostra, uma vez que são relativas à totalidade dos respondentes e a percentagem dos alunos de cada curso está garantida no número da amostra.
 
Tabela 1: Área de Formação
 
Área de formação
Frequência
Percentual
Artes
189
16,4
Ciências Biológicas e Profissionais da Saúde
282
24,5
Ciências Exatas, Tecnológicas e da Terra
486
42,2
Ciências Humanas
195
16,9
Total
1.152
100,0
Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras
 
Tivemos interesse em saber quantos dos alunos trabalhavam enquanto estudavam e em que área. Hoje, além do atual cenário do mercado de trabalho do Brasil dar grande importância ao tempo de experiência, o que faz com que os estudantes busquem trabalho na área em que estão estudando, temos uma realidade, mesmo em universidade pública, de um grande número de estudantes trabalharem para contribuir financeiramente em casa ou para seu próprio sustento. Verificamos que 64,2% dos sujeitos trabalhavam, sendo 32,6% na área do curso de graduação, 19,4% faziam estágio na área da graduação e 12,2% trabalham fora da área de graduação. Não trabalhavam 35,8%. Assim, a amostra dos sujeitos desta pesquisa representa o que vivencia a maioria dos estudantes brasileiros – são estudantes e trabalhadores ao mesmo tempo.
 
Outro interesse foi verificar a relação entre faixa etária e o ano na graduação. As políticas de educação superior tomam em consideração a faixa etária de 18 a 24 anos por ser o contingente populacional considerado como demanda adequada para o ensino superior e ser o indicador utilizado pelas agências (PNAD, 2009). Notamos que 9,7% dos alunos estão adiantados no desenvolvimento de seu curso ao que é esperado. Isso pode ser compreendido por termos estudantes que entram com 17 anos; 36,7% estão em desenvolvimento curricular adequado ao que é esperado; 31,7% estão desenvolvendo o curso de forma mais prolongada e 9,5% dos alunos iniciaram o curso mais tardiamente. Observamos ainda que a maioria (68,4%) tem idade entre 21 e 24 anos, o que mostra uma adequação em relação à faixa de idade esperada para estudantes universitários (lembrando que os sujeitos desta pesquisa já haviam cursado 75% do seu curso).
 
2.  Como os estudantes veem o Currículo atual dos Cursos
Os dados em relação às satisfações ou insatisfações dos alunos com o currículo atual de seus cursos são apresentados na Tabela 2. Podemos notar que quase metade dos alunos (46,7%), manifestou um grau de satisfação médio em relação ao seu currículo. No entanto, é boa a percentagem dos que dizem ter alta satisfação (30,4%) e é pequena a percentagem dos que dizem ter muito baixa satisfação (2,1%) ou muito alta (3,2%).
 
Tal dado é de grande importância, uma vez que podemos supor que alunos satisfeitos com o que o currículo oferece estão pouco atentos para alterações ou pouco voltados à sua análise crítica. É interessante apontar que 80,3% dos sujeitos dizem estar satisfeitos (ao somarmos, muito alta, alta e média satisfação).
 
Tabela 2: Grau de Satisfação com o Currículo
 
Grau de satisfação
Frequência
Percentual
Muito alto
37
3,2
Alto
350
30,4
Médio
538
46,7
Baixo
134
11,6
Muito baixo
24
2,1
Não respondeu
69
6,0
Total
1.152
100,0
Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras
 
Em relação ao nível de satisfação nas áreas de conhecimento, os alunos da área de Ciências Biológicas são os que apontam maior satisfação (42,9%) e os alunos de Artes a maior insatisfação (23,9%). Em termos de curso, o com maior grau de satisfação foi o curso de Medicina.  
 
Interessava-nos conhecer as características do curso que os estudantes consideravam positivas e quais as negativas. Elas foram levantadas por meio de questão fechada com um rol de características, para que os sujeitos marcassem as que consideravam pertinentes aos seus cursos. As características foram construídas a partir de um pré-teste organizado com questões abertas, as quais foram tabuladas pela análise de conteúdo (BARDIN, 1991). Nas respostas dos sujeitos da pesquisa, as categorias positivas mais apontadas dos atuais currículos foram: currículo amplo e abrangente (49,8); preparo para pesquisa (40,0%); bons professores (38,8%) e desenvolvimento do pensamento crítico (36%).
 
Em relação às categorias negativas, foram apontadas: professores com metodologias deficientes (43%); falta de integração com outras áreas do conhecimento (36,%); ausência de incentivo a estágio (31,9%); conteúdos repetidos (31,4%).
 
Estes dados nos revelam que os alunos percebem a falta de preparo pedagógico dos docentes e a falta de integração entre eles para não repetirem conteúdos. A formação de docentes para o ensino superior tem sido uma preocupação recente, pois a valorização da capacidade de pesquisador tem sido a mais solicitada, principalmente em universidades consideradas de pesquisa, como é o caso da Unicamp.
 
Outro dado importante apontado foi a falta de integração entre áreas do conhecimento, o que demonstra que a forma fragmentada e linear de construção do currículo necessita ser revista e a influência do modelo de universidade com disciplinas estanques não está satisfazendo os alunos. Este dado nos baliza para demonstrar que os parâmetros epistemológicos de construção de conhecimentos trazidos pela modernidade e as políticas curriculares assentadas nesse modelo estão se esgotando. Os alunos gostariam de apreender o conhecimento na sua complexidade, na sua interação, rompendo os rígidos limites disciplinares (MORIN, 1999; SANTOS, 2006) .
 
Na ênfase Formação Básica, 69,1% dos alunos concordam totalmente com a assertiva trabalhar o conteúdo teórico relacionado com a prática; 63,6% com desenvolver a capacidade de buscar, selecionar e relacionar informações; 61,2% com desenvolver o pensamento investigativo e 56,5% com desenvolver a capac 2.1  Visão dos estudantes para uma nova política curricular
Para conhecer qual seria a ênfase curricular almejada pelos estudantes universitários, construímos uma Escala de Atitudes, segundo Likert, contendo 45 assertivas divididas nas três principais ênfases curriculares: Formação Básica, Formação Geral e Formação Profissional (BOK, 1988; HUSEN, 1994; MORIN, 1999; BORRERO e CABAL, 2000). Cada uma das ênfases teve 15 assertivas, dispostas aleatoriamente, tomando-se o cuidado de não concentrar as assertivas de uma mesma ênfase. A construção da Escala de Atitudes passou pela avaliação de cinco especialistas em construção de medidas, antes de ser enviada aos sujeitos para termos segurança sobre ela. O instrumento recebeu também a autorização do Comitê de Ética da Unicamp.
 
Na ênfase Formação Básica, mais de 50% dos alunos concordam totalmente com  assertivas como: trabalhar o conteúdo teórico relacionado com a prática (69,1%); desenvolver a capacidade de buscar, selecionar e relacionar informações (63,6%); desenvolver o pensamento investigativo (61,2%); desenvolver a capacidade de comunicação oral e escrita (56,5%). Isso demonstra as direções que os estudantes desejam que o currículo possa ter.
 
Na análise dessa ênfase curricular por áreas de conhecimento, houve diferenciação entre elas a respeito das alternativas mais valorizadas. Os alunos da área Biológica concordam mais fortemente com as seguintes assertivas: desenvolver a capacidade de buscar, selecionar e relacionar informações; enfatizar o trabalho colaborativo; contribuir para o autoconhecimento; desenvolver atitudes e habilidades que favoreçam o trabalho em equipe multidisciplinar; capacitar para análise de problemas na sua totalidade e não só no aspecto técnico da área e desenvolver a criticidade do aluno.
 
Já os alunos de Exatas concordam menos que se deva desenvolver o pensamento investigativo; incentivar a autonomia da busca de conhecimentos; desenvolver os aspectos afetivo-emocionais; desenvolver a capacidade de comunicação oral e escrita e desenvolver a graduação como etapa inicial e não como formação completa.
 
Os alunos de Humanas são os que concordam mais fortemente em desenvolver habilidades de pesquisa, mas são os que concordam menos fortemente em trabalhar o conteúdo teórico relacionado com a prática. Um possível entendimento da razão para esses alunos concordarem menos em trabalhar o conteúdo teórico relacionado com a prática seja a visão existente na área das humanidades sobre a importância da prática como indutora de novos conhecimentos e, com isso, um entendimento de que a prática não deve ser uma decorrência do conteúdo teórico.
 
Já os alunos da área de Artes são os que concordam mais fortemente em desenvolver a criatividade; contribuir para o autoconhecimento; desenvolver atitudes e habilidades que favoreçam o trabalho em equipe multidisciplinar; desenvolver habilidades de pesquisa e desenvolver a criticidade do aluno.
 
Na ênfase Formação Geral, os alunos concordam, com percentagem acima de 60%, com dez das afirmativas, e com um percentual acima de 50%, com mais três delas. Assim, parece inequívoco afirmar que os atuais estudantes estão desejando um currículo organizado com questões mais culturais e sociais.
 
Na ênfase Formação Geral, está claro que os atuais estudantes estão desejando um currículo organizado com questões mais culturais e sociais Em relação à ênfase por área de conhecimento, os resultados apontam que pelo menos uma das áreas tem opinião distinta das demais em todas as assertivas. Dessa forma, os alunos de Artes e Biológicas são os que concordam mais fortemente em priorizar as necessidades sociais; priorizar a dimensão ética na formação profissional; garantir a interdisciplinaridade entre os conteúdos trabalhados e desenvolver pesquisas científicas que tenham maior valor social. No entanto, os alunos de Biológicas são os que concordam mais fortemente em favorecer a aquisição de conhecimentos gerais, enquanto que os de Artes concordam mais fortemente em desenvolver uma formação cultural que seja a base da formação profissional, mas concordam menos fortemente que se deva capacitar para resolver os problemas técnicos com a visão social.
 
Os alunos de Exatas e Humanas concordam mais fortemente em proporcionar cultura geral e conhecimento especializado de forma complementar. Por outro lado, os alunos de Biológicas e Exatas discordam que se deva dar mais cultura geral e menos treinamento técnico-profissional, enquanto os de Humanas e Artes concordam totalmente.
 
Quanto à ênfase na Formação Profissional, não tivemos assertivas com mais de 50% na gradação concordo totalmente ou na gradação concordo parcialmente. Se somarmos as gradações concordo totalmente e concordo parcialmente, somente em duas assertivas tivemos um percentual maior que 50%. São elas: trabalhar inovações para o mercado (61,8%) e priorizar a dimensão técnica na formação profissional (60,4%).
 
O que chamou a atenção nessa ênfase foi o número de discordâncias com as assertivas. Os sujeitos discordam de seis das alternativas que se referem a: desenvolver apenas o conhecimento específico da área (61,6%); favorecer somente a aquisição de conhecimentos específicos (59,%); preparar com visão exclusiva para o mercado de trabalho (57,2%); enfatizar uma formação restrita à área de atuação profissional (55,8%); visar com exclusividade o desenvolvimento técnico e profissional(45,5%) e desenvolver o espírito competitivo (42,4%).
 
Os termos que dão intensidade aos constructos como "apenas, somente, exclusivamente" foram intencionais para que diante das gradações "concordo plenamente, concordo parcialmente, não tenho opinião, discordo parcialmente ou discordo totalmente", os sujeitos tivessem condições de se posicionar e deixar clara a dimensão de seu posicionamento quanto à ênfase.
 
Com a alta percentagem de discordância nesses constructos, podemos entender que os alunos da Unicamp não valorizam um currículo que se estruture para oferecer apenas uma formação técnica profissionalizante, com visão exclusiva do mercado de trabalho e com espírito competitivo. É interessante ressaltar que apenas 25% apontaram não ter opinião sobre se o currículo deve ser organizado por disciplina e não por eixos temáticos ou por problemas. Isso aponta que os estudantes estão interessados em um currículo desenvolvido de forma mais complexa, como alternativa de organização do currículo em substituição à forma fragmentada.
 
Ao analisarmos a ênfase curricular Formação Profissional por área de conhecimento, constatamos que os alunos de Exatas são os que concordam mais fortemente que se deva trabalhar inovações tecnológicas para o mercado, são também os únicos que concordam em desenvolver o espírito competitivo; visar com exclusividade o desenvolvimento técnico e profissional. No entanto, não concordam em desenvolver apenas o conhecimento específico da área, e também discordam que se deva enfatizar uma formação restrita à área de atuação profissional e preparar com visão exclusiva para o mercado.
 
Os alunos de Humanas discordam em atender às demandas do mercado. Os alunos de Artes e Exatas são os que concordam que se deva concentrar na formação especializada.
 
Os resultados nos demonstram que os sujeitos desta pesquisa, de forma geral, valorizam um currículo com ênfase primeiramente em Formação Básica (68,3%), mas que tenha também uma ênfase em Formação Geral (62,2%) e apenas 37% entende ser mais importante uma ênfase exclusiva na Formação Profissional. Essa valorização se confirma quando tomamos em consideração a percentagem de discordância nas ênfases e verificamos que apenas 7,8% discordam das assertivas da ênfase em Formação Básica e 11,2% discordam das assertivas da Formação Geral, mas 62,8% discordam das assertivas de se priorizar a Formação Profissional como ênfase principal.
 
Quanto à ênfase na Formação Profissional, 61,8% concordam total ou parcialmente com a assertiva trabalhar inovações para o mercado 2.2  Posicionamento dos estudantes quanto às suposições iniciais
Esta pesquisa foi permeada por algumas suposições apresentadas anteriormente neste texto. Nossa primeira suposição era a de que a maioria dos estudantes estava satisfeita com o currículo do seu curso. Os dados quantitativos demonstraram que 46,7% têm um grau Médio de satisfação com o currículo do curso; 30,4% têm um grau Alto e 3,2% um grau Muito Alto. Esses resultados apontam que os alunos dão atenção à organização das atividades curriculares e tomam posição em relação a ela. Além disso, é possível apontar que, embora não estejam insatisfeitos com o currículo, há espaço para mudanças curriculares, conforme foi revelado pelos dados da escala valorativa. Os alunos apontaram desejo de um currículo mais integrado, que incentive a autonomia da busca de conhecimentos, os trabalhos colaborativos, que priorize necessidades sociais e a dimensão ética.
 
Outra suposição foi a de que poucos estudantes têm pleno conhecimento do currículo do curso. Os resultados tanto quantitativos como qualitativos não nos permitem confirmar essa suposição. Os alunos apontaram vários aspectos que gostariam de ver incluídos nos currículos. Verificamos também que há interesse dos estudantes em discutir questões curriculares de forma mais ampliada do que somente as vinculadas às disciplinas e aos conteúdos. Quanto ao desenvolvimento das disciplinas e dos conteúdos, os alunos não desejam que sejam desenvolvidos somente os aspectos que lhes dão condições de serem competitivos no mercado, mas querem ter uma formação mais ampla, com cultura e visão social.
 
Para analisar a suposição de que os estudantes dos cursos das áreas humanas se preocupam em receber uma formação geral, enquanto os estudantes dos cursos de áreas exatas, tecnológicas e da terra se preocupam em receber uma formação mais profissional, nos utilizamos dos testes de Mann-Whitney e Kruskal-Wallis[3] para fazer as comparações com as assertivas referentes à ênfase Formação Geral.
 
Verificamos que, das 15 assertivas, em 10 delas a área de Humanas apresenta maior concordância, confirmando nossa suposição. Constatamos que os alunos de Humanas são os que concordam mais fortemente em proporcionar cultura geral e conhecimento especializado de forma complementar; priorizar as necessidades sociais; superar a fragmentação do conhecimento na organização curricular; desenvolver o espírito de solidariedade; preparar com ênfase na visão sociocultural; desenvolver uma formação cultural que seja a base da formação profissional; preparar o aluno para atuar prioritariamente nos problemas sociais e humanos; capacitar para resolver os problemas técnicos com visão social; desenvolver um saber integrando conhecimento de diferentes áreas e dar mais cultura geral e menos treinamento técnico-profissional.
 
Outra suposição do estudo foi a de que os estudantes que trabalham tendem a valorizar a ênfase profissionalizante, pois, por estarem no mercado de trabalho, buscam uma formação que os auxilie a obter melhor colocação. Assim, a perspectiva cultural seria pouco enfatizada por eles. Nesta pesquisa, tivemos alunos de quatro grupos: os que trabalham na área da graduação (375 alunos), os que trabalham fora da área da graduação (140), os que fazem estágio na área da graduação (224) e os que não trabalham (408). Os dados demonstraram que na análise das assertivas da Formação Profissionalhá maior concordância dos estudantes que trabalham na área de graduação a respeito de: preparar com visão exclusiva para o mercado; desenvolver apenas o conhecimento específico da área e atender às demandas do mercado, o que confirma nossa suposição.Da mesma forma, os alunos que trabalham fora da área da graduação assinalaram maior concordância com: priorizar a dimensão técnica na formação profissional; atender às demandas do mercado e preparar com visão exclusiva para o mercado.
 
É interessante ressaltar que tanto o grupo de alunos que trabalham como o grupo de alunos que não trabalham discordaram da assertiva favorecer somente a aquisição de conhecimentos específicos (71,6% e 71,7); e enfatizar uma formação restrita a área de atuação profissional (65,7% e 61%).
 
Foi surpreendente verificar que o grupo de alunos que não trabalham valorizou mais a assertiva desenvolver pesquisas científicas que tenham maior valor de mercado (62,5% contra 47,2% dos que trabalham). Isso pode ser entendido como uma preocupação dos alunos em desenvolver pesquisas de aplicação imediata e que os alunos que trabalham têm menor preocupação com pesquisas.
 
Na ênfase Formação Geral observamos que tantos os alunos que trabalham na área da graduação como os que não trabalham concordaram com a afirmativa de que se deva priorizar a dimensão ética na formação profissional (53,1% e 54,3%, respectivamente). A questão da ética tem sido, ultimamente, mais debatida, bem como sua vinculação com os aspectos sociais. 
 
Outra suposição levantada foi a de que haveria uma acentuada diferença entre os estudantes do gênero feminino e masculino no que diz respeito às três principais ênfases curriculares. Desse modo, acreditava-se que os estudantes do gênero feminino tivessem uma preocupação maior com as questões sociais e os do masculino, com as questões técnicas. Foi possível perceber que as mulheres concordaram mais fortemente com as assertivas das Formações Básica e Geral, enquanto os homens concordaram mais com as assertivas da Formação Profissional. Cabe destacar que tivemos o mesmo número de respondentes em cada um dos gêneros, 574 alunos. 
 
Na Formação Geral também predominou a concordância positiva do gênero feminino nas assertivas. Deste modo, as mulheres concordam mais fortemente que se deva proporcionar cultura geral e conhecimento especializado de forma complementar (92,1%); priorizar as necessidades sociais (78,9%); a dimensão ética na formação profissional (88,1%); garantir a interdisciplinaridade entre os conteúdos trabalhados (96,3%); desenvolver o espírito de solidariedade (82%); preparar com ênfase na visão sociocultural (77,4%).
 
Na Formação Profissional percebemos que as mulheres discordam que o currículo deva desenvolver o espírito competitivo (55,8%) e que se deve desenvolver apenas o conhecimento específico da área (78,7%). Já os homens concordam mais fortemente em trabalhar inovações tecnológicas para o mercado (78,6%). Além disso, os homens tendem a concordar com desenvolver apenas as disciplinas de valor utilitarista (53,2%) e capacitar para resolver os problemas somente com visão técnica (67,6%), enquanto que as mulheres tendem a discordar. Com esses resultados, podemos dizer que nossa suposição se confirmou.
 
A suposição de que havia uma diferenciação de ênfase curricular entre estudantes de diferentes idades pode ser considerada válida. Pelos resultados, os alunos de 18 a 20 anos são os que, na ênfase Formação Básica, discordam mais fortemente que se deva priorizar a formação teórica e entendem que se deva priorizar a relação teoria-prática (88,4%). Esses estudantes são também os que mais concordam em se desenvolver atitudes e habilidades que favoreçam o trabalho em equipe multidisciplinar (65,9%). Isso pode nos apontar para uma reestruturação do currículo, passando a ter maior preocupação com momentos de formação conjunta em todas as áreas. São também os que concordam mais fortemente em desenvolver a criticidade do aluno (81,2%). Esse resultado indica que os estudantes estão conscientes de que a formação universitária deve formar indivíduos com pensamento próprio, autonomia e reflexão. Todas as faixas etárias demonstraram valorizar que o currículo desenvolva a habilidade de pesquisa.
 
Na ênfase Formação Geral observamos que os grupos de diferentes idades têm opiniões distintas. Dessa forma, podemos dizer que os alunos com idade entre 18 e 20 anos e aqueles acima de 30 anos concordam mais fortemente em superar a fragmentação do conhecimento na organização curricular; desenvolver o espírito de solidariedade; preparar com ênfase na visão sociocultural e preparar o aluno para atuar prioritariamente nos problemas sociais e humanos. Os alunos com mais de 30 anos são os que mais concordam em favorecer a aquisição de conhecimentos gerais (63,5%); em se proporcionar cultura geral e conhecimento especializado de forma complementar (56,5%); priorizar a dimensão ética na formação profissional (59,5%). Com esse resultado, confirmamos a nossa suposição inicial.
 
Na ênfase Formação Profissional, todas as faixas etárias discordam de favorecer somente a aquisição de conhecimentos específicos; atender a demanda do mercado; enfatizar uma formação restrita à área de atuação profissional; desenvolver o espírito competitivo; concentrar na formação especializada; visar com exclusividade o desenvolvimento técnico profissional. Aqueles com idade acima de 27 anos concordam mais que se deva trabalhar inovações tecnológicas para o mercado (45,8%).
 
3. Considerações Finais
A partir da análise podemos inferir que os alunos têm clareza sobre os aspectos que devem compor o currículo de seus cursos e manifestam apreciação sobre os currículos existentes em termos do que percebem ser os aspectos positivos e negativos. Desejam que os docentes tenham maior preparo pedagógico, que haja uma integração entre eles para não repetirem conteúdos e não abordarem os conhecimentos de forma fragmentada. No entanto, apontam que os currículos são amplos, abrangentes, desenvolvem o pensamento crítico e preparam para pesquisa.
 
Quanto à ênfase dos currículos, de forma geral, os resultados indicaram que os alunos da Unicamp primeiramente valorizam um currículo com ênfase voltada para a Formação Básica, seguida da ênfase em Formação Geral e que a ênfase na Formação Profissional não seja a exclusiva. Assim, podemos compreender que o currículo ideal para os discentes não terá como preocupação prioritária o desenvolvimento técnico e profissional, nem o treinamento de habilidades técnicas ou uma formação pragmática sem a consideração dos aspectos sociais e éticos. Do mesmo modo, as disciplinas não serão as que contêm maiores valores utilitaristas ou apenas o desenvolvimento do conhecimento específico, o que chama a atenção, uma vez que essa preocupação com conhecimento específico está presente no currículo da maioria dos cursos de graduação das instituições brasileiras.
 
Os resultados demonstraram ainda que apesar de os estudantes estarem satisfeitos com os atuais currículos, não significa que não o queiram melhorar. Esses resultados proporcionam novos olhares para a possibilidade de se efetivar mudanças na tradicional política de ênfase profissional da estrutura dos currículos dos cursos no Brasil e apontam para que se pense em estruturas com ênfase em formação básica e geral para sustentar a formação profissional.
 
 
 
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[1] O currículo experienciado se refere aos sentidos e valores que os estudantes atribuem às experiências de aprendizagem vivenciadas.
 
[2] Estamos utilizando o termo "mundo do trabalho" e não "mercado de trabalho", por ter o primeiro um sentido mais amplo que o segundo.
 
[3] É um método não-paramétrico usado para a comparação de mais de duas amostras que são independentes ou não relacionadas. Vide: VIRGILLITO, Salvatore Benito. Estatística Aplicada. 3ª Ed. Editora Edicon, 2006.