22/07/2014

International Higher Education

Alemanha fixa metas ambiciosas de envio de estudantes ao exterior

Jan Kercher e Nicole Rohde
Especialistas em mobilidade estudantil internacional no Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), Bonn, Alemanha. E-mail: kercher@daad.de e rohde@daad.de
Em abril de 2013, o governo federal e os governos estaduais da Alemanha adotaram uma estratégia comum para a internacionalização das instituições de ensino superior. Uma meta central definida nessa estratégia – ainda que sem uma data-alvo – é que um a cada dois alunos de pós graduação obtenha experiência de estudos no exterior e que pelo menos um em cada três complete uma visita ao estrangeiro com duração de pelo menos três meses e/ou obtendo no mínimo 15 créditos segundo as normas do European Credit Transfer System.
 
Com este objetivo nacional, a Alemanha excede consideravelmente as metas de mobilidade estabelecidas no nível europeu: a União Europeia e os países comprometidos com o Processo de Bolonha fixaram como meta que até 2020 pelo menos 20% de todos os formandos no Espaço Europeu de Ensino Superior deverão ter concluído estudos – ou realizados visitas com propósito instrucional – no estrangeiro.
 
É essencial estudar no estrangeiro?
Estudar no exterior é considerado muito benéfico para induzir autodesenvolvimento e dotar alunos com as competências interculturais, considerando que vão atuar no contexto de um mercado internacional de trabalho. A experiência fora também ajuda a prepará-los para identificar problemas comuns através das fronteiras, tais como a cura de doenças, a busca de soluções de energia e o combate à fome. Enfim, o aluno poderá se envolver em melhores condições em um mundo do trabalho cada vez mais globalizado. De acordo com Allan E. Goodman, do Instituto de Educação Internacional, "a globalização está aqui para ficar, e os que querem trabalhar em nosso mundo global interconectado devem estudar no exterior".
 
O estudo no exterior significa sair da zona de conforto, e se conduzido corretamente capacita e "empodera" alunos. Esse empowerment significa que os alunos aprendem a assumir a responsabilidade por suas próprias vidas, bem como perante a sociedade. É importante para eles perceberem o seu papel na sociedade, como participar e como dar-lhe novas formas. Portanto, o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) tem promovido a ideia de que experiências internacionais devem tornar-se uma parte essencial em estudos de ensino superior. A mobilidade internacional não só é uma vantagem e um patrimônio para o currículo, mas também uma experiência única e módulo formativo para a própria personalidade.
 
A mobilidade internacional de estudante
Existem dois tipos de mobilidade internacional de estudantes: estadias de curta duração (muitas vezes chamadas de credit mobility) e estadias de longa duração com o objectivo de obter um grau ou título no exterior (degree mobility). Estudos de mobilidade mostram que essa distinção não se resume à terminologia: em alguns aspectos importantes, os dados disponíveis sobre estudantes alemães apresentam diferenças notáveis ​​entre os dois tipos de mobilidade. Por exemplo, enquanto Áustria, Holanda e Suíça estão entre os quatro países de destino mais importantes para os alunos em degree mobility (juntamente com o Reino Unido), não desempenham papel importante quando se considera as visitas relacionadas com o estudo breve no exterior. Países que desempenham um papel importante para os alunos em credit mobility são Reino Unido, Estados Unidos, França e Espanha. Além disso, enquanto os alunos de letras e estudos culturais pertencem ao grupo mais móvel em termos de estadias curtas, por créditos, ficam sub-representados entre os alunos que estudam no exterior para obter um diploma estrangeiro.
 
Mobilidade internacional de estudantes na Alemanha
O número e a proporção de estudantes alemães degree-mobile têm aumentado de forma constante desde o início dos anos 1990. Especificamente, o número de estudantes alemães inscritos no estrangeiro aumentou de cerca de 34 mil em 1991 para cerca de 134 mil em 2011. Curiosamente, o aumento em estudantes da Alemanha em busca de diplomas fora da Alemanha acelerou acentuadamente nos últimos anos. Entre 2005 e 2011, o número de estudantes internacionais móveis da Alemanha subiu de 10,6% por ano, em média. Entre 1991 e 2004, o crescimento médio por ano foi de 5,3%. No entanto, em 2011 a taxa de crescimento foi de apenas 4,6%, em comparação com 10,2% em 2010. Os próximos anos mostrarão se esse declínio nas taxas de crescimento foi apenas temporário ou se é o início de uma tendência de longo prazo de crescimento menor taxas.
 
Os dados sobre a "mobilidade de crédito" dos estudantes alemães, coletados em pesquisas nacionais de pós-graduação, mostram que cerca de 30% dos graduados em instituições de ensino superior alemãs em 2010 passaram temporadas de estudo no exterior, com uma duração mínima de três meses. Em contraste com os números constantemente crescentes de "mobilidade de diploma", a fatia da "mobilidade de crédito" estabilizou nesse nível durante a última década. Significa que enquanto o alvo da Europa (20% de graduados com créditos obtidos fora de seu país de origem, no Espaço Europeu do Ensino Superior, em 2020) já foi alcançado com relação à Alemanha, a meta nacional alemã (50%) ainda não foi alcançada.
 
Finalmente, alguns desenvolvimentos estruturais importantes estão associados ao Processo de Bolonha. Alguns estudantes agora passam um tempo no exterior em um estágio anterior, permanecem por períodos médios um pouco mais curtos, e fazem uso da chamada "mobilidade ponte" (bridge mobility). São períodos entre o bacharelado e o mestrado ou entre o mestrado e o doutorado. Uma iniciativa de mobilidade ponte pode ser concebida, por exemplo, como um programa de troca direta de um ano com uma instituição parceira, em que cada parceiro envia um (ou vários) dos alunos altamente qualificados para a outra instituição.
 
Possível maior promoção na Alemanha
Com seus inúmeros programas, o DAAD está constantemente trabalhando para diminuir os obstáculos para estudantes de mobilidade – sendo os principais empecilhos os problemas de financiamento, as preocupações sobre a perda de tempo de estudo e as dificuldades em conciliar um período no exterior com as exigências acadêmicas do programa de origem. Duas medidas particularmente promissores envolvem o aumento do número de programas com diplomas duplos ou conjuntos (double / joint degrees) e integração das chamadas "janelas de mobilidade" – ou seja, intervalos reservados para a mobilidade. Combinado com um número adequado de bolsas de estudo, tais medidas devem ajudar a Alemanha a reviver o desenvolvimento ascendente das visitas relacionadas a estudo que foram observadas durante a década de 1990.
 
Nota: Juntamente com o Centro Alemão de Pesquisa sobre Ensino Superior e Estudos Científicos (DZHW), o DAAD compila e apresenta dados sobre entrada e saída de fluxo discente, bem como mobilidade internacional de estudantes, no site: wissenschaft-weltoffen.de (em alemão e inglês)