20/01/2014

Portal da Unicamp

Artigo de Tessler e Pissolato descreve experiência da Unicamp com duplo diploma

Após dez anos de duplos diplomas, a ideia de acreditação plena das atividades da instituição parceira está sendo aceita. O duplo diploma está causando um benefício indireto, ao trazer um design curricular moderno ao Brasil

Carlos Orsi, Portal Unicamp
A participação em programas de duplo diploma, em que estudantes fazem parte de seus cursos em instituições de fora do Brasil e recebem um diploma de cada universidade envolvida, fez da Unicamp uma universidade melhor, escrevem os professores Leandro Tessler, do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) e José Pissolato Filho, da Faculdade de Engenharia Elétrica e da Computação (FEEC), em artigo para o livro Global Perspectives on International Joint and Double Degree Programs, publicação conjunta do Institute of International Education (IIE) dos EUA e da agência alemã de intercâmbio acadêmico, DAAD, que será lançado internacionalmente nesta terça-feira, 21.
 
O artigo descreve a implantação dos primeiros programas do tipo na Unicamp, a partir de 2002 e após vários anos de negociação com instituições estrangeiras – inicialmente, cursos franceses de engenharia, das Ecoles Centrales – e, também nas instâncias internas da Unicamp.
 
“A Unicamp esteve no primeiro grupo de universidades brasileiras a estabelecer duplo diploma. Foi uma briga meio inglória. Era membro da comissão central de graduação, e eu mesmo tinha alguma restrição à instituição do duplo diploma”, diz Tessler. “Eu mesmo era um crítico, com medo de brain drain. Tinha algum receio. Hoje sei que estava errado.” Pissolato foi um defensor dos programas conjuntos desde o início.
 
No artigo, os autores comentam que “no início, os programas de Duplo Diploma sofreram forte oposição de setores nacionalistas no Brasil, que viam os Duplos Diplomas como parte de uma agenda oculta para recrutar os melhores engenheiros ou para permitir que engenheiros franceses trabalhassem no Brasil”. Além da Unicamp, fizeram parte do primeiro grupo de instituições brasileiras a estabelecer Duplos Diplomas com as Ecoles Centrales francesas USP, UFRJ, UFRGS, UFC e PUC-RJ.
 
De 2002 para cá, o programa na Unicamp se expandiu. Hoje contempla, na graduação, não só engenharias, mas também ciências básicas da área de exatas – física, matemática e química – envolvendo outra instituição francesa, a Paristech, e há parcerias em andamento com Itália e Alemanha. Em 2012, foi estabelecido um programa de duplo doutorado em História com uma instituição dos Estados Unidos, a Universidade Rice.
 
“O Ciência Sem Fronteiras, da forma como está feito, para graduação, não envolve cooperação entre instituições. Você paga para alguém prestar um serviço: põe o aluno lá, paga a anuidade, eles ensinam durante um ano e mandam de volta. É isso”, diz Tessler “A Unicamp não tem uma posição institucional a respeito do duplo diploma”, disse Tessler. “Então, cada projeto é tratado separadamente, pela unidade”.
No caso das engenharias, a área com experiência mais longa, um benefício apontado pelos autores do artigo para a universidade é a possibilidade de enxergar o contraste entre o currículo dos cursos no Brasil e no exterior. “Institucionalmente, o duplo diploma tem potencial para melhorar muito o currículo, a formação interna. Porque você se depara com o currículo dos bons lugares do mundo, e se pergunta: será que o nosso não deveria ser parecido com os deles?”, exemplifica Tessler.
 
Já o duplo diploma envolve colaboração efetiva entre as instituições envolvidas: “Como as duas instituições são responsáveis pela formação, é diferente de mandar o estudante só para passar o ano. Ele vai ganhar um certificado da instituição estrangeira. Então, ela é corresponsável pela formação” No artigo, os professores notam que “no nível da graduação, ainda há muito trabalho a fazer em relação à compatibilidade curricular. Como na maioria das instituições brasileiras, o currículo da Unicamp ainda não é flexível o bastante, mas após dez anos de duplos diplomas, a ideia de acreditação plena das atividades da instituição parceira está sendo aceita. Nesse sentido, o duplo diploma está causando um benefício indireto, ao trazer um design curricular moderno ao Brasil”.
 
Experiência internacional
“Hoje em dia, a experiência internacional é importante. O estudante que vai para lá, e fica um ano ou dois e recebe o duplo diploma, tem uma experiência que é importante. Se metade dos nossos alunos fossem para fora e tivessem uma experiência internacional, a gente ganharia muito, estaria dentro de uma estratégia de internacionalização”, diz Pissolato.
 
"O CsF não vai durar o resto da vida. Eu acho que a tendência dele é ficar menor e chegar no duplo diploma" Os autores distinguem o processo do duplo diploma das bolsas que vêm sendo concedidas pelo Programa Ciência Sem Fronteiras (CsF) do governo federal.“O Ciência Sem Fronteiras, da forma como está feito, para graduação, não envolve uma cooperação entre as instituições. Você está pagando para alguém prestar um serviço: põe o aluno lá, paga a anuidade dele, eles ensinam durante um ano e mandam ele de volta. É isso”, diz Tessler. Já o duplo diploma envolve uma colaboração efetiva entre as instituições envolvidas: “Como as duas instituições são responsáveis pela formação, é diferente de mandar o estudante só para passar o ano. Ele vai ganhar um certificado da instituição estrangeira. Então, ela é corresponsável pela formação”.
 
Tessler reconhece que seria inviável a execução de um programa de duplos diplomas na escala em que está sendo conduzido o CsF, com a previsão de 100 mil bolsas. Pissolato, por sua vez, lembra que os programas de duplo diploma envolvem uma seleção rigorosa de estudantes, com testes e entrevistas. Ele acredita que o CsF, de acesso mais fácil, está minando a demanda pelos programas de duplo diploma. “Alguns alunos estão achando que os dois anos lá fora, do duplo diploma, é muito tempo, dá muito trabalho – estamos perdendo para o CSF”, diz. “Agora, o CsF não vai durar o resto da vida. Eu acho que a tendência dele é ficar menor e chegar no duplo diploma.”
 
A Unicamp já enviou mais de 230 alunos para programas de duplo diploma, e recebeu 30. No artigo, os autores atribuem o descompasso à pouca procura de estudantes estrangeiros de engenharia pelo país e ao fato de os cursos serem ensinados exclusivamente em português Até o momento, a Unicamp já enviou mais de 230 alunos para programas de duplo diploma, mas recebeu apenas 30. No artigo, os autores atribuem o descompasso à pouca procura de estudantes estrangeiros de engenharia pelo país – “a maioria dos estudantes europeus ainda vê o Brasil como um lugar exótico a visitar, não como um lugar onde terão uma ótima formação em engenharia”, escrevem – e ao fato de os cursos serem ensinados exclusivamente em português. O artigo lembra que algumas matérias da engenharia passariam a ser lecionadas em inglês a partir de agosto do ano passado.
 
Tessler considera importante o convite para participar da coletânea internacional de artigos – o texto sobre a experiência da Unicamp é o único a tratar de América Latina no livro. “É o reconhecimento da Unicamp como uma instituição importante em duplo diploma”, diz Tessler. “Dentro do contexto de internacionalização do ensino superior, o duplo diploma, aparentemente, é uma das formas mais efetivas de avançar.”
 
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