25/11/2014

International Higher Education | 76

Reino Unido freia imigração e prejudica internacionalização estudantil

Pesquisas de opinião revelam que há mais preocupação pública com pedidos de asilo e imigração ilegal do que com alunos estrangeiros, mas barrar estudantes não oriundos da União Europeia é um atalho para o governo reduzir a imigração.

Simon Marginson
Marginson é professor de Ensino Superior no Instituto de Educação, Universidade de Londres, Reino Unido. E-mail: S.Marginson@ioe.ac.uk
 
O Reino Unido tem sido por muitos anos um forte atrativo para estudantes estrangeiros. Seu setor de ensino superior, com suas faculdades locais e com as veneráveis universidade globais, tornaram-se tão dependentes do corpo discente internacional quanto as instituições australianas.  
 
Em 2011–2012, a Universidade de Manchester matriculou 8.875 estudantes não oriundos da União Europeia: são os alunos estrangeiros, em sua maioria provenientes da Ásia, que pagam elevadas tarifas escolares, gerando uma receita adicional para as instituições. (Estudantes da UE pagam tarifas escolares dos países de origem). A University College Londonmatriculou 7.565 estudantes não provenientes da UE, Edimburgo 6.045, e até mesmo Oxford 4.685. No Reino Unido, 81 instituições tiram mais de 10% de receitas dessa fonte. O setor de exportação gera aproximadamente £ 20 bilhões por ano em taxas e outros gastos.
 
O governo de David Cameron prometeu realizar um referendo sobre a adesão à UE e o corte de imigrantes de 213 mil em 2013 para menos de 100 mil. Os estudantes internacionais representam 40% dos números de imigração. Uma tendência minguante
Contudo, após um longo período de crescimento, o número total de estudantes em período integral da UE e de países terceiros caiu em 1,4% em 2012–2013. Em programas de pós graduação – tais como mestrado em administração, de um ano, que tem conteúdo reduzido e proporciona grande lucratividade — o número de participantes da UE caiu 8%, e o de países terceiros caiu 1%.
 
A diminuição no número de estudantes da UE se deu por conta do regime de taxa de £ 9 mil. Assim, é a tendência de taxas elevadas cobradas dos de estudantes não oriundos da UE que está gerando a maior parte das oscilações. O número de estudantes da Índia, Paquistão e Bangladesh caiu abruptamente, embora parcialmente compensado por aumentos da China e de Hong Kong. O declínio que ocorreu no número de estudantes que entram no Reino Unido provenientes do subcontinente contrasta com a movimentação de alunos indianos: recuperação parcial na Austrália e aumentos importantes de ingressantes nos Estados Unidos.
 
As autoridades no Reino Unido têm endurecido com relação a faculdades duvidosas e a fraudes de imigração no subcontinente, mas esta não é a única causa da recessão nos números.  
 
Vistos e custos
Os custos de vistos para o Reino Unido (US$ 520) são elevados quando comparados a 360 nos Estados Unidos e apenas 124 no Canadá. Estudantes não oriundos da UE estão sujeitos a entrevistas individuais com a finalidade de estabelecer a “integridade do estudante”. Os professores devem apresentar relatórios sobre os não provenientes da UE mensalmente.
 
Muitas universidades descrevem o atual regime de visto como indesejável, discriminatório, moroso e invasivo. As universidades no Reino Unido calculam o custo total da conformidade institucional em £ 70 milhões por ano. 
 
Pior ainda, em 2012 os vistos de trabalho de pós estudos – que permitiam aos graduados trabalharem por dois anos para cobrir suas despesas com educação após o término dos cursos – foram cancelados. Se quiser permanecer e trabalhar no Reino Unido, o graduado agora deve encontrar, no máximo em quatro meses, um emprego que pague no mínimo £ 20.600 por ano. Quando isso é comparado a vistos de pós-estudos de dois a quatro anos na Austrália, e três anos no Canadá, surgem então fortes concorrentes para o Reino Unido.
 
Em resumo, o ensino internacional no Reino Unido está sendo minado por um conjunto consistente de medidas políticas que tem como objetivo diminuir a mobilidade interna dos estudantes e retardar o processo que transforma o aluno em imigrante. O único objetivo é reduzir a imigração. O governo está assustado face a resistência à imigração no eleitorado.
 
Política e Imigração
O debate cru e caótico do Reino Unido sobre imigração não mostra sinais de chegar ao fim. É como a reação anti-imigração de 2010 na Austrália, que também desencadeou o estrangulamento nos vistos de alunos internacionais. Porém o sentimento anti-imigrante no Reino Unido é mais prolongado.
 
O agente da mudança é o Partido da Independência do Reino Unido de Nigel Farage, agora com entre 10% e 20% de apoio nas pesquisas. Farage é um comunicador popular que reclama do som de línguas estrangeiras nas ruas e se lança para a “classe trabalhadora branca do sexo masculino”, que se diz excluída do mercado de trabalho pelos imigrantes do leste europeu e negligenciada por Westminster.
 
A posição do Partido da Independência do Reino Unido está se firmando na caminhada rumo as eleições nacionais de 2015. Os principais partidos estão na defensiva tanto com relação a adesão à UE como com a imigração.  
 
O governo de David Cameron prometeu realizar um referendo sobre a adesão à UE e o corte de imigrantes de 213 mil em 2013 para menos de 100 mil. Os estudantes internacionais representam 40% dos números de imigração.
 
As pesquisas revelam que há mais preocupação pública com requerentes de pedido de asilo e imigrantes ilegais que com os estudantes internacionais, mas barrar estudantes não oriundos da UE é o caminho mais rápido para reduzir a imigração. 
 
Há uma grande preocupação com relação aos efeitos sobre as receitas de exportação, a viabilidade financeira das universidades e o fluxo interno de talentos globais—por exemplo nos campos da ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Em relatório sombrio no inicio do mês sobre as tendências dos números de estudantes internacionais, o Higher Education Funding Council (HEFCE) da Inglaterra concluiu: “A revente desaceleração aponta para os crescentes desafios de recrutamento, após longo período de crescimento. Com a educação cada vez mais globalizada, a concorrência de um leque ainda mais amplo de países só tende a aumentar .”
 
O HEFCE afirma que a possibilidade do surgimento de “um ambiente favorável para colaboração com diversos países nas áreas de pesquisa, ensino e troca de conhecimento determinará se o ensino superior na Inglaterra continuará como um parceiro global”.
 
Em outras palavras, abram-se as portas novamente, ou haverá danos permanentes. Contudo, o Partido Independência do Reino Unido é a onda política da vez. No cenário atual, a melhor opção é remover os estudantes internacionais do alvo da peneira da imigração. Nada menos que sete seletos comitês da Câmara dos Comuns e da Câmara dos Lordes foram agora solicitados a decidir sobre essa questão.