05/08/2014

International Higher Education

Políticas de imigração do Canadá para atrair estudantes internacionais

Anita Gopal
Pesquisadora no Queen's University em Kingston, Ontário, Canadá. E-mail: anita.gopal@gmail.com
Universidades de todo o mundo se envolvem em uma intensa disputa para competir na economia do conhecimento devido à globalização. Esta situação tem servido como um catalisador para o Canadá se engajar em estratégias de imigração e iniciativas destinadas a atrair e recrutar estudantes internacionais. Há uma necessidade urgente de indivíduos altamente qualificados, dada a existência de uma preocupação de que, uma vez aposentada a geração pós-guerra, haverá grave escassez de mão-de-obra, com implicações negativas para o crescimento do Canadá e a construção da nação. Atrair e reter estudantes internacionais é uma maneira de impulsionar a economia do Canadá, bem como promover um panorama internacional acolhedor. De acordo com a Citizenship and Immigration Canada, a prioridade do governo é buscar indivíduos altamente qualificados (por exemplo, Índia, China) com probabilidade de sucesso no Canadá e promover o crescimento econômico, a prosperidade em longo prazo e a competitividade global. Os estrangeiros que buscam seus estudos no Canadá são uma população ideal, pois já foram integrados na sociedade canadense.
 
Reconhecendo que os estudantes internacionais são vitais para o crescimento do Canadá, a Citizenship and Immigration Canada tem a intenção de transformar seu sistema de imigração no mais rápido, mais flexível e adaptado às necessidades dos alunos – um importante fator de diferenciação de outros países. Portanto, novas políticas e programas de imigração foram especificamente criados para tornar mais fácil para os estudantes internacionais estudar, trabalhar e se tornarem residentes permanentes no Canadá, especialmente para alunos de pós-graduação. Por exemplo, os estudantes estrangeiros têm permissão para trabalhar dentro e fora do campus sem uma autorização de trabalho por um máximo de 20 horas por semana. Também podem se candidatar a uma Autorização de Trabalho de Pós-Graduação, uma autorização de trabalho aberto de três anos, o que permite que trabalhem para qualquer empregador canadense em qualquer setor. Os estudantes internacionais de pós-graduação podem se inscrever para o Programa Provincial de Nomeação para a residência permanente no Canadá, durante o seu programa de mestrado ou de doutorado após a conclusão do curso.
 
Em 2010 os estudantes estrangeiros no Canadá gastaram mais de US$ 7,1 bilhões com mensalidades, alojamento e gastos gerais. Mais de US$ 6,4 bilhões dessa receita foram gerados pelos 218.200 estudantes internacionais com longa permanência no Canadá. As universidades canadenses também estão interessadas ​​em ganhar a sua "quota de mercado" dos melhores e mais brilhantes estudantes internacionais em ciência e tecnologia e adquirir uma vantagem competitiva sobre países como Estados Unidos e Reino Unido, que são os principais destinos para estudantes internacionais. Além disso, os estudantes internacionais geram uma quantidade substancial de receita para o Canadá. De acordo com relatório realizado do Departamento de Relações Exteriores e Comércio Internacional, em 2010 os estudantes internacionais no Canadá gastaram mais de US$ 7,1 bilhões com mensalidades, alojamento e gastos gerais (mais de US$ 6 bilhões em 2008). Mais de US$ 6,4 bilhões dessa receita foram gerados pelos 218.200 estudantes internacionais com longa permanência no Canadá. O relatório também indicou que a receita representada pelos gastos dos estudantes internacionais no Canadá é maior do que o valor da exportação canadense de alumínio em forma bruta (US$ 5,5 bilhões), ou de helicópteros, aviões e naves espaciais (US$ 6,4 bilhões).
 
A receita representada pelos gastos dos alunos internacionais no Canadá é maior do que o valor da exportação canadense de alumínio em forma bruta (US$ 5,5 bilhões), ou de helicópteros, aviões e naves espaciais (US$ 6,4 bilhões). As políticas de imigração nos Estados Unidos
Após os ataques do Onze de Setembro, a política de portas abertas tradicional dos Estados Unidos para estudantes internacionais foi reduzida. As políticas de imigração se tornaram mais rigorosas devido à repressão na fronteira e a rígidas exigências de visto. Conforme descrito no relatório Tendências Internacionais da Mobilidade de Estudantes, de 2013, os Estados Unidos têm sido lentos para rever suas políticas de imigração e visto. No entanto, continua a ser a melhor escolha de estudo para estrangeiros por causa dos programas de graduação de suas prestigiosas universidades. 
 
Ao contrário de múltiplos caminhos do Canadá para trabalhar e tornar-se residentes permanentes, os estudantes internacionais matriculados em programas acadêmicos nos Estados Unidos detentores de visto F-1 de estudante só podem conseguir experiência de trabalho solicitando o Treinamento Prático Opcional, um programa de trabalho temporário que esteja relacionado à principal área de estudo do aluno. Os estudantes podem se inscrever para esse programa depois de completar um ano acadêmico de seus estudos e podem receber até um total de 12 meses de treinamento prático, antes e/ou depois de completar o seu programa. Os estudantes em áreas como ciência, tecnologia, engenharia e matemática têm direito a uma extensão de 17 meses. Se os alunos forem elegíveis para mudar o seu status de estudante (visto F-1), devem solicitar um visto H-1B (visto de trabalho temporário não imigrante), que permite ao seu titular trabalhar nos Estados Unidos por até seis anos. Entretanto, o aluno deve primeiro ter uma oferta de trabalho e um empregador que esteja disposto a apresentar uma "petição" ou solicitação aos Serviços de Imigração e Naturalização.
 
Alterações no Reino Unido
Políticas governamentais recentes no Reino Unido impuseram restrições mais rigorosas ao visto de estudantes internacionais que afetam os requisitos de entrada, serviços disponíveis para os alunos durante os seus estudos e as opções de trabalho disponíveis depois de completar o curso. De acordo com o relatório Funding Environment for Universities, as reformas na imigração de estudantes ao Reino Unido e para os pedidos de visto entrarão em vigor no ano letivo de 2013/2014. Isso inclui exigências mais rígidas, competência em língua inglesa e aumento da credibilidade das entrevistas de verificação em termos da história de imigração do estudante, experiência de educação e sustento financeiro. O governo também interrompeu o programa de Trabalho Pós-Estudo. Tais alterações tornam mais difícil para estudantes estrangeiros de países não europeus se qualificarem para um visto de trabalho para ficar no Reino Unido após a graduação. Tais políticas não promovem a residência permanente, pós-graduação ou retenção de mão-de-obra, e têm impactado principalmente o recrutamento no exterior de estudantes da Índia, Paquistão e Arábia Saudita.
 
Orientações futuras
Enquanto o Canadá está se concentrando em competir com Estados Unidos e Reino Unido por sua parcela de estudantes internacionais através das suas políticas flexíveis e vias de imigração, as instituições de ensino superior ainda têm de produzir uma estratégia para conseguir uma migração altamente qualificada. As universidades canadenses estão sendo encorajadas pelas políticas federais a duplicar a matrícula de estudantes internacionais de 240 mil em 2011 para 450 mil até 2022. Se o Canadá quiser competir por sua parcela de estudantes internacionais, mecanismos organizacionais devem ser implementados a fim de se preparar para essa mudança no recrutamento. Ao mesmo tempo, as instituições de ensino superior canadenses devem desenvolver programas competitivos e titulações para atender às necessidades da população estudantil alvo e fornecer acesso a recursos institucionais relevantes (por exemplo, professores, financiamento de pesquisa, serviços discentes, recursos para bibliotecas etc.). Caso contrário, como serão produtivas as políticas de imigração, se recursos inadequados estão disponíveis em universidades canadenses para apoiar os alunos internacionais? Até o momento, não há estratégias nacionais oficiais adequadas para preparar e administrar essas mudanças.
 
É claro que o Canadá tem se concentrado principalmente em seu próprio interesse nacional de atrair estudantes internacionais para solucionar a escassez de trabalho qualificado. Como resultado, não prestou muita atenção para o problema da fuga de cérebros e as amplas consequências de atrair estudantes altamente talentosos de países em desenvolvimento para os países ocidentais desenvolvidos. Por exemplo, o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas aponta que a fuga de cérebros fez com que cerca de 100 mil dos melhores e mais brilhantes profissionais indianos se mudassem para a América do Norte a cada ano. Calcula-se que isso representa um prejuízo de US$ 2 bilhões para a Índia. Enquanto o Canadá continua a sugar o capital intelectual de regiões em desenvolvimento, tem negligenciado a reflexão sobre sua responsabilidade moral para com essas nações – como pode estar prejudicando seu crescimento econômico e bem-estar. Enquanto isso, não está claro como os países em desenvolvimento vão se recuperar da perda do seu capital humano.